segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 165 - Por Luiz Domingues

     A tocar com Os Kurandeiros, em 2012. Foto: Lara Pap 
 

A vida havia seguido o seu curso, após o final declarado do Pedra, no início de 2011. Logo nos primeiros meses após a dissolução dessa banda, eu recebi vários convites para fazer parte de novos trabalhos musicais e um novo campo de atividade abriu-se, quando um Blog convidou-me para escrever matérias periodicamente, a fazer com que eu viesse a tornar-me o seu colunista fixo. 

Eu sempre gostei muito de escrever, mas por anos eu obscureci tal tendência e agora, com quase cinquenta e um anos de idade, uma porta abrira-se, e eu finalmente assumiria o que achava que seria, desde os meus oito anos de idade, mas que a música tratara de desviar na minha adolescência. Sim, eu sou um escritor, também, e a partir de 2011, antes tarde do que nunca, dei vazão a esse aspecto da minha criação. Daí vieram convites da parte de outros Blogs, a motivar a criação dos meus blogs próprios e participação em revistas impressas, também.

Comecei a escrever esta autobiografia a partir de junho de 2011, uma outra ação aliás, da qual era cobrado por amigos e fãs de trabalhos realizados anteriormente. Essa parte, a falar do hiato entre o fim do Pedra e o início da minha participação com a banda, Kim Kehl & Os Kurandeiros, está contada mais detalhadamente nos capítulos iniciais dessa banda, em que eu iniciei a minha participação em agosto de 2011.
Eu (Luiz Domingues) a tocar com Kim Kehl & Os Kurandeiros em 2011, no Espaço Cultural Gambalaia de Santo André-SP. Foto: Natália Eidt
A resumir aqui, quando o mês de maio de 2012 chegou, eu estava a atuar com o grupo de Rock, Kim Kehl & Os Kurandeiros e a acumular o "Nudes", banda de apoio de Ciro Pessoa, esta chamada como: "Nu Descendo a Escada". 
Além de estar entretido como colaborador de mais de seis Blogs, uma revista impressa e com dois Blogs próprios a todo vapor, fora a minha autobiografia que dava os seus passos iniciais para a sua longa construção desta própria narrativa. 
Eu (Luiz Domingues) & Xando Zupo no camarim da casa de espetáculos, Avenida Bar, de São Paulo, em 2007. Foto : Grace Lagôa
Foi quando eu recebi um e-mail da parte do Xando Zupo e com direcionamento em conjunto para Rodrigo e Ivan, com o intuito de convocar uma reunião dos ex-componentes do Pedra para um dia útil, no período da tarde. 
Sem entrar em detalhes, o e-mail dizia ser uma reunião para comunicar um fato a envolver o Pedra e na hora em que o li, já imaginei que tratar-se-ia do compromisso pendente que deixáramos, em relação a um show compartilhado (na verdade, um micro festival), com apoio da Lei Rouanet e que finalmente teria a sua confirmação. 
Portanto, tal reunião provavelmente visava entrar nesse mérito e motivar assim que nós tomássemos providências, a nos mobilizarmos para tal. Não houve por que imaginar uma outra intenção diferente para essa convocação.
Pedra em ação na casa de espetáculos Avenida Bar em agosto de 2007. Foto: Grace Lagôa
Quando eu cheguei ao estúdio Overdrive, após a confraternização com os ex-colegas e dez minutos de conversa sobre reminiscências do nosso passado em comum, o Xando tomou a palavra e falou que nós já havíamos tido a experiência de estarmos a atuar juntos no Pedra e agora de não estarmos mais e dessa forma, nessa balança onde tínhamos as duas faces dessa realidade, ele chegara à conclusão que era melhor estar dentro e baseado nessa expectativa pessoal sua, ele desejaria saber a posição de cada um a respeito, pois gostaria de reativar a banda, principalmente para finalizar o disco engavetado com o fim das atividades em 2011. 
Rodrigo e Ivan mostravam-se bem propensos a aceitarem tal ideia e mais uma vez, assim como já ocorrera por ocasião da decisão que fora tomada pelos três em 2011, para encerrar a banda, a minha impressão nesse instante foi que eles já estavam combinados sobre a "volta" e eu, seria o último a saber. 
Eu (Luiz Domingues), no estúdio da emissora Brasil 2000 FM, em 2006. Foto: Grace Lagôa
O Xando brincou, ao recordar-se que eu fui de fato o único contra o fim do trabalho em 2011 e nessa nova realidade, praticamente o que queriam fazer foi uma confirmação do que eu pregara naquela época, ou seja, não houve necessidade alguma de anunciarmos publicamente o final da banda e ao contrário, se decretássemos um período de férias, acordadas entre nós secretamente, não teria criado nenhum mal-estar para a banda e tampouco para os fãs naquela ocasião. 
