sábado, 30 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 287 - Por Luiz Domingues


Desde 1984, quando criamos o fã-clube d'A Chave do Sol, empreendíamos esforços para fazer dessa ferramenta, um braço de apoio para a banda. Ao vivermos em uma Era pré-Internet, o fã-clube foi o nosso melhor meio de comunicação com os fãs, mas claro, desde que se cadastrassem nele para estar devidamente registrado na sua mala postal.

No início, as nossas ações limitaram-se a responder manualmente as cartas que recebíamos através da nossa caixa postal (19090 - São Paulo), e eu fui o responsável por tal tarefa, pessoalmente. Entre 1984 e 1989 (e a prolongar até um pouco depois do final de atividades da banda, no início dos anos noventa), a minha rotina cotidiana foi recolher as correspondências na caixa postal da banda, em uma agência de correio muito próxima da casa do Rubens Gióia, e respondê-las em minha residência durante a madrugada, para poder postá-las durante a minha visita à mesma agência, em uma espécie de modus operandi.
Revista Rock Brigade a anunciar a entrada de Beto Cruz em nossa banda.

E além de responder as cartas, passamos a emitir comunicados de shows, com uma confecção de filipetas caseiras, bem simples, datilografadas e geralmente sem ilustrações. A produção disso fora obra do Zé Luiz em sua arte final & lay-out, e a minha colaboração dava-se no envelopamento e colagem de endereços nos envelopes, e o carimbo de fã-clube no remetente, fora a tarefa de postar na agência dos correios. À medida que o tempo passou, o contingente pôs-se a aumentar e chegou um tempo onde chegamos a ter duas mil e duzentas pessoas inscritas no fã-clube e daí, para cada ação de mala postal feita sem a devida infraestrutura de apoio de um escritório profissional, tornara-se muito trabalhosa a tarefa e assim,  consumia horas e horas de trabalho. Por outro lado, valia muito a pena, pois tais fãs eram fieis e ávidos por novidades da banda. Eu esmerava-me para manter o fã-clube em dia, e contava com o apoio fundamental do Zé Luiz, também.

No início do segundo semestre de 1984, eu tive a ideia para criar um fanzine em formato de revista, no intuito de manter os sócios do fã-clube, informados sobre todos os aspectos da carreira da banda, ao focar em novidades, mas também a cobrir o cotidiano interno da banda, sob o ponto de vista artístico e a incluir curiosidades sobre a banda e até particularidades sobre os seus integrantes.
 

Eu e Zé Luiz trabalhamos nesse projeto e dessa forma, conseguimos elaborar um fanzine com quatro páginas, entretanto,  o custo para rodar tal material, e distribuí-lo aos sócios do fã-clube ficou caro sob um primeiro instante.

A ideia original, foi ter uma formatação de revista, com capa a conter manchetes e matérias divididas em pequenos "boxes", com ilustrações, a estabelecer um padrão clássico de lay-out jornalístico.

Claro, feito de forma absolutamente simples, com parcos recursos, não poderia jamais ter um aspecto profissional, mas diante das circunstâncias, atenderia as nossas necessidades para manter os fãs informados sobre as novas sobre a banda, e assim mantê-los sempre com o interesse vivo em nossa carreira.

Nesse piloto inicial de 1984, o enfoque principal foi a entrada do vocalista gaúcho, Chico Dias, em nossa banda. Nesses termos, eu escrevi um texto a falar sobre a sua origem, características técnicas, e também acrescentei algumas bravatas, como forma de atiçar a curiosidade dos fãs. Por exemplo: "dono de uma voz arrepiante e de uma espetacular presença de palco"...

E mais exagerado ainda: "para a legião de fãs d'A Chave do Sol, fez uma promessa bombástica: vai ser o nº1 (vocalista) do Brasil"...

Em um outro tópico, falei sobre algumas emissoras de rádio que estavam a executar o nosso som, e nesse caso, a citação de emissoras como Eldorado FM e Gazeta FM, ambas de São Paulo, não foi uma mentira, como alguns chegaram a pensar, mas de fato, tais emissoras haviam