quinta-feira, 9 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 378 - Por Luiz Domingues


Um novo compromisso surgiu apenas em maio de 1987. Um circo montado em plena avenida Ana Costa, na cidade de Santos-SP, estava a promover shows de Rock com constância e assim, o convite da parte de tais produtores, ocorreu em seguida para nós. Dividiríamos a noite com o "Excalibur".  Chegamos à cidade praiana com tranquilidade e rapidamente nos locomovemos ao Circo Marinho.

O soundcheck foi um pouco tenso, pois o técnico local foi grosso conosco, ao alegar que estávamos a postergar demais o trabalho, com exigências em demasiado. Porém, na minha lembrança, estávamos apenas a reivindicar uma monitoração melhor, portanto, não houve nada demais de nossa parte, e ele foi que estressou-se à toa. 

O show foi apenas razoável, pois a nossa preocupação no soundcheck procedera, e a busca por uma equalização mais caprichada teve mesmo sua razão de ser, pois na hora do show, sofremos com monitores rachados, a prejudicar a nossa performance.

Foi no dia 17 de maio de 1987, e havia cerca de cento e oitenta pessoas na plateia, mas achamos pouco, por que seguramente o espaço comportava no mínimo o triplo dessa capacidade. O clima entre nós quatro estava pesado devido ao últimos meses com baixa produtividade, após tantos revés que sofrêramos, mas sinalizava o ponto da ruptura total naquele instante.

Ao que tudo indicou, a luta prosseguiria e apesar das intempéries que vivíamos, não houve motivo para nos preocupar, a pensar no pior. No entanto, não foi bem assim que a situação estavam a se encaminhar e logo, começaríamos a enveredar para um caminho sem volta.

Com ensaios bem dispersos, e sem grandes perspectivas de momento, tivemos apenas convites para entrevistas, e algumas notas ainda estavam a serem publicadas na imprensa escrita. Programa de TV, só voltaríamos a participar em setembro.


Então, entre junho e julho, só nos restara ensaiar. Em outras épocas, isso seria cumprir a mais absoluta rotina, com a banda se encontrar diariamente para desenvolver ensaios rigorosos, das 15 às 22 horas, mas nesse instante, com o clima pesado, isso já não foi uma certeza.

Portanto, com o Rubens cada vez mais contrariado, Zé Luiz com problemas pessoais, e eu a começar a me preocupar com tais sinais de desunião, passamos por momentos difíceis. O Beto, por outro lado, não havia desistido da ideia de inventar um fato novo para dar um novo alento à banda e nesses termos, ele sugeriu mais um guitarrista para conversarmos a respeito de tornar a banda, um quinteto.

Já havíamos feito isso com Daril Parisi, e o Rubens não apreciou nem um pouco tal ideia, de forma alguma por nutrir algo contra o Daril, mas por uma questão de resolução para a banda em si. De fato, se a ideia foi mexer na sonoridade da banda, o próprio, Beto, era guitarrista também, e principalmente após a entrada do ano de 1987, cada vez mais nós usáramos tal recurso nos shows. E desde o segundo semestre de 1986, ele houvera se tornado o mais prolífico compositor da banda, justamente por ser guitarrista, também, e assim, proporcionar muitas ideias de riffs para trabalharmos.
Visto por esse ângulo, um quinto membro, na figura de um novo guitarrista, realmente pareceu uma má estratégia, pois o Rubens era o nosso guitarrista oficial, e o Beto poderia cumprir ao vivo um apoio com bases e eventuais solos. Dessa forma, talvez a presença de um tecladista fosse mais produtiva, musicalmente a falar.

Mas eu entendo bem a real intenção do Beto. Ele desejara mesmo, efetuar uma sacudida na moral da banda, ao mexer com os seus brios e assim criar um fato novo que pudesse espantar o baixo astral que nos assolara pelos últimos meses, com tantos dissabores que tivéramos. Então, não foi de fato uma necessidade musical, por que o quarteto se resolvia com desenvoltura e modéstia à parte, desde a fase como trio, nós tínhamos no fator técnico, o nosso principal atributo.