Ter parado por um tempo, não teria sido muito diferente de estarmos naquela realidade que ostentávamos, com profunda escassez de oportunidades de shows ao vivo, portanto, a opinião pública mal notaria a diferença entre estar no limbo por opção própria ou por falta de chances. 
Eu (Luiz Domingues) em ação com o Pedra no Sesc Vila Mariana em maio de 2010. Foto: Grace Lagôa
O tempo provou, portanto, que a minha concepção na época do "fim" em 2011, não foi errada. Não quero arvorar-me como “dono da verdade”, tampouco tripudiar dos colegas, mas entre um leque de atitudes que a banda poderia ter tomado naquela altura, creio que anunciar um final oficial, só trouxe-nos prejuízo. 
A ponderar sobre isso, em primeiro lugar a ideia da "volta" não passara pela minha cabeça. Eu não quis acabar em 2011, fiquei chateado, conforme já descrevi, mas absorvi rapidamente a contrariedade, a vida tratou de abrir-me novas possibilidades e... eu estava feliz com as novas portas que haviam sido abertas e eu entrado. 
Portanto, quando eu ouvi o Xando a expressar a sua narrativa e com a total concordância dos demais, tal proposta não soara-me tão espetacular quanto o foi para eles. 
Pedra em show no Teatro X de São Paulo, em 2008. Foto: Grace Lagôa
Não que eu não tivesse apreço e consideração pela história construída com o Pedra, tampouco a relevar a amizade e convívio com eles, como pessoas. 
Ao contrário, o trabalho contém um quilate artístico indiscutível e do qual muito orgulho-me. No entanto, o meu sentimento em maio de 2012, não foi no sentido de ficar eufórico pela possibilidade da banda voltar, por que eu estava a gostar de trabalhar em outras bandas, além de dedicar-me às minhas atividades literárias. 
Dessa forma, a minha primeira reação, foi de estupefação, a contrastar com a quase euforia com a qual eles trataram a hipótese. 
Eu (Luiz Domingues) com o Pedra em 2006, ao vivo no Café Aurora de São Paulo. Foto: Grace Lagôa
Imaginei então que a reunião fosse para tratar de um show pendente, e no entanto, eles queriam tratar sobre uma retomada do trabalho. Então, se houve algo de positivo na minha percepção ali naquele momento, foi a perspectiva de retomar o disco inacabado e o lançá-lo, a eliminar uma pendência que eu achava desagradável pelo desfecho que teve com o final abrupto da banda em 2011. 
Isso foi falado pelos três. Retomar a produção do disco engavetado pela metade, foi a meta número um e por esse aspecto, eu achei justo fazer parte desse esforço, mas daí a considerar uma volta oficial, não foi uma ideia que agradou-me inteiramente. 
Ao ir além, o Xando afirmou que não repetiríamos os erros do passado, e nesse novo momento, com astral renovado, não haveria pressão por resultados, portanto, o elemento negativo que mais contaminara a nossa relação entre 2004 e 2011, certamente que fora a escassez de oportunidades, a gerar uma agenda pífia e que por conseguinte, criou um clima de desgaste psicológico e expresso em rusgas, através de inevitáveis sessões de "DR".  
A viver uma nova fase de sua vida, o Xando havia parado de fumar, ao demonstrar estar a cuidar muito melhor de sua saúde e isso foi ótimo, pois estava a lhe fazer muito bem e claro que eu o apoiei e apreciei muito saber disso. 
Foto promocional do Pedra nas dependências do estúdio Overdrive, em São Paulo, por volta de 2008. Click de Grace Lagôa 
Portanto, não teria por que não acreditar que a ansiedade que a sua personalidade forte gerava anteriormente, estivesse muito apaziguada e nesses termos, o Pedra poderia trabalhar na conclusão desse disco pendente, com tranquilidade, sem pressões e a reviver os bons tempos iniciais da banda, entre 2004 e 2006, quando a convivência interna foi serena, sem tensões. 
Mesmo assim, eu não estava mais com aquela vibração de outrora e dividido, nutri sérias dúvidas sobre essa "volta" dar certo, mesmo que aparentemente fosse só pelo objetivo de se concluir o disco. 
Eu (Luiz Domingues) em ação com o Pedra no Teatro Olido de São Paulo, em 2009. Foto de Fabiano Cruz

A minha estupefação inicial e também ceticismo, contrastara com a alegria dos três em voltar com a banda, e repetiu portanto o padrão da época do final da banda em 2011, só que inverterem-se as expectativas, mas novamente a demarcar que eu viesse a sentir-me isolado, a perder sempre em votações de resoluções, por um placar de três a um.
Foto informal clicada na reunião de maio de 2012, quando combinou-se a volta das atividades do Pedra. Autoria de Grace Lagôa

Continua...

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