quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 201 - Por Luiz Domingues

A produtora musical, Sarah Reichdan, estava a todo vapor a produzir shows para a Patrulha do Espaço, e claro que isso foi louvável e muito animador. Essa parceria ia de vento em popa, desde o final de 1999, eu diria, mas esquentara de vez no final de 2001 em diante, quando muito de seus esforços lograram êxito, principalmente em produções dentro do universo do Sesc. Tudo esteve maravilhoso nesse sentido, mas houve um senão, e esta ressalva não foi necessariamente por culpa dela.  
Dos muitos shows da Patrulha do Espaço realizados em unidades do Sesc que ela fechou e produziu, nenhum, infelizmente, foi 100 % confortável para nós, artística ou tecnicamente a falar, dadas as circunstâncias em que se constituíram. Eu explico...

O fato, é que ela estava a nos encaixar em projetos onde a banda não se apresentava sozinha ou pior ainda, fugia de suas características totalmente, ao criar concertos semi-acústicos, ou seja, a nos obrigar a sairmos da nossa característica natural que era a da extrema eletricidade de uma banda de Rock clássica, que éramos.
Então, cabem algumas reflexões sobre essa linha de atuação da Sarah como produtora:

1) O seu argumento de que por muitas vezes certas condições desfavoráveis seriam válidas para pleitear-se a seguir o usufruto de situações melhores, era um fato, e baseado nisso, principalmente, foi que aceitamos fazermos shows em condições desconfortáveis. 

2) Já elogiei efusivamente a atuação do Sesc no âmbito da produção cultural deste país, em capítulo anterior, e não acho necessário cansar o leitor com uma repetição, mas realço a minha crítica em caráter construtivo, de que o maneirismo em que se baseiam os seus programadores para fazer montarem, a sua grade de atrações, na qual, só agendam os artistas mediante "projetos" e invariavelmente apresentem como condição sine qua non a "obrigatoriedade" de trazer um ou mais convidados para participar do evento, é muito equivocada.

De antemão, com essa predisposição, desqualificam o artista, ao desprestigiar o seu trabalho e sua história, pois se a sua simples presença não dá segurança à cúpula de cada unidade que isso seja o suficiente para atrair público, naturalmente estão a depor contra, no subliminar.  

Observadas essas questões, a verdade foi que a produtora, Sarah esteve a lograr êxito ao nos inserir no universo Sesc, mas infelizmente sempre em condições não favoráveis para nós, sob o ponto de vista artístico e técnico. Sabedores desse pormenor, mas cientes que seria supostamente uma estratégia de inserção da parte dela, portanto sujeita a pequenos sacrifícios, aceitamos fazer um mais um show acústico, marcado para a unidade do Sesc Pinheiros, no bairro homônimo da zona oeste de São Paulo. 

Claro que era desconfortável para nós fazermos shows "acústicos", sendo a nossa banda essencialmente elétrica e historicamente dotada de uma volúpia Rocker que honrava as mais autênticas raízes em que ela se fundamentara. Mas por outro lado, apesar de ser desconfortável e frustrante para nós, não era uma tarefa impossível, pois a versatilidade dos nossos dois multi-instrumentistas certamente que viabilizava uma apresentação nesses moldes. 

E convenhamos, se havíamos sobrevivido à experiência de um show ultra-acústico em novembro de 2001 (Projeto: "Luz de Emergência", levado a cabo no Sesc Pompeia), onde a condição sonora de se apresentar sem o reforço de um PA fora extremamente periclitante, esse show no Sesc Pinheiros seria bem mais ameno nesse sentido. Isso por que não haveriam "convidados" (milagre o Sesc não ter exigido isso também), e melhor ainda, sim, teríamos um PA ao nosso dispor!  

Marcado para o dia 2 de abril de 2002, usamos as duas semanas que tivemos sem shows, e sem o nosso ônibus, para prepararmos um set com canções adaptadas para o formato semi-acústico. Claro que não seria 100 % acústico, pois usaríamos a cozinha tradicional com baixo e bateria. E também não furtar-nos-íamos ao uso de alguns teclados, com parcimônia, naturalmente, a se evitar o Mini Moog e outros onde a eletricidade e a volúpia eram muito proeminentes.

Portanto, acústico mesmo seria pela ausência das guitarras, substituídas por violões e claro, tentaríamos aproveitar melhor o recurso da flauta, que o Marcello executava bem.

Diante disso, fizemos pequenas adaptações para músicas normais do nosso repertório habitual, e ao aproveitar o ensejo, resgatamos algumas canções clássicas do repertório antigo da banda, caso de "Transcendental" (música aliás, que eu gosto bastante e apreciava tocar ao vivo), e canções lado B da época do Arnaldo Baptista, como "Cowboy", "Pé na Jaca" e "Trem", que não costumávamos tocar no set elétrico normal. E o dia do show chegou... 
Eu sei que passo a imagem para alguns que exagero em minhas críticas à atuação da mídia, mas como não deixar de observar esse texto escrito pelo estagiário da revista "Veja" na ocasião? Tudo bem que ele ignorasse (pero no mucho...), os trinta e cinco de carreira da banda naquela ocasião, ao nos imputar a importância adquirida apenas por termos "acompanhado" Arnaldo Baptista", observação talvez pautada como mais um exemplo fruto do descaso absoluto em que as bandas relegadas ao limbo do underground, sofrem costumeiramente neste país. Mas há também, dois erros crassos na consideração desse desinformado rapaz, então aspirante a jornalista. Primeiro, a Patrulha do Espaço sempre foi uma banda e não mera acompanhante de Arnaldo. Ele era componente da banda e se nos dois primeiros álbuns o seu nome foi colocado em destaque, foi por mera opção dos marketeiros da gravadora. Segundo, ele não fez parte da banda nos anos 1980. Arnaldo foi componente da banda entre 1977 e 1978, sob um período com apenas nove meses. Em suma, é duro exercer jornalismo na base do "chute" e movido a preguiça, isso quando não entra o desdém motivado por idiossincrasias no meio... 

Continua...

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