Tal guitarrista que o Beto chamou para uma conversa, foi Acácio Vaz, que eu não conhecia, mas que já era um representante de uma típica vertente de final de década de oitenta dentro do Hard-Rock/Heavy-Metal, que era versada pelo do extremo virtuosismo, uma semente do que viria a ser em breve a corrente do "Heavy-Metal melódico", ou seja, uma mistura de Heavy-Metal com canto lírico/ópera, e com guitarristas ultra virtuoses, a fazer às vezes de violinistas "spalla".

Rubens não estava a comparecer aos ensaios com regularidade e em uma tarde dessas, eu (Luiz), Beto e Zé Luiz, tocamos com Acácio, com o Beto a cogitar, para quem sabe, que ele fosse o quinto membro da banda, mas o Rubens, ao saber dessa jam, ficou muito contrariado, pois interpretou como um motim de nossa parte, com a intenção de testar um possível substituto para ele. 

Mas isso não correspondera à verdade, de forma alguma! Eu e Zé Luiz jamais faríamos isso, de forma alguma, e nem foi a intenção do Beto.

Tanto que Acácio, na verdade, quis aproximar-se de nós com outra intenção pessoal. Ele tinha um trabalho de composição pronto para gravar, em dupla com um vocalista chamado, Cyrilo. Era um som totalmente calcado nesse virtuosismo sob viés "malmsteeniano".
A contracapa do LP do Clavion, banda de Acácio e Cyrilo, e com o meu aluno, Jameson Trezena, a assumir o baixo, por minha indicação 

Acácio queria recrutar uma cozinha para gravar, e tal oportunidade de nos conhecer, teve de fato, essa intenção de sua parte. De fato, ele convidou-nos a gravar o disco, na qualidade de convidados, mas o Zé Luiz não aceitou de pronto. Eu relutei, pois não queria piorar ainda mais o clima interno d'A Chave do Sol, que já estava por demais pesado, mas apenas gravar o álbum dessa banda, como convidado, não seria uma coisa nociva assim, pensei. 

Em setembro, após várias tentativas do Acácio e de seu vocalista, Cyrilo, acabei por realizar um ensaio na casa dos irmãos Busic, com o Ivan Busic a participar também como convidado desse disco a ser gravado. Mas não logou êxito, pois percebi que por mais que dissessem que eu estaria ali como convidado, a intenção real de ambos, Acácio e Cyrilo, foi que eu entrasse como membro fixo nessa banda, por perceberem o momento de turbulência sofrido pela A Chave Sol, e pelo contrário, tudo o que eu quis naquele3 instante, foi salvar a minha banda, portanto, desisti de ajudá-los a gravar o seu disco, e indiquei um aluno meu, que gravou de fato tal álbum e efetivou-se na banda, que chamava-se: "Clavion", e o meu aluno, se chamava, Jameson Trezena, um dos primeiros que tive, quando comecei a ministrar aulas de baixo, a partir de julho de 1987.

Acácio Vaz era (é) um guitarrista bastante técnico, condizente portanto, com a vertente que desejava professar em sua banda, além de ser uma pessoa muito boa, sem dúvida. Mas realmente não teve nada a ver a cogitação do Beto em recrutá-lo como segundo guitarrista da banda, e pior que isso, tal insistência dele em buscar um novo membro, revelou-se uma estratégia ainda pior, se a intenção foi a de "salvar" a nossa banda.

Isso por que o Rubens, que estava a se afastar de nós, gradualmente, interpretou da pior maneira possível tal ensaio com Acácio, e o clima só azedou daí em diante. Para piorar a situação, o Zé Luiz estava profundamente atormentado por um dilema pessoal, e por esses dias, revelou-nos que estava decidido a dar uma guinada radical em sua vida e tal escolha da parte dele, seria algo terrível para A Chave do Sol.

Dias muito mais difíceis viriam, a partir do final de julho de 1987.

E fatidicamente, o show que realizáramos em maio, na cidade de Santos-SP, revelou-se o último da história d'A Chave do Sol, com a sua formação clássica. A banda tentaria sobreviver doravante, mas aos trancos e barrancos, e a sofrer muitas derrotas, sobretudo, no seu âmago.

Continua...

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