domingo, 19 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 397 - Por Luiz Domingues

Falo agora sobre um colaborador muito querido da banda, cuja participação com parceria de letras em algumas músicas nossas, muito me orgulha.

Julio Revoredo
 
O poeta, Julio Revoredo, em um momento de 1984. Foto de seu acervo pessoal

Conhecemos o Julio no primeiro show que fizemos, em 25 de setembro de 1982, através de Wagner "Sabbath", um amigo em comum. Estabelecemos amizade instantânea, pela óbvia sincronicidade de ideias e ideais, não só em torno do Rock, mas em várias outras frentes abrangentes da cultura e da arte em geral.  
Em foto de 1985, Julio Revoredo a segurar a capa do EP lançado nesse mesmo ano. Foto de seu acervo pessoal

Com a amizade sedimentada e a frequentar a sua residência com regularidade, eis que eu descobri sua obra como escritor e poeta e fiquei muito impressionado com sua produção sofisticada, hermética, profunda e sob enorme profusão, pois o Julio foi (é), um artista vulcânico, eu diria, tamanha a sua volúpia para criar. E da parte dele, o seu entusiasmo pela nossa banda tornou-se contagiante. Ele enxergar em nós, o mesmo potencial que bandas clássicas dos anos sessenta detinham, em particular, o Cream, a sua banda de cabeceira.
Foto de 1984, quando o poeta, Julio Revoredo nos acompanhou à se da Rádio Cultura Rádio Cultura AM. Foto de seu acervo pessoal

Daí a pensar em ter um poema seu para musicarmos foi uma questão natural e já em 1983, trabalhamos nesse sentido. Das músicas em que usamos os poemas seus, duas entraram oficialmente em disco. Imortalizadas estão, portanto: "Segredos" e "Ufos", a se tratar de poemas brilhantes e profundos por ela concebidos. Depois da minha participação com A Chave do Sol, eu convidei o Julio Revoredo para nos escrever letras para o Sidharta, banda que formaria em 1997, e três dessas letras foram gravadas pela Patrulha do Espaço no álbum "Chronophagia" em 2000, visto que tais músicas do Sidharta, foram aproveitadas pela Patrulha do Espaço.

Julio é o único personagem d'A Chave do Sol que eu nunca deixei de manter contato, em momento algum. Somos amigos e nos falamos regularmente, desde 1982.  

Desde 2012, Julio é colunista fixo deste meu Blog 2, onde publica normalmente os seus brilhantes poemas, mas ele também já publicou pequenas crônicas e matérias sobre música.

Hora de falar sobre os membros da banda, e começo pelos que tiveram passagens mais curtas pela nossa banda, A Chave do Sol.

Percy Weiss

Percy Weiss entrou em nossa vida por conta de uma loucura arquitetada pelo Rubens, em um momento em que sua ousadia nos garantiu um debut na vida artística, com alto gabarito. Muito famoso no métier do Rock, Percy já detinha a consagração artística que nós absolutamente não tínhamos ainda, portanto, a sua inclusão no primeiro show da banda, foi um luxo para nós.  
O nosso show de estreia foi acima da média para um show de estreia de uma banda totalmente desconhecida a dar o seu primeiro passo, pois com um artista como Percy nos vocais, o nosso espetáculo provocou um surpreendente interesse, além das nossas possibilidades reais na ocasião. Tal resultado inicial foi tão animador, que chegamos a cogitar a chance dele prosseguir conosco doravante, mas apenas dois shows foram feitos com a sua presença nos vocais e dessa forma, a sua decisão de não querer ficar na banda, prevaleceu.

O tempo passou e muito recentemente, ele concedeu uma entrevista longa ao programa "Vitrola Verde", do meu amigo, Cesar Gavin, e mediante tal oportunidade, ele falou algo surpreendente sobre essa passagem efêmera que tivera pela nossa banda.


Veja abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=rpdSNGTZhsM
Infelizmente, pouco tempo depois de filmar essa entrevista, Percy Weiss faleceu, vítima de um acidente automobilístico ocorrido na Rodovia dos Bandeirantes, ao deslocar-se de São Paulo para Campinas, onde estava a morar, em abril de 2015.


