sábado, 30 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 179 - Por Luiz Domingues

Passou um enorme tempo sob um absoluto hiato de oportunidades, sem ao menos que houvessem ações midiáticas que desse-nos alento, e assim, é claro que a tensão esteve a intensificar-se, infelizmente. 
Foi quando surgiu enfim uma perspectiva e se tratou de uma nova aparição na casa de shows, Bourbon Street, inseridos que fomos na festa da revista Blues’n Jazz, mais uma vez. 
Ficamos curiosos, pois a apresentação que fizéramos em 2013 fora permeada por problemas, a começar pelas ameaças que tivemos em termos as portas cerradas para nós doravante ali naquela casa, por conta de o seu produtor artístico haver considerado que tocáramos muito alto, além do padrão dos artistas que ali apresentavam-se normalmente, mas pior que isso, ao considerar que pensaram que adotáramos uma postura inadequada no sentido da rebeldia infantojuvenil ao não acatarmos as solicitações que fizeram-nos para abaixar o volume e não foi nada disso, conforme eu já expliquei anteriormente, quando comentei sobre esse show. 
E para piorar as coisas, havíamos sido hostilizados por seguranças e funcionários desse estabelecimento ao final do show, portanto, achávamos que ali não tocaríamos nunca mais. 
Contudo, o dono da revista Blues’n Jazz, Helton, novamente convidou-nos para participarmos de sua festa mensal e supostamente baseada na promoção da sua revista. Aceitamos, pois desta vez ele sinalizou um cachê melhor e diante do quadro difícil que enfrentávamos, a nossa postura não poderia ser outra a não ser aceitarmos. 
Naquela semana em que o show foi marcado, eu teria um compromisso fixo que assumira para todas as quartas, através de uma outra banda em que atuava, denominada: "Magnólia Blues Band", portanto, a rigor, foi a primeira vez em que a minha situação daquele instante por acumular quatro trabalhos simultaneamente, gerou um conflito de agenda, mas que foi contornado, mediante aviso prévio e a providência que os meus colegas adotaram em convidar um baixista como atração da noite em questão, ao atuar como um convidado especial e no caso, a se tratar de um veterano, famoso na história do Rock Brasileiro, no caso, Rodolfo Braga, ex-Joelho de Porco. 
E para agravar, naquela semana em específico, a minha agenda pessoal esteve lotada, pois haveriam shows de todas as outras bandas pelas quais eu atuava naquela ocasião, em dias diferentes e até uma participação especial com uma ex-banda em que atuei no passado. 
Portanto, toquei como convidado especial em duas músicas no show da Patrulha do Espaço, no domingo, no Centro Cultural São Paulo, ensaiei com o Pedra na segunda, ensaiei com o “Nudes” de Ciro Pessoa na terça, toquei com o Pedra no Bourbon Street na quarta, fiz show com o Nudes, na quinta no Teatro Parlapatões e dois shows com Os Kurandeiros em casas noturnas diferentes na sexta e sábado. 
Isso deu a dimensão do quanto o Pedra esteve reduzido na minha vida nessa época e falo dessa forma sem nenhuma intenção de estabelecer qualquer margem que seja para o leitor interpretar como soberba de minha parte, tampouco manifestação de desdém pelo Pedra, em hipótese alguma, que fique bem claro!
Apenas estou a reportar ao leitor, que a vida levara-me a diminuir a importância dessa banda para a minha vida e isso a falar tecnicamente apenas, pois em nada teve a ver com o respeito, orgulho e carinho que eu mantenho pelo trabalho além do respeito, consideração & gratidão por tudo o que essa banda representou e representa na minha carreira. 
Porém, acho que esse episódio de sobreposição de trabalhos, somado ao cansaço em deparar-me com o fato de que as minhas opiniões não eram muito consideradas na condução dos rumos da banda e também pelo clima sempre tenso que a falta de perspectiva rendia-nos, são elementos que explicam com clareza o meu distanciamento gradual dessa banda, infelizmente.
Bem, a falar desse show em si, eu ponderei com os demais que foi a hora para se minimizar gastos e esforço desmesurado, além do que, houvera o clamor da parte do contratante para que tocássemos com menor volume. 
Fiz a minha parte e sabedor que a casa continha um amplificador importado e de qualidade, com gabinete duplo de caixas da mesma marca, comuniquei aos demais que usaria o equipamento local. 
Claro que ao fazer uso do meu amplificador e minhas caixas era sempre maravilhoso por ser exatamente o som que eu estava acostumado, com um timbre sensacional e que realçava o som particular de todos os meus baixos, mas não haveria nenhum prejuízo sonoro à banda se eu utilizasse o bom aparelho disponibilizado pela casa, e assim, o transtorno seria mínimo.
Ninguém falou-me nada diretamente, mas deu para sentir no ar um clima de descontentamento quando eu cheguei ao estúdio Overdrive, só com um baixo em mãos. 
