quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 34 - Por Luiz Domingues

Quando recebemos a notícia que o Ciro negociava com o Teatro Parlapatões, para a realização do nosso show ali, ficamos contentes, é claro.  Primeiro pela sequência de shows mais ou menos próximos, visto que havíamos nos apresentado em abril na unidade do Sesc Piracicaba, e dessa forma, ter uma perspectiva de continuidade fora tudo o que queríamos. 

Segundo, pelo fato de que tocar em um teatro novamente, como ocorrera em Piracicaba-SP, seria o ambiente ideal para o show performático e pleno de textos que estávamos a fazer, além de que, em uma casa noturna não havia uma ambientação adequada para um tipo de espetáculo tão intenso, nessas características. Portanto, apreciamos muito saber que haveria essa oportunidade.

Mas dependia, outrossim, de uma verificação prévia, em termos técnicos, pois não obstante ser um teatro bonito, tradicional e super bem localizado, era na verdade um teatro focado nas apresentações teatrais e não tinha quase ou nenhuma, tradição com shows musicais.
O que acontecia ali em termos musicais, costumavam ser produções simples, intimistas mesmo e não um show de Rock com a sua eletricidade e volúpia, portanto, com as suas necessidades técnicas inerentes, e que são muitas na prática.

Marcamos então uma inspeção para um dia útil de maio, e nos encontramos ali no teatro para tal verificação prévia. De fato, o pequeno PA oferecido estava adaptado para oferecer um tímido apoio de sonoplastia para peças teatrais, e jamais suportar a carga de um show de Rock, como se deve.
Fora isso, notamos que se levássemos um backline pesado, ficaria impossível tocar, pois massacraríamos o pequenino PA, a afastar completamente a chance das vozes serem ouvidas, portanto, em meio a um tipo de espetáculo que estávamos a fazer, onde o Ciro declamava longos poemas com a banda a fazer climas sonoros aleatórios, portanto, isso aniquilaria o espetáculo.

Alugar um PA como reforço, além de ser fora de cogitação pela questão monetária, seria impossível também ali pelas características do teatro, o que tornaria o show ensurdecedor e acarretaria problemas com a vizinhança, fora torturar o nosso próprio público.
Então, o que nos restara ali, ao analisarmos tecnicamente a situação foram duas hipóteses:

1) Cancelar a apresentação.

2) Tocar com uma amplificação reduzida e a estabelecer uma dinâmica muito disciplinada para usar o parco PA do Teatro e sem microfonar a bateria e os amplificadores, evidentemente.

Optamos então em manter a data marcada e fazer essa verdadeira loucura, sob o ponto de vista técnico...

Divulgação já encaminhada para alcançar a rua, nos animamos em ter o show confirmado, mas sabíamos de antemão que seria um exercício de resiliência sonora e performática

Como loucura pouca é bobagem, houve um outro empecilho, desta feita perpetrado pela administração do teatro: eles haviam marcado uma outra apresentação musical para o mesmo dia, e assim, na sua ingenuidade de não saber lidar com o universo musical, achavam que uma apresentação marcada para as 21:00 horas, com o nosso show para as 23:00 horas, tal fator não atrapalhar-nos-ia. 

É o tal negócio: apesar de lidarem com produção artística, o mundo teatral tem outras características, pois música demanda outras necessidades prévias, por exemplo o soundcheck, que demora um bom tempo para ser acertado, antes do artista subir ao palco e dar início em um show. A alegar ser uma dupla intimista a trabalhar com o conceito da voz & violão, não incomodar-nos-ia que se apresentassem antes, desde que fizéssemos um soundcheck no período da tarde, para deixar o nosso set up arrumado previamente.

Mas o pessoal do Teatro não entendia isso, e achavam que se chegássemos com o show dessa dupla em andamento, com parcos vinte minutos ou até menos, seria o suficiente para deixarmos o nosso palco preparado para nós. Enfim, se tratou do tipo de pessoas que acham que um show depende de se ligar um plug na tomada apenas, como se aciona um eletrodoméstico na cozinha de casa.

Argumentamos que o mínimo que queríamos por necessidade, seria podermos chegar mais cedo, antes do show desses artistas e arrumar o nosso palco. Já que se tratava de um duo com voz & violão, não os atrapalharia em nada que a nossa bateria, amplificadores, guitarra e baixo ficassem no palco, preparados, com soundcheck realizado previamente e set up pronto para nós, mediante ajustes simples, para que o duo deles tocasse antes.

Convencidos, os mandatários do programa, nos deixaram fazer isso, ufa!  Mas no dia do show, eu fui o primeiro a chegar no Teatro e tive uma boa nova: o show do duo fora cancelado, e nós poderíamos ter o palco só para nós. Melhor ainda, portanto!

Continua...

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