terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 20 - Por Luiz Domingues


No quesito da afinação ela era boa. Ela não tinha noção de tonalidade naquela época, mas a sua intuição era muito precisa, portanto assim que dávamos-lhe o acorde certo, ela cantava perfeitamente. Isso é fato, pois apesar de não possuir nenhuma noção teórica, pelo fato de possuir um vozeirão natural, foi uma condição intrínseca para ela ter igualmente um bom ouvido. 

Entretanto, no quesito da inibição, ela se imbuía de uma força extra e às vezes exagerava na dose de seu ímpeto. Ela era um doce de pessoa quando estava fora da ribalta, mas para subir ao palco, sentia um nervosismo incontrolável que a impelia a mudar de postura. E quando se preparava nesse sentido, exagerava um pouco no seu gestual e comunicação com a plateia. Nessa temporada no bar "Devil's", lembro de algumas ocorrências engraçadas desse estilo que ocorreram.

Não sei especificar em qual dia, mas ela tomou um tombo certa vez, após um movimento brusco, e ao cair, brincou com o público por conta disso e a audiência delirou. 

Pelo fato dela ser muito bonita, foram comuns os gracejos masculinos, mas não podíamos evitar essas reações. O Rubens que era o mais intolerante entre nós, esboçava reagir ante tais situações praticamente rotineiras dos nossos shows com ela como a nossa "frontwoman", mas para não estragar as apresentações, continha-se em seu ímpeto protetor. 

Mas a despeito dessas ocorrências que que ela protagonizara por estar entusiasmada em excesso, o fato é que cantava como uma Diva do Soul, Blues & Rock'n' Roll. Se ela houvesse permanecido na banda e nós, por conseguinte termos tido a chance de nos encontrarmos com um produtor de porte em 1983, quando o BR-Rock 80's explodiu definitivamente no patamar mainstream, nós teríamos certamente chegado ao topo, mas é claro, desde que adequássemo-nos ao padrão Pop de FM's. 

Em meu entendimento, a Verônica esmagaria impiedosamente (no bom sentido), cantoras dessa cena que estouraram, tais como: Paula Toller, Virginie e Dulce Quental entre outras, e só encontraria uma rival à altura na Cássia Eller. Por outro lado, estávamos em 1982, e a Cássia só estourou no meio-fim dos anos noventa, portanto, foi uma artista de uma outra geração. 

Isso poderia ter acontecido, pois a sua voz era idêntica à da Tina Turner, Maggie Bell, Etta James... com um pouco de produção, ela teria sido um estouro em larga escala!
Continua... 

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