Verônica Luhr

Uma joia rara e bruta que o Rubens sugeriu que ouvíssemos, Verônica Luhr detinha um potencial inacreditável. Uma mulher jovem e linda, com porte de modelo (e de fato era esta a sua profissão, pois desfilava para o estilista, Ney Galvão), Verônica não chamava a atenção apenas pela sua beleza física, mas sobretudo, pela voz incrível que tinha.
Imagine uma moça loura e linda, com olhos azuis e porte de modelo, mas com a voz de uma Diva do Soul, Blues, Rock, Jazz...

Ela tinha uma emissão e um timbre que muito lembrava a Tina Turner, e claro que isso fazia com que o nosso som e as apresentações da banda crescessem absurdamente.

Já falei sobre tal prerrogativa ao longo da narrativa, mas vou repetir: se tivéssemos tido a sorte de sermos descobertos por um produtor influente naquele momento em que o Br Rock 80's estava a explodir na mídia, certamente que a nossa sorte teria sido outra, pois ela se colocava em uma condição milhas acima de qualquer vocalista feminina que surgira e brilhara nessa época. Ela teria sido um estouro nesse sentido. Mas claro, o pensamento não pode ser tão simplista assim, pois para que isso acontecesse, nós teríamos que estarmos com o som adequado à tendência do momento, o que significaria dizer que seria pouco provável que algum produtor nos aceitasse como uma banda una, mas sim a ela, sozinha, como cantora solo. 

E foi exatamente o que a tirou da nossa banda, quando fazíamos temporada em uma casa badalada de São Paulo, em meio a um momento de franca expansão da nossa carreira. De fato ela recebeu proposta para fomentar uma carreira solo amparada por gravadora uma major, e um plano de ação para promovê-la mídia e foi no que ela investiu e preferiu e nos deixou então.
Tempos depois, soube que ela havia se casado com o guitarrista da "Banda Performática", do artista plástico, Aguilar, um rapaz chamado: Jean Trad, e que tivera dois filhos. Depois ouvi boatos que levava uma vida pacata como dona de casa, no interior de São Paulo.

Em 1991, ao assistir TV a esmo, a vi no programa do Clodovil Hernandes através da TV Gazeta. Estava a se apresentar com uma orquestra, diretamente do belo teatro de arame de Curitiba, vestida de gala. Achei bonito vê-la na TV a cantar.

Nunca mais a vi, e nem falei com ela, mas espero que esteja bem e muito feliz.

Chico Dias

Sempre o Rubens para se adiantar e achar soluções vocais para a banda, e assim, mais uma vez graças a sua percepção e iniciativa, ele nos proporcionou uma nova oportunidade. A nossa situação na metade de 1984, era completamente outra, com os frutos do nosso primeiro disco a render oportunidades na mídia e isso a se traduzir em shows e a formação de um público a cada dia maior de fãs do trabalho. E assim aconteceu quando ele foi perspicaz e abordou um jovem vocalista que virámos a se apresentar em um show ao ar livre realizado em uma praça pública.
Chico Dias em foto de 1984, do acervo pessoal de Julio Revoredo

Chamava-se: Chico Dias, e era oriundo de uma pequena cidade litorânea do Rio Grande do Sul, chamada, Rio Grande. Foi uma loucura, mas decidimos trazê-lo para São Paulo, no entanto, mesmo com a banda em franca expansão na carreira, e somado ao fato dele ser muito imaturo e despreparado para morar em uma megalópole do porte de São Paulo, tal operação não deu certo, simplesmente.  
O seu potencial como vocalista era bom. ele tinha uma boa voz e a sua performance de palco, ainda que carecesse de muita lapidação, se mostrava satisfatória sob uma primeira análise, mas a infraestrutura sociofinanceira, e principalmente a emocional que ele possuía, exauriu-lhe a sua força.

Não foi nada agradável a maneira pela qual ele deixou a nossa banda, mas hoje em dia eu relevo e até entendo que a sua imaturidade de então, não lhe dera subsídios para algo mais nobre, eu diria. O Zé Luiz disse-me ter falado com ele por duas ou três vezes nos anos posteriores, mas a minha lembrança ficou apenas baseada em uma carta que enviou-nos a pedir desculpas pela sua saída intempestiva. Não faço nem ideia se prosseguiu a batalhar por uma carreira na música depois que deixou a nossa banda, mas espero que esteja bem e feliz em sua terra natal.
Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário