quarta-feira, 8 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Pitbulls on Crack - Capítulo 115 - Por Luiz Domingues

Bem, reta final dessa etapa de meu relato sobre uma importante parte da minha carreira. Antes de encerrar o capítulo sobre a minha história com o Pitbulls on Crack, aproveito para dizer que tanto quanto diverti-me, naqueles quase seis anos em que fui membro dessa banda, diverti-me também em escrever essa história, ao relembrar muitas passagens, com bons momentos e também os maus (poucos, ainda bem), por aprendizado. 

O Pitbulls on Crack surgiu na minha vida em um momento que foi crucial para mim em três aspectos:

1) Pelo aspecto artístico, por eu estar em um instante de transição na carreira. Sob uma primeira análise, saliento que eu estava há mais de dois anos sem ser membro oficial de uma banda e após embrenhar-me em diversos projetos que não lograram êxito, eu precisava focar novamente em um trabalho autoral.

2) Sob uma segunda abordagem, pesar o fato de eu estar a precisar de uma nova estratégia de carreira. Formar uma banda na escola do Hard-Rock nos moldes d'A Chave do Sol, teria sido a solução mais lógica, mas além de querer mudar para buscar novos ares na carreira, houve a necessidade de estar antenado nas mudanças que a época apresentava. Portanto, a proposta do Pitbulls on Crack na direção do "Indie Rock", mesmo não sendo de meu agrado natural, poderia prover a necessidade que eu aventava em buscar um outro espectro artístico.

3) Não é o caso aqui para esmiuçar, mas logo no início de 1992, eu tive um problema pessoal que derrubou-me emocionalmente, e coincidiu perfeitamente com os primeiros passos empreendidos pelo Pitbulls on Crack. 


Não nego, essa euforia inicial, e o fato dos elementos da banda serem humoristas natos, ajudou-me de uma maneira absurda a superar o meu problema pessoal. Eles não sabem, mas foram terapeutas ocupacionais fantásticos para sanar o meu caso. Portanto, por esse lado, tenho também um carinho pelo Pitbulls on Crack, principalmente em seu período inicial, entre 1992 e 1993.

Ao ir além, tenho orgulho dos primeiros momentos, pois tivemos a humildade de começarmos da estaca zero, a tocar em lugares inóspitos, para fazer shows em autênticos buracos inóspitos, sem estrutura decente. 

Mas logo a seguir, a banda teve muitas oportunidades ótimas. Ao pensar bem, foi a banda onde estive, que mais teve chances boas, com apoio no espectro radiofônico, shows feitos para multidões com produção peso pesado, apoio na TV etc.

Portanto, agradeço por cada chance que tivemos nesse sentido, ainda que isso não tenha nos catapultados à voos maiores no espectro mainstream. Por outro lado, ao fazer a reflexão fria de consciência, ao fazermos a opção para cantar a carreira toda em inglês, automaticamente anulamos assim as oportunidades recebidas, não é mesmo? 

O Chris argumentava que para ele que morara em Londres por tantos anos, e falava inglês com sotaque britânico perfeito, era muito mais fácil compor em inglês, e nós aceitávamos tal argumentação passivamente, sem ao menos pensar em estabelecer um contra-argumento.

Esse foi o nosso erro, ao meu ver, pois as canções eram boas, com potencial Pop, até, e se talvez fossem formatadas em português, poderiam ter tido outra sorte. Nenhuma banda daquelas que cantavam em inglês, da cena de 1992 e com as quais tocávamos juntos, conseguiu nada com essa predisposição e de fato, quando os Raimundos chegaram ao mercado com aquele festival de palavrões e insinuações sexuais, explodiu, para dizimar a chance de quem cantava em inglês. Questão de tempo para surgir bandas como Mamonas Assassinas e Baba Cósmica, para citar só duas, que atropelaram com as canções plenas de suas escatologias infantiloides.

Por outro lado, mesmo que o Pitbulls on Crack colocasse-se como Indie, e leia-se esse tal de Indie como um mero continuísmo no espectro do Punk-Rock, eu, por meu sistema de crenças Rockers, muito bem delineadas, jamais faria minha parte de um trabalho de forma tosca. Ao criar linhas de baixo mais sofisticadas, automaticamente tirei o ranço punk das músicas e isso aproximou mais o Pitbulls on Crack do Glitter-Rock setentista.  Daí aos críticos vir a perceber algo setentista no som, foi um pulo e o som da nossa banda que nunca foi sofisticado, ao menos entre os Indies, ficou diferenciado.

Bem, infelizmente os erros estratégicos (cantar em inglês, sobretudo), fez com que as tantas boas oportunidades fossem perdidas e ao final, a banda perdera as suas forças. 


  

  

 


 

No ano de 2013, eu consegui resgatar o áudio de uma música inédita e registrada ao vivo durante um programa na 89 FM em que apresentamo-nos, e com a produção do Site/Blog Orra Meu, um promo foi para o YouTube. Trata-se da música: "On the Rocks", nunca gravada oficialmente em disco, e em versão acústica. 


https://www.youtube.com/watch?v=C2eMt8SW_zo
Acima, o link para assistir no YouTube

Um fato póstumo do Pitbulls on Crack aconteceu em 2013, quando o grande jornalista, Tony Monteiro, a representar a revista Roadie Crew, propôs uma entrevista para resgatar a história da nossa banda. Tal questionário também foi enviado ao Deca, e nós dois alimentamos tal entrevista.


Matéria com o Pitbulls on Crack. Revista Roadie Crew número 183 - Abril de 2014 - Página 30. Assinada por Antonio Carlos Monteiro. Responderam pela banda: Deca e Luiz Domingues

Continua...

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