terça-feira, 7 de julho de 2015

Autobiografia na Música - Sala de Aulas - Capítulo 88 - Por Luiz Domingues



Claro que as adversidades eram múltiplas, mas a raiz fora uma só. A ideia básica seria, portanto, atacar com vozes aparentemente desconectadas entre si, mas a denotar ter esse ponto em comum.
Contudo, esse tipo de conjectura nem aconteceu na época, pois o movimento criou-se de forma espontânea, e não como um balão de ensaio de experimento de laboratório, portanto, devo deixar claro que apesar de que o grosso de meus alunos já estava a deixar a adolescência naquela altura, não houve esse tipo de colocação da minha parte naquele instante. A percepção de que poderia haver uma estratégia nessa abordagem, foi só minha, nesse caso. Mas, claro que eles compactuavam com muitos pontos, para não dizer todos, do que passaríamos a defender como leitores.

Entre os quais: estávamos fartos por aturar o tratamento desdenhoso com o qual a mídia mainstream imprimia para toda e qualquer menção que remetesse às décadas de sessenta e setenta, por certamente denotar com isso, ainda manterem-se fechadas em torno de um manual de redação iniciado em 1977, e que ali, no calor do final dos anos noventa, pareceu que não mantinha nenhum indício de mudar. O enaltecimento à estéticas toscas derivadas do Punk-Rock, também foi um braço natural dessa equação e ao estabelecer uma lógica cartesiana simples, se isso era considera como algo "bom", por extensão, tudo o que se colocava como oponente, seria "ruim" e durma-se com um barulho desses...

Na questão do "niilismo", por exemplo, cabe a reflexão. Eu não sou contra o conceito em si, mas aborrece-me profundamente a maneira com a qual os marqueteiros usaram tal conceito, ao deturpa-lo, e a criar de forma irresponsável, um paradigma maldito que serviu para formatar todo o avançar da história do Rock nas décadas de oitenta e noventa, principalmente.  A consequência desse ato tresloucado, qual poderia ser?

Enfim, acho lastimável que um golpe publicitário que visava lucros imediatos para o dono de uma lojinha de artigos sadomasoquistas, tenha tomado essa proporção inimaginável, e a causar esse estrago que reputo ser quase irreversível.  Esse é um ponto.

Uma outra questão, foi que se filosófica e esteticamente eu não seja contra o niilismo em si, não significa que o aprecie. Apenas o respeito como linha de pensamento, mas de forma alguma tenho simpatia pela sua visão de mundo. Eu não gosto da ideia de que uma renovação cultural só possa ser construída após a destruição sumária de outra estética.

Não gosto nada desse conceito de que uma cultura deva ser aniquilada para que outra possa nascer. Em meu entendimento, trata-se de uma ideia errada sob vários aspectos, senão vejamos:

1) Fomenta o ódio como fator de força, pois o início da deflagração, é o ato de demolição da estética antiga. Se começa com ódio, já começou bem equivocado, portanto, ao meu ver;

2) Não vejo por que o passado deva ser destruído para que se construa um presente renovado. Acredito em somatória e não divisória. O que passou foi importante, e certamente contribuiu para o que somos hoje, e não deve ser "destruído".

3) Abomino a ideia de que o passado não tenha valor somente por que ficou no passado. O troglodita anônimo que inventou a roda é tão importante quanto o nerd mais genial que acabou de criar o mais novo aplicativo moderno da internet, ou o cientista que acaba de fazer uma descoberta incrível em alguma universidade de ponta.

4) Pior que tudo é deturpar o conceito do niilismo para tirar vantagem. Se eu estivesse nos anos setenta e não soubesse tocar um instrumento musical, mas aspirava ser um Rocker, realmente caiu como uma luva essa "norma", pois foi muito mais fácil destruir o Rock Progressivo e o Jazz-Rock, do que amargar anos de dedicação, aprendizado... ou seja, essa mentalidade tornou-se conveniente para os preguiçosos de plantão.

Enquanto observador da cultura, o cidadão comum amargava uma mídia vendida e monoliticamente fechada nesse conceito há anos!
Por que?

Por que uma série de jornalistas fechou-se nesse conceito, não somente por que acreditou nessa premissa, mas sobretudo pelas conveniências pessoais inerentes e assim, redações passaram a usar essa determinação de forma ferrenha, como um verdadeiro manual de redação. Nesses termos, tudo o que remetia ao passado era descrito com desdém, e tudo o que seguia a cartilha de 1977, enaltecido com o poder da superestimação. Um comportamento opressor que muito assemelhou-se aos métodos empreendidos pelos regimes totalitários e não me surpreende que tenham copiado tal metodologia.

Se isso tivesse ocorrido ali só no calor da "revolução Punk", vá lá, seria até compreensível. Mas daí a perdurar por décadas foi uma vergonha para a produção e fomento da cultura. Portanto, o nosso foco inicial foi esse, ou seja, denunciar tal disparidade, e usar de várias prerrogativas, conforme descreverei a seguir.

Continua...

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