terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 169 - Por Luiz Domingues

Fechado e sacramentado, o show do Sesc Consolação foi marcado para o dia 19 de novembro de 2012. 

Sob uma questão de sorte e azar, uma produtora de rádio que eu conhecera na Rede Social Facebook, chamada: Silvana Castro, havia encantado-se com o Pedra, que não conhecera anteriormente, mesmo sendo experiente no meio radiofônico e a ter trabalhado em emissoras como a 97 FM (ela fora produtora do locutor "Jota Erre", uma figura mítica ali naquela emissora e este que também trabalhara na 89 FM) e igualmente na Brasil 2000 FM. 
 
Silvana abordou-me através da rede social Facebook e perguntou se a banda aceitaria conceder uma entrevista para a Rádio CBN... ora, é claro que sim, e isso foi a parte da sorte em questão. O azar, ocorreu ocorreu que a entrevista só pôde ser agendada para depois do show do Sesc Consolação, portanto, não possibilitou ser utilizada como ferramenta de divulgação do show em si... mas eu falo sobre tal entrevista, depois.
Acima, uma foto com, a minha presença, Luiz Domingues, de 1978 e abaixo, uma cartaz outdoor a anunciar um dos shows da temporada de Gilberto Gil na velha unidade do Sesc Vila Nova 
 
A unidade do Sesc Consolação, para quem não conhece São Paulo, é uma das mais antigas dessa instituição e mantém muita história. Tal sede da Rua Dr. Vila Nova, no bairro da Vila Buarque, centro de São Paulo protagonizou shows históricos em suas dependências (quando era chamada como Sesc Anchieta/Teatro Pixinguinha) e nos anos setenta, eu mesmo assistira ali, inúmeros deles, absolutamente incríveis. 
 
Ali assisti artistas como: Zé Ramalho, A Cor do Som, Caetano Veloso, Hermeto Paschoal, Alceu Valença, Bendengó, Papa Poluição, Made in Brazil, Jackson do Pandeiro, Jorge Mautner e outros, entre 1977 e 1979, além ter estado presente a prestigiar o Festival Universitário de MPB de 1979, da TV Cultura, que revelou Arrigo Barnabé, Premeditando o Breque e outros.
 
Portanto, eu estive honrado em apresentar-me em um espaço que mantinha tanta história e que significara muito para a minha formação cultural, nos idos dos anos setenta, quando inebriado pela movimentação contracultural como um todo, tornei-me um aspirante contumaz no sentido de construir uma carreira artística a acompanhar os passos de todos esses artistas que ali assisti e admirava muito.
 
Os tempos mudaram, os shows não ocorriam mais no antigo Teatro Pixinguinha, como naquela década e agora o espaço reservado para tal finalidade musical se tornara quase intimista, a se revelar como um anexo localizado perto da antiga quadra de esportes (local onde eu também eu vi vários shows).
 
Tivemos um problema sério para estacionarmos os nossos carros particulares, pois não deixaram-nos usar o estacionamento da instituição. Com os nossos carros abarrotados com equipamentos e poucas vagas de rua disponíveis para um dia útil, naquela região super povoada de São Paulo, foi um pequeno sufoco para se descarregar o backline da banda e assegurarmos vagas para os respectivos automóveis de nós quatro, componentes.
 
Após esse pequeno cansaço mental, conseguimos finalmente colocar os nossos pertences para dentro da unidade e ali, mediante a clássica burocracia da instituição, até chegarmos ao palco, foi uma sucessão de elevadores, corredores e funcionários sempre a criarem empecilhos para a circulação rápida que necessitávamos. 
Bem, quando o backline finalmente chegou ao local do show, vimos que os técnicos estavam ali a nos esperar para que efetuássemos a nossa montagem pessoal. Equipe terceirizada, fora formada por sujeitos com postura alheia, quase a denotar a falta de foco no trabalho. Não sei determinar por qual motivo, pareciam contrariados por alguma questão interna entre a sua empresa e o Sesc e claro que não teve nada a ver conosco, mas como consequência, eles mal respondiam as nossas perguntas básicas e assim, preocupamo-nos com o desenrolar de um soundcheck tenso e pior ainda, a se constituir de uma operação que pudesse deixar a desejar na hora do show. 
Rodrigo Hid & Xando Zupo em ação com o Pedra no Sesc Consolação. Novembro de 2012. Foto: Fabiano Cruz
 
Mas aos poucos, a tensão entre eles foi a dissipar-se e o Xando que era (é) sempre expansivo com estranhos, pôs-se a minar a resistência soturna desses tipos, a inseri-los em piadas e "causos", com o gelo a derreter, paulatinamente. Não ao passo de tornarem-se nossos "amigos" doravante, mas a estabelecer um clima ameno para garantir um bom andamento no trabalho. 
 
Mesmo assim, o soundcheck foi muito lento e cansativo, por que o técnico estava nitidamente perdido sobre quais medidas tomar para coibir microfonias das mais desagradáveis. Mesmo com o Xando a apresentar uma boa noção sobre o assunto e a dar-lhe dicas técnicas e básicas, o rapaz pareceu estar nervoso e não conseguiu achar soluções para as situações mais complicadas ali apresentadas e com um PA com pequeno porte que ali encontrava-se para ele operar, alguém mais experiente teria resolvido tais pendências, muito rapidamente. 
 
Um funcionário dessa empresa terceirizada confidenciou-nos que o rapaz que operava o som, seria um novato, um ajudante e que aspirava ser técnico, mas estava ainda a fazer aulas de operação de áudio para shows ao vivo, como aprendiz. Por azar nosso, o técnico titular não iria e o novato foi quem esteve designado para cumprir a operação da mesa/mixagem. 
 
A nossa sorte, foi que o nosso técnico, Renato Sprada, que não iria trabalhar conosco naquela noite, apareceu repentinamente para assistir o show e mesmo em cima da hora, com o público já prestes a entrar no local do show, ele fez algumas correções básicas, a inibir alguns apitos insuportáveis e que destruiriam o show.
Luiz Domingues em ação com o Pedra no Sesc Consolação, novembro de 2012. Foto: Fabiano Cruz

Foi um ritual de soundcheck cansativo ao extremo e quando fomos ao camarim, já faltava pouco para o início do espetáculo. Não deu para ter aquele relaxamento adequado de ante show, mas tudo bem. 
 
Quando entramos em cena e a primeira música do show se tratou de "Megalopole" eu havia programado-me para usar o baixo Rickenbacker. 
 
O nosso roadie, Daniel "Kid", era muito experiente e trabalhava comigo e Rodrigo, desde as nossas respectivas passagens pela Patrulha do Espaço. Ele sempre preparava os meus baixos e equipamento, desde 2002. 
 
Contudo, assim que iniciei a tocar o riff em uníssono com as guitarras de Xando e Rodrigo, o meu instrumento estava completamente desafinado. O que havia acontecido? Ele, Daniel, o afinara momentos antes e o ar condicionado do teatro estava ameno, as tarraxas do meu instrumento estavam em perfeitas condições de normalidade, sem nenhuma avaria. 
 
Eu nunca descobri, mas é patente que algum sabotador foi lá e desafinou de propósito. Por vandalismo? "Trollagem?" 
 
Bem, rapidamente eu sinalizei para o Daniel vir auxiliar-me, a estabelecer a troca de instrumentos com a música em curso e no segundo módulo, eu já estava de volta à música a tocar, desta feita a fazer uso do baixo Fender Jazz Bass. 
 
Mais para a metade do show, voltei a usar o Rickenbacker novamente e ele esteve perfeito, portanto, o começo com duas cordas completamente desafinadas fora obra de uma sabotagem misteriosa. Só poderia ser essa a explicação. Por quem? Para que  Eu nunca descobri...
Pedra em ação no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Primeira foto de Fabiano Cruz e as duas posteriores, de Grace Lagôa 
 
O show foi bastante emocionante pela carga de comoção que foi depositada em torno da expectativa do público presente. A lotação máxima foi diminuta naquele micro teatro de bolso, mas além de esgotada, muita gente ficou sem ingresso e quando anunciamos o show, houve uma reação de apoio e regozijo por parte de fãs que se mostraram contentes com a nossa volta à cena artística.
 
Um trecho muito curto mas bastante significativo da música "Estrada", capturado pelo baixista superb, Norton Lagôa, que estava na plateia. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=YvqOyJDRToY
 
"Filme de Terror" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=5pqZq4QAWhE

Muitos fãs antigos da banda estiveram presentes, em estado eufórico. Houve até um instante de improviso e que foi muito bonito da parte do grande, Cezar de Mercês, nosso amigo e parceiro de composição, que a aproveitar um hiato de silêncio do show, levantou-se de seu assento e fez um discurso inflamado a enaltecer a nossa banda. Foi muito inspirador, emocionante e bonito para todos nós, isso eu asseguro.
 
"Longe do Chão" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Filmagem de Kico Stone. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lhYyIUQxvUs
Aqui, a versão na íntegra de "Estrada". Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=ivMlHWRgcLE 
 
"Sou mais Feliz" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=6qxfOwzMAXk
 
"Luz da Nova Canção" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=zim0mjtfEHE
 
"Só" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=TyJvBX-xzXE

As músicas foram sendo executadas com bastante segurança e a banda mostrou estar de volta à velha forma.
 
"Jefferson Messias" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=v4ErQdDf2ik 
 
"Projeções" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=S4v9VyJnq7g

Sobre o set list, este foi bem mesclado com músicas dos dois discos anteriores, mais os singles de 2010 e algumas novas que já estavam a incorporarem-se, caso de: "Luz da Nova Canção" (curiosamente em parceria com o Cezar de Mercês que eu citei acima) e "Os Teus Olhos", uma delicada canção composta pelo Rodrigo. 
 
Um amigo que eu conhecera por ser apoiador d'Os Kurandeiros, chamado: Kico Stone, apareceu e por ser film-maker de primeira linha (eu costumava brincar com ele, a chamá-lo como: "D.A. Pennebacker do Rock Paulistano"), filmou e tornou-se doravante um admirador do Pedra, também, sempre a filmar e postaro trechos dos nossos shows, no seu canal de YouTube.
 
"To Indo a Mil" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=xOIoMeKzCaw
 
"Nossos Dias" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=SZ1I7vF7e2k
"Letras Miúdas" no Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Eis o Link para assistir no YouTube: 
https://www.youtube.com/watch?v=h1mE2NWuf5E

Apesar de ter transcorrido através de um pequeno espaço, esse show foi marcante para a banda e para o público que o assistiu. 
 
Isso deu uma injeção de ânimo para a banda, sem dúvida e aliada a essa apresentação, outras boas novas precipitaram-se como uma cascata até o final do ano, ao dar-nos um grande alívio, já que a velha tensão e o dilema clássico do Pedra sobre tocar em qualquer lugar ou esperar para tocar em lugares com boas condições, apenas, estava a ameaçar-nos novamente.
 
Todos os vídeos acima sugeridos, foram produzidos e editados por Michel Camporeze Téer e Fausto Oliveira (com exceção de vídeos de Kico Stone e Norton Lagôa, destacados no início), estes a se configuraram como fãs e amigos abnegados da banda desde os primórdios do Pedra, ao terem assistido quase todos os shows que fizemos desde 2006, na primeira fase do trabalho. 
 
As câmeras da filmagem, foram feitas por eles, também e com apoio de Nazir Correa, Vera Mendes e Alessandra Oliveira. Sesc Consolação, 19 de novembro de 2011, segunda-feira, e com sessenta pessoas na pequena arquibancada (lotação máxima, acreditem): esse foi o show da "volta" do Pedra.
 
Resenha muito bacana desse show, escrita pelo jornalista Fabiano Cruz em seu Blog, Alquimia Rock Club. Eis o Link abaixo:
 
http://www.alquimiarockclub.com.br/resenhas/3730/
No camarim do Sesc Consolação em 19 de novembro de 2012. Da esquerda para a direita: Eu (Luiz Domingues), Rodrigo Hid, Xando Zupo e Ivan Scartezini. Foto: Grace Lagôa 

No camarim do pós-show, a euforia foi generalizada entre os membros da banda e os fãs que abordaram-nos. Mas eu, particularmente, já não nutria o mesmo sentimento. 
 
Esteve longe da minha intenção ser desagradável e cortar o prazer alheio, mas eu não conseguia sentir o mesmo pela banda, ao manter-me sob uma postura não tão esfuziante, muito mais comedida que a dos demais colegas. Um sintoma emblemático? Creio que sim, lamentavelmente.
                                  Foto: Fabiano Cruz
Continua...

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