sábado, 16 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 136 - Por Luiz Domingues

O próximo compromisso foi marcado para março de 2009 e para uma casa de espetáculos rústica em Santo André-SP, no ABC Paulista. Tratava-se do: "Central Rock Bar", uma casa sob orientação Rocker, que abria as suas portas para bandas autorais e só por esses dois fatores, já foi para ser comemorado na cena Rocker agonizante do underground daquele fim de primeira década de novo século/milênio, tamanha foi a sensação de estrangulamento que todos, não apenas o Pedra, sentimos de uma forma crescente e sob muito preocupante progressão.

O lado desagradável foi se tratar de uma casa simples, sem uma infraestrutura razoável que fosse em termos de equipamento de som & iluminação e portanto, mesmo ao levarmos o backline da banda, a sonoridade para o público não seria das melhores com um PA insuficiente e de má qualidade. 

E o sistema de iluminação também era extremamente deficiente, portanto, desanimava saber que tocaríamos quase no "escuro". Por outro lado, o Pedra detinha um histórico de dificuldades para agendar shows e sempre que tal escassez de oportunidades começava a deteriorar o clima interno da banda, e por conseguinte a semear discórdias, chegávamos à conclusão de que deveríamos deixar de lado as preocupações mais técnicas de só fazermos shows em casas com condições melhores de infraestrutura e abraçarmos a estratégia de bandas coirmãs nossas, como o "Tomada", "Carro Bomba", "Baranga" e "Cracker Blues", para ficarmos nas mais próximas de nós pelas relações de amizade, que tinham a sua política de atuarem em qualquer lugar que abrissem-lhes as portas, sem preocuparem-se com infraestrutura, ou seja a adaptarem-se às dificuldades. 

É bem verdade que essas bandas que eu citei continham espectro musical a transitar entre o Blues-Rock, Rock tradicional e o Heavy-Metal, portanto, as suas necessidades para soarem bem eram muito mais simples dois que as nossas, devido à nossa característica de produzirmos uma música com muito maior número de sutilezas nas composições e arranjos e sobretudo pela pretensão de conter nas letras um carro forte e daí, ser necessário haver qualidade sonora para o público ter a devida inteligibilidade nesse aspecto de nosso trabalho.

Então, quando ficávamos acuados, sem perspectivas para atuarmos como achávamos que deveria ser, imbuíamo-nos de um senso coletivo de boa vontade para enfrentarmos shows em locais inadequados, caso do Central Rock Bar. E nesse caso, teríamos a companhia de duas bandas boa, uma já amiga de longa data e cuja minha ligação pessoal remontava ao fato de ter sido professor de baixo de seu baixista, falo de Marcelo "Pepe" Bueno e o seu "Tomada".

E a outra, com quem tocaríamos pela primeira vez, mas já conhecíamos pelo trabalho, foi o "Massahara". O pessoal do Massahara era extremamente simpático e o seu trabalho era 100% calcado no som retrô dos anos setenta, a lembrar muito o trabalho que eu Rodrigo fizéramos com a Patrulha do Espaço e mais remotamente no Sidharta. 

Era mais pesado que o dom d'A Estação da Luz, mas igualmente fechado na ideia de recriar não só musicalmente, mas no visual de seus componentes, a atmosfera do Rock setentista, portanto, para o meu gosto pessoal foi um prazer tocar com eles. Claro que fiquei amigos dos seus componentes, aliás até hoje e certamente para sempre.

Houve um bom esforço de cooperação entre as bandas para a divulgação e apoio logístico no palco, com equipamento compartilhado. 

Outro fator sob demérito do "Central" nessa época, foi o fato de ser um salão de médio porte para abrigar o público, mas o palco disponibilizado era muito pequeno, portanto tal incômodo a mais limitava qualquer banda que ali apresentasse-se. 

Anos depois a casa passou por uma boa reforma, comprou melhores equipamentos de som e iluminação, é bem verdade, e eu chegaria a tocar ali com outra banda, no caso com Kim Kehl & Os Kurandeiros em 2012, mas isso é história contada no capítulo adequado dessa outra banda. 

No dia do show, o Massahara tocou primeiro e mostrou o seu som bem calcado no Hard-Rock setentista de bandas como "Budgie", "Pink Fairies", "Sir Lord Baltimore" e "Toad", para não estender demais essa lista, e ele tinham também influências de Rock Progressivo, a soarem em alguns momentos como os Mutantes da fase do LP  "Tudo Foi Feito Pelo Sol", o que foi bem agradável aos meus ouvidos sequiosos por Rock dessa estirpe.

Uma foto obtida na Internet, com a ambientação Rocker, porém rústica do "Central Rock Bar", de Santo André-SP, nos anos 2000
 
O Tomada ocupou o palco a seguir e fez o seu show sempre com alto astral, e com a qualidade que lhe era peculiar. Contudo, tanto o Massahara quanto o Tomada estavam a serem bastante prejudicados pelo som ruim do PA da casa. Mesmo ao usarem um backline de qualidade, o que ouvíamos f oi uma quase maçaroca sonora e isso foi péssimo para as duas bandas e claro que seria para nós, também.

Portanto, antes mesmo de subirmos ao palco, o nosso ânimo já estava prejudicado, pois sabíamos de antemão, que mesmo que observássemos uma postura de estabelecermos um padrão de dinâmica exemplar, o som não seria dos melhores para o público. 

E não deu outra, o nosso show foi marcado pela preocupação em coibir exageros sonoros na parte instrumental para dar a melhor condição possível às vozes. Acho que tal determinação fez com que tivéssemos tido uma inteligibilidade melhor que as demais bandas nesse quesito, pois esforçamo-nos muito, mas mesmo assim, receio não ter sido o suficiente para coibir totalmente a maçaroca do pequeno e ruim PA da casa. 

A despeito disso, lembro-me que tivemos muitos momentos de intenso balanço sonoro muito inspirado, em improvisos "funkeados" a la anos setenta, que fizemos e isso foi bem agradável a arrancar aplausos de quem ligou-se nesse lampejo de criatividade extra. Demos o nosso máximo e acredito que pela performance musical bem inspirada, saímos razoavelmente felizes do palco, por isso.

Porém, no cômputo geral, a conclusão que tivemos nos dias posteriores, foi de que shows assim, em locais sem melhor estrutura, não valiam a pena serem empreendidos pois pouco agregavam em termos de público e mídia e pior, estressavam-nos pela frustração de nos obrigar a lidarmos com as condições de palco inóspitas e pior ainda, não deixavam uma boa impressão ao público, principalmente pelo quesito da melhor compreensão "letras", praticamente impossíveis de serem entendidas através de um equipamento deficitário assim. 

Aconteceu no dia 7 de março de 2009, com cerca de cem pessoas presentes. Não tenho fotos e vídeos desse show, infelizmente.

Continua... 

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