sábado, 17 de outubro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 57 - Por Luiz Domingues

Filmar na rua sempre desperta a atenção de curiosos, é inevitável. Como filmamos em diversos pontos da avenida, muitas coisas aconteceram entre a hora que ali chegamos, quase seis da tarde, até a hora que a filmagem encerrou-se, com a equipe técnica a ir embora. Lembro-me por exemplo de uma tomada onde o Daniel precisava andar rápido no meio da multidão e aparentar estar transtornado, pois isso sugeriria ter brigado com a namorada. 

No ímpeto, ele saiu a gesticular e deu um encontrão em um homem que vinha na direção oposta, que parou e o xingou, sem perceber a filmagem. 

Outra observação, várias tomadas, tanto da Claudia, quanto do Daniel, foram estragadas por eles, atores terem sido obstruídos pelos transeuntes, e não havia meios de controlar isso, pois queríamos a naturalidade das pessoas comuns e alheias à filmagem.  

Na esquina da Av. Paulista com a Rua Augusta, na calçada do lado do Conjunto Nacional, uma multi galeria muito famosa em São Paulo, os seguranças do Conjunto Nacional queriam impedir a filmagem. Uma espécie de milícia uniformizada e terceirizada, veio com certa truculência e bastante intransigência tentar coibir o trabalho, mas a filmagem estava com autorização oficial expedida pela prefeitura para filmagens em ambientes públicos. Demorou para aqueles energúmenos entenderem que não teriam esse direito de impedir o trabalho na calçada, mas por fim deixaram-nos em paz. 

Nesse mesmo ponto, um grupo de curiosos aproximou-se e queria saber a todo custo do que tratava-se a filmagem. Um membro da equipe técnica, acostumado com esse tipo de aborrecimento em filmagens externas lhes disse-lhes: -" é para o programa do Datena" (um comunicador famoso na época por comandar programas pseudo-jornalísticos, de cunho policialesco), e os transeuntes esboçaram ficarem ofendidos com a pilhéria, mas logo entraram na brincadeira e ao enjoar de ficarem ali parados, dispersaram, enfim.  

De improviso, o Xocante quis inserir uma cena com o Daniel Kid e o Xando sentados num bar, a beber com amigos. A negociação foi ali na hora, com alguns bares. Um vetou a filmagem, mas outro, na avenida mesmo, próximo ao Parque do Trianon e do MASP, aceitou. 

Foi em um boteco rústico e com mesinhas na calçada, sem requinte algum. A cena é rápida e dá para ver o Xando, a beber com o Daniel Alvim. Na mesa estão também: Daniel Kid, nosso roadie e uma moça que era produtora e continuísta da equipe de filmagem, cujo nome eu esqueci.  

Foi em julho e fazia frio. Estamos agasalhados nas fotos dos bastidores e todos que participariam dessas tomadas, idem, no clip. Uma dessas fotos dos bastidores, veio a se tornar uma peça promocional do Pedra por muito tempo. 

A banda aparece de forma muito expressiva, com a luminosidade super urbana da Av. Paulista a lembrar Nova York ao fundo. Neste caso, como diria o pessoal do Grand Funk Railroad: "We're a paulista band"...

Quando dispersamos, fiquei com uma tarefa final de produção para concluir, sob um esforço cooperativo. Fui então devolver dois aparelhos de "walk-talkie" que o Xocante emprestara de uma agência produtora de comerciais de TV, de amigos seus.  

Como essa empresa ficava localizada em um bairro vizinho ao meu, eu fui com o meu primo, Emmanuel Barreto, fazer a devolução. Essa produtora ficava no bairro Mirandópolis, nas cercanias da Estação Praça da Árvore do Metrô.  

O incrível nesse desfecho de noitada, foi que era uma autêntica fortaleza. Quando acionamos o interfone, fizemos a comunicação e mesmo ao nos mirar pelo monitor, e assim constatar que estávamos com os seus aparelhos em mãos e a citarmos o nome do Eduardo Xocante, o fato foi que eles demoraram para abrir.

E quando fizeram-no, a porta automática de ferro maciço abriu-se e nós entramos a achar ser uma casa normal e com alguém a aparecer para recepcionar-nos e pegar os artefatos, mas a porta fechou-se atrás de nós e assim nós ficamos dentro de uma câmara fechada e escura, até que uma outra porta abriu-se e depois o mesmo repetiu-se, até finalmente irmos parar em um lugar menos assustador onde uma voz vinda de um alto-falante instruiu-nos a deixar os aparelhos walk-talkie em uma espécie de móvel.

Pedra, equipe de filmagem e agregados na foto de lembrança, no quintal da residência de Claudia Cavalheiro, antes de partirmos para a Avenida Paulista filmar as cenas externas

Sentimo-nos dentro do seriado: "Get Smart" ("O Agente 86"), com aquelas portas que não levam a lugar algum, a abrir e fechar)!

E assim terminou o cansativo dia & noite de filmagens, já a passar da meia-noite.

Continua...

2 comentários:

  1. Quanta aventura, muito legal! O fim foi hilário, uma produtora cheia das defesas e a comparação com o agente 86 foi ótima.

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  2. Pois é, esse dia da filmagem da dramaturgia foi super cansativo, mas bastante agradável pela quantidade de coisas bizarras que nos arrancaram risadas naquele instante, e hoje, rendem histórias na minha autobio.

    Bacana estar acompanhando, amiga Jani. Valeu por comentar !

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