quinta-feira, 9 de julho de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 379 - Por Luiz Domingues


Foi quando Zé Luiz nos comunicou a sua decisão pessoal de deixar a banda. Não ficamos exatamente chocados, pois ele já vinha a emitir sinais, há tempos de sua insatisfação com o rumo adotado pela banda. Creio que de todos, ele fora o que mais sentira a frustração pela inoperância do Studio V, em nos levar para um patamar acima, e se isso foi crucial para todos, para ele houve um significado ainda maior, por que estava a viver uma fase de cobrança pessoal e familiar.

Já com vinte e seis anos de idade completos, ele estava profundamente preocupado com sua estabilidade sócio/financeira, e a frustrar-se com o fracasso de nossa associação com aqueles empresários citados, deixou de nutrir esperanças sobre uma nova chance que a banda poderia obter.

Até os shows de Caraguatatuba-SP, e consequente esperança de uma nova investida em gravadoras majors, ele suportou além das suas forças, mas depois da negativa da BMG-Ariola, as suas esperanças esvaíram-se de vez.

Pressionado a tomar um rumo acadêmico e tradicional na vida, ele teve a proposta de seu pai, o Dr. João Batista Dinola, em lhe doar o seu tradicional consultório dentário, inteiramente montado e modernizado, caso se dedicasse à faculdade de odontologia.

Não era nem de longe a sua vocação, é claro. Fora o músico incrível que ele é, José Luiz Dinola sempre teve um talento incrível para múltiplas tarefas, a consertar e criar objetos, seja em eletrônica, seja em trabalhos que envolva marcenaria, carpintaria etc. Portanto, a sua capacidade inventiva e incrível habilidade manual, sempre foram qualidades natas de sua parte, mas odontologia, de maneira alguma foi algo que ele levasse jeito para exercer.

Contudo, ele estava fechado com essa questão, e ao nos comunicar a sua saída, na verdade já havia se matriculado em um curso pré-vestibular e a se mostrar imbuído da determinação de estudar com afinco, e não mais fazer parte da nossa banda. Mais que isso, Zé Luiz estava a radicalizar naquele instante e o seu discurso inicial, foi no sentido de abandonar a música.

Ainda bem, para ele próprio e para o Rock brasileiro, tal radicalização total jamais aconteceu, mas em termos d'A Chave do Sol, sim, foi o fim de sua participação em nossa banda. Depois de um comunicado desse porte, claro que o baque foi enorme. 

Não estávamos a perder apenas um baterista de nível técnico incomparável, mas um companheiro com irrepreensíveis qualidades humanas e acima de tudo, um remador fortíssimo dentro de nosso humilde bote, em meio ao mar revolto.

Irredutível, ele não acatou nossos apelos para tentar demovê-lo de sua decisão, e assim, a nossa banda esteve irremediavelmente a caminhar aceleradamente para o seu final, embora eu (Luiz), Rubens e Beto ainda empreendêssemos por mais alguns meses, esforços para salvá-la e nessa luta, um novo disco surgiria em questão de pouco tempo.

Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário