terça-feira, 29 de outubro de 2013

Autobiografia na Música - Língua de Trapo - Capítulo 108 - Por Luiz Domingues


Nos camarins, que eram enormes e labirínticos, encontramos inicialmente o quarteto, "Genghis Khan". Foi hilário conviver algum tempo com eles maquiados e paramentados com aquele figurino histriônico que usavam em cena, a parecer estar paramentados para atuar em um musical da Broadway. A impressão que eu tive, foi de que em qualquer momento, o Yul Brynner apareceria no ambiente, pronto para entrar em cena em : "Ana e o Rei do Sião"... 

O Pituco estabeleceu amizade imediata com eles, principalmente o enorme líder, o argentino Jorge, que no sotaque castellaño por ele pronunciado, revelava-se algo a soar como : "Ror-re"... 

Foram cenas hilárias, com os dois a cantar e divertir-se em coreografias improvisadas, que deixavam os técnicos da TV atônitos. 
Outra figura inesperada, ali presente, foi a Martinha, cantora / compositora da Jovem Guarda. Tímida, porém simpática, foi gentil para conosco na sala de maquiagem. 

Outra, ainda mais incrível, foi Germano Mathias, o grande príncipe da malandragem do samba paulista, da velha guarda. Figura incrível, contou piadas e interagiu com a Laert o tempo todo. Como eu queria ter a facilidade da tecnologia de hoje em dia em mãos e ter filmado e fotografado esses momentos hilários. Sempre gostei dos bastidores de programas de TV. Em todos onde estive presente, sempre diverti-me muito e confesso, tenho saudade. Já faz anos que com a maldita instituição do jabá, ficou difícil participar deles, ao estar a militar no underground da música. A TV só abre caminho para os tubarões do mainstream, e o jabá é o grande culpado dessa injustiça. 

Ainda houve a presença do jogador Biro-Biro, do Corinthians. Não posso deixar em considerá-lo também uma figura folclórica. Na verdade, ele era um "quase" personagem do Chico Anysio, só que em carne e osso... e uma outra atração musical presente, foi a do Ultraje a Rigor. O Maurício e o Leospa foram os amigos mais receptivos da banda e chegamos a conversar rapidamente. Eles lembraram-se de minha pessoa, como baixista da Chave do Sol e ao ir além, lembraram-se de que nós encontráramo-nos algumas vezes em algumas casas noturnas onde costumávamos apresentarmo-nos entre 1982 e 1983, e antes deles ficarem famosos (já contei sobre essa passagem, no capítulo d'A Chave do Sol). 

Diante dessa diversão toda, poderíamos ficar a noite toda naquele camarim, que teria sido super divertido com essas figuras todas, mas o programa começou a ser gravado e o Ultraje a Rigor foi chamado ao palco. Da coxia, vi quando entraram, e o Fausto Silva os entrevistou com a irreverência que caracterizava-lhe, e naquele tempo Pré-Global, ele era muito mais solto, pois não tinha o freio que puseram-lhe depois. Na TV Gazeta, tinha liberdade para comandar uma esbórnia total... quando a conversa encerrou-se, e os rapazes prepararam-se para a dublagem, o sonoplasta, Johnny Black sinalizou da cabine de som, a avisar que não estava por achar o disco. Então, algo inusitado aconteceu, pois descobriram que eles não tinham o disco disponível, tampouco um divulgador da gravadora Warner havia passado no teatro, previamente. Nem o empresário da banda detinha uma cópia em mãos, e os músicos, também não haviam preocupado-se com isso.

Mas, tudo foi levado na brincadeira e a participação do Ultraje ficou sem a dublagem, ao aproveitar a falha como uma gag humorística. Depois chamaram o Biro-Biro, que arrancou gritos pró e contra, como é típico em plateias misturadas e suas paixões clubísticas díspares. A seguir, fomos chamados e após uma hilária entrevista, dublamos "Concheta", e promovemos os shows do Teatro Lira Paulistana. Foi uma noite que eu apreciei muito, sem dúvida e repito, tenho saudade de bastidores de TV.

Continua...

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