quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 171 - Por Luiz Domingues


Foi muito curioso estarmos a participar de mais uma edição do projeto "Harmonizasom", no Bar Melograno, por que um pouco mais de um ano e meio antes, o Pedra havia apresentado-se no mesmo local e dentro do mesmo projeto, a encerrar a sua trajetória e nesse novo instante, estaria de volta com carga total, aparentemente motivado por um bom astral.

Laert Sarrumor recebeu-nos de forma radiante, pois ele era um entusiasta declarado da banda desde os seus primórdios e ficara nitidamente frustrado quando o Pedra fez um show no seu projeto, ao anunciar o fim de suas atividades. Dessa forma, ele quando soube através do Rodrigo que a banda estava a voltar às suas atividades, encaixou-nos no projeto, cuja curadoria era sua e de sua esposa, Marcinha Oliveira, que era (é) a empresária do Língua de Trapo, a colocar assim o seu prestígio à disposição e dessa forma, nós obtivemos uma repercussão midiática muito interessante ao se considerar tratar-se de uma apresentação intimista de bar. 
Até uma nota na coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo, nós obtivemos e convenhamos, ser mencionado nessa coluna não era (é) nada fácil, primeiro que não trata-se de uma coluna eminentemente cultural, mas híbrida entre esse campo e o social, portanto, ela mais falava sobre vernissage e lançamento de livros, a focar em socialites e figuras da política que prestigiavam tais eventos, mais centrados nas camadas mais nobres da sociedade.
 
Interessante também, estivemos inseridos em um rol de artistas mais próximos da MPB e essa foi uma pretensão do Pedra desde o seu início, portanto, considerávamos salutar abrirmos novas portas e expandirmo-nos além do mundo do Rock underground, espaço em que habitávamos normalmente. 
Eu e minha clássica implicância com a mídia! Ora, quem é "Xandoo?" Pronunciava-se: "Xandu", com a fonética de "Xanadu", ou seria com sotaque anglo-americano, a usar a fonética: "Quizánduu?" Ora, esses jornalistas... 

Houveram dois dilemas técnicos sobre essa apresentação no Melograno: o espaço exíguo e o PA minúsculo para ser usado. A casa era muito bonita em suas instalações e decoração, mas a infraestrutura para apresentações musicais ali, era adequada apenas para apresentações intimistas na base de voz & violão e não queríamos fazer uma apresentação acústica. 
 
Portanto, reduzimos o equipamento ao mínimo, ao levarmos menos da metade do nosso backline habitual e a assumirmos que não microfonaríamos a bateria e os amplificadores. 
 
E sobre a questão do espaço, quando chegamos com nosso equipamento ainda no período da tarde, o gerente do estabelecimento colocou a mão na cabeça, literalmente, a imaginar aonde colocaríamos tudo aquilo e foi menos da metade do nosso backline, isso ele nem imaginara.
 
Com paciência, fomos a arrumar os equipamentos e claro que mesmo ao ocuparmos muito mais espaço do que os artistas que ali apresentavam-se normalmente, ocupamos um espaço além do normal ali da casa (creio que pelo menos quatro mesas para clientes foram desmontadas para ocuparmos o espaço). 
 
Sobre o equipamento, o Rodrigo conhecia bem o técnico da casa e tudo ficou armado para usarmos o parco PA apenas para as vozes, ao assumirmos um padrão de sonoridade de ensaio, com a bateria in natura e instrumentos elétricos com amplificação comedida.
Bem, apesar de todo esse caráter minimalista, nós conseguimos preservar os timbres e a contundência sonora da banda, aliás a corroborar a tese de que era possível dar o recado com qualidade, sem necessariamente ter a pressão de som, um pecado que o Pedra cometeu na sua carreira como um todo, infelizmente. 
Quando o Laert chegou ao estabelecimento, além da festa natural por encontrar-nos e comemorar que a banda voltara à ativa e finalmente com uma situação muito diferente da anterior ali mesmo observada, que fora melancólica, ele também ficou pasmo por termos acomodado a banda para uma apresentação elétrica, naquele espaço que conhecia bem como o curador do projeto, mas também como artista, tamanha a quantidade de vezes em que ali apresentara-se com o mini combo reduzido do Língua de Trapo, chamado: "Os Três do Língua".
As pessoas foram a se acomodar no espaço e eu fiquei contente em verificar que haviam muitas que ali compareceram pelo Pedra em si, e não por serem habitues da casa ou do projeto do Laert, tão somente. 
Mais do que isso, a apresentação foi ótima, a manter um padrão de dinâmica muito disciplinado, por conta do PA muito incipiente ali disponível e a motivar a nossa economia sonora. Portanto, quem ganhou foi o público, que recebeu uma apresentação fina, de extrema qualidade sonora e mesmo que nós fôssemos uma banda aberta para transitar entre a MPB, Black Music e Folk, a nossa amálgama primordial sempre foi o Rock, portanto, essa era a nossa predisposição habitual.
Ao final do show, os componentes do Pedra a posarem com o meu velho amigo e companheiro de duas jornadas (Boca do Céu e Língua de Trapo): Laert Sarrumor. Click: Grace Lagôa
Ficamos muito contentes sobre a sonoridade e o resultado, com o público a apreciar muito a noitada. 
Uma presença ali deixou-me muito feliz, pois fez com que naquela noite eu estivesse reunido com companheiros de muitas jornadas da minha carreira. Fora o fato natural de estar com Rodrigo Hid na formação do Pedra e este a se revelar como um companheiro de outras jornadas (Sidharta e Patrulha do Espaço), e do baterista Carlinhos Machado estar na plateia (tocávamos juntos desde 2011, n'Os Kurandeiros), foi um prazer ver a presença do guitarrista, Aru Junior a adentrar o ambiente para prestigiar o show, acompanhado de sua esposa, a produtora musical, Rosane e o grande Gerson Conrad, este, um eterno "Secos & Molhados". 
Aru já era guitarrista da "Trupi", banda de apoio de Gerson Conrad, cujo baterista fora também, Carlinhos Machado. Portanto, lá estava eu com o Pedra, mas a conviver com Laert Sarrumor, com quem trabalhei no Boca do Céu e Língua de Trapo, Serginho Gama & Paulo Elias Zaidan, do Língua de Trapo, Aru Junior (Terra no Asfalto) e Carlinhos Machado (Kim Kehl & Os Kurandeiros). Muitas histórias e jornadas diferentes e queridas para a minha carreira.
"Cuide-se Bem", ao vivo no Bar Melograno, em 17 de dezembro de 2012. Eis o Link para assistir no Youube:
https://www.youtube.com/watch?v=zO6WdsJKhLs

Noite agradável, portanto, ocorreu no dia 17 de dezembro de 2012, com cerca de cem pessoas no local e absolutamente lotado pelo tamanho diminuto da casa. 
Tal evento reforçou a ideia de que o final de 2012 sinalizara bons ventos. Tivemos um novo show em São Paulo em quatro dias e para o Pedra, que continha uma dificuldade histórica para manter uma agenda sustentável, foi mesmo um grande indício. 
A próxima apresentação foi um show compartilhado com outras duas bandas e se tratou de um convite vindo da parte do baixista do Tomada, Marcelo "Pepe" Bueno.
Pedra & Laert Sarrumor, uma noite agradável no Bar Melograno, em dezembro de 2012. Foto: Grace Lagôa

Continua...  

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