quarta-feira, 8 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 110 - Por Luiz Domingues

Alguns dias depois, ainda no mês de julho de 1997, faríamos um show em um festival realizado na cidade mineira de Caxambu. Foi mais uma vez um contato do nosso baterista, Juan Pastor, mas não tratou-se de um show patrocinado ou apoiado pela Rádio 89 FM, mesmo por que ficava fora do seu domínio natural. Esse festival fora na verdade, uma tradição fixa, feita com uma periodicidade anual, por aquela simpática cidade interiorana, e privilegiava bandas independentes, e autorais, o que foi sem dúvida, algo muito louvável.

Uma série de bandas apresentar-se-iam em quatro dias de eventos, e estávamos escalados para tocar no sábado, dia 26 de julho. Mas, por conta da logística do transporte que fora-nos oferecido, partimos para Caxambu-MG na noite de quinta-feira, para chegarmos lá na sexta pelo início da manhã, bem cedinho. 

Tratara-se de um ônibus fretado pela organização, e que teve como ponto de partida, o Centro Cultural São Paulo, onde geralmente muitas empresas de turismo marcam saídas para excursões particulares. Haveria bandas de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, nesse festival e lembro-me de que no nosso ônibus, nós viajamos com a comitiva de outros grupos, por exemplo o "Pin Ups", da baixista, Alê (com a qual tivemos conversações em 1994, ao visar assinarmos com a gravadora "Roadrunner"); "The Charts", e "Soul 4 Everybody", entre outras. 

A primeira lembrança dessa viagem, é a de um produtor do festival, a se expressar com um tom duro, meio militarizado, da dar conta já com todos dentro do ônibus, de que todo mundo que estivesse a carregar drogas na bagagem, deveria tratar de livrar-se do material ilícito, por que era praxe da polícia rodoviária, surpreender ônibus fretados naquela região toda do sul de Minas, por que era grande o número de "malucos" (beleza?) a transitar por ali, principalmente pelo fato de existir uma enorme tradição de hippies que se deslocam para ir à São Tomé das Letras, uma cidade onde definitivamente, "o sonho nunca acabou"...

Bem, não foi absurda a advertência do rapaz, mas confesso que achei sombrio o seu tom de voz, embora ele mesmo, detivesse visual de "grunger". Certamente estava acostumado com as batidas da polícia e com os transtornos acarretados por tais eventos, já que ônibus fretados, e cheio de músicos doidos, e freaks em geral, devia fazer parte de sua rotina de vida, como produtor de festivais. 

A viagem foi tranquila e demorada, pois apesar da distância não ser tão grande (ao olhar o mapa do Brasil, Caxambu-MG, fica bem perto daquela tríplice fronteira entre São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, em meio a uma região serrana), o fato de ser um trecho muito montanhoso e sinuoso, agravara-se por conta de que depois que utilizamos uma estrada menor, após ultrapassarmos a cidade de Campos do Jordão-SP, tornou o percurso lento. Fazia um frio de rachar, com muita neblina e por ser noite, claro que o motorista foi bem prudente e pisou no acelerador com bastante parcimônia. Mas quando estávamos quase a chegar, uma inevitável batida policial realmente aconteceu, a causar um atraso significativo.

Foto rara dessa viagem, do acervo de Jason Machado, que viajou conosco, para trabalhar como roadie. Eu, Luiz Domingues e Juan Pastor, na porta do Hotel União, em Caxambu-MG, onde hospedamo-nos na manhã de 25 de julho de 1997. Acervo e cortesia de Jason Machado

A segunda lembrança, foi chegar ao hotel com o dia a amanhecer e ser recebido com um café da manhã muito bom. Confesso, foi o melhor pão de queijo que comi na minha vida, a sair do forno naquele instante, e por estar muito quente, a contrastar com aquele frio intenso que fazia. Honrou a fama que tal iguaria mineira, tinha. 


Não tínhamos atividades naquele dia e pudemos dormir até tarde, quando após o almoço, saímos para conhecer a cidade. Foram momentos divertidos vividos no hotel, sempre com o tradicional festival de piadas imediatas dos humoristas do Pitbulls on Crack, etc. No período noturno, fomos à praça pública onde realizavam-se os shows do festival. Estava um frio forte, com um pouco de névoa. No termômetro público, por volta das 23:00 horas, marcava-se 7°...
 

Lembro do show do "Pin Ups" e que estava agradável com aquele trabalho deles, meio inspirado no Glitter-Rock setentista (ao menos era o que eu enxergava de positivo na sonoridade dessa banda), mas a vocalista, Alê, perdeu-se um pouco ao fazer um discurso inflamado sobre o direito de cantar em inglês etc. Claro que ela tinha o direito de cantar no idioma que quisesse, mas daí a irritar-se por ter gente que não concordara com tal determinação, eu achei que passou da conta ao falar isso ao microfone, publicamente, como um desabafo.

Por outro lado, o clima na praça estava um pouco tenso. Havia tantos policiais à paisana, que o fato de estarem supostamente "disfarçados", nem fazia diferença. O seus semblantes tensos e de intenção de vigilância, denunciavam-nos. Fiquei cansado dessa tensão psicológica e por não haver nenhuma banda que despertasse a minha intenção para justificar minha presença em meio àquele frio, e sob esse tipo de baixo astral miliciano, despedi-me dos amigos que resolveram ficar mais, e preferi voltar ao hotel, onde o cobertor quentinho e uma TV, fazer-me-iam mais feliz...


Continua...

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