Chegamos ao Bourbon e sem levarmos os nossos técnicos, aceitamos trabalhar com os profissionais da casa. Estes foram solícitos conosco, mas claro que trabalhar com Sprada e Molina haveria de ser um outro departamento. Por outro lado, ficara assegurada para a casa, a condução comedida da pressão sonora no PA no padrão que julgavam adequado. 
Haveria uma banda de abertura, que eu não conhecia e ao vê-los a passar o som, gostei muito. Banda cover, não faziam nada autoral, mas a se mostrar-se muito boa e com bom gosto para interpretar clássicos do Rock, Blues e Soul Music. 
Tal banda chamava-se: “Black Coffee” e os seus componentes eram ótimos músicos e pessoas muito gentis, a se revelarem como batalhadores na música a rodar por aí, como tantos outros músicos bons que permanecem no limbo da história, enquanto alguns energúmenos são alçados ao estrelato indevido, mas aí é uma outra história. 
E haveria uma atração internacional naquela noite, mas que encaixar-se-ia sob uma atuação rápida, como um convidado especial da banda Black Coffee. Tratara-se de uma guitarrista norte-americano chamado: Bryan Lee. Figura razoavelmente conhecida no circuito de blues de New Orleans, Bryan era um guitarrista cego, com boa técnica e já havia vindo ao Brasil muitas vezes para tocar no circuito de blues, principalmente em festivais temáticos, nas unidades do Sesc e por diversas vezes no próprio, Bourbon Street. 
Passado o nosso som, encontrei a figura simpática do casal amigo, Pietro e Claudyana Buccaran. Jantamos juntos ali e dali em diante foi só esperar a noite iniciar-se.
O Black Coffee foi chamado para atuar e nós assistimos pela coxia a sua ótima performance. Que agradável foi por eles terem tocado músicas da super banda, “Sly and the Family Stone”, um grupo que agrada-me sobremaneira desde sempre. 
Então, houve uma imensa confusão iniciou-se no camarim! Vimos funcionários apressados a abrirem alas para a entrada do guitarrista norte-americano Bryan Lee, que acabara de chegar, a usar num táxi. 
Ora, tudo bem que tratava-se de uma pessoa com sérias limitações de saúde, pois não obstante o fato de ser cego, estava idoso e muito debilitado, a fazer uso de um equipamento de respiração artificial, inclusive e a ser amparado por uma enfermeira e uma senhora da sua nacionalidade igualmente, que o acompanhava. 
Mas mesmo ao se levar em conta as suas necessidades especiais em estado de debilidade, fiquei pasmo com a subserviência de todos, só pelo fato do sujeito ser norte-americano. Para piorar a situação, o referido senhor estava agoniado para trocar as cordas da sua guitarra e sem um roadie pessoal, o Xando ofereceu-se para ajudá-lo na tarefa e já com o Black Coffee a tocar a todo vapor, pois a qualquer momento solicitariam a sua presença no palco. 
Alojados em um camarim minúsculo, realmente foi um sufoco atender o senhor e este não parava de pedir guaraná aos funcionários da casa, visto que adorava o nosso refrigerante típico, por tantas vezes que viera ao Brasil. 
Finalmente chamaram-no e um clima de comoção instaurou-se com muita confusão para levá-lo ao palco naquele estado debilitado em que estava, isto é, foi um sufoco. 
Ele tocou, tocou... e na coxia eu fiquei a pensar que sim, era um bom guitarrista, mas eu conhecia pelo menos cerca de trinta guitarristas brasileiros com os quais toquei na minha carreira toda, muito melhores do que ele e portanto, aquela subserviência idiota das pessoas em endeusá-lo, só por que ele era norte-americano, denunciar a tal "síndrome do cachorro vira-lata", preconizada por Nelson Rodrigues... enfim, vida longa e com saúde para Bryan Lee...
Fotos do nosso show no Bourbon Street em junho de 2014 e uma posada na porta do estabelecimento. Clicks de Grace Lagôa

Chegou a nossa vez e o nosso show foi bastante firme, seguro e com foco, a manter uma boa dinâmica. Arrancamos aplausos e novamente havíamos atraído um bom contingente de fãs da nossa banda e que fizeram coro ao final, a pedirem bis.
Um medley do show, gravado e postado por Isidoro Hofacker Jr. no YouTube. 
Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=OOuBvgP8-w0


Desta vez, não houve um só pedido para abaixarmos o volume no palco e ao final, nós fomos cumprimentados pelo Pietro, meu amigo e gerente geral da casa, pelo volume empreendido e ele disse-nos que o diretor artístico havia gostado desta vez e que as portas abrir-se-iam para outras oportunidades. Ótimo, que bom. 
Aconteceu na noite de 4 de junho de 2014, com cerca de duzentas pessoas na plateia. Próxima oportunidade, só em agosto, com uma nova apresentação no Centro Cultural São Paulo, a convite do pessoal da banda Tomada e a compartilhar o palco com eles. Em agosto, tivemos enfim duas perspectivas agendadas para o mesmo mês, uma raridade para o Pedra, infelizmente.
Continua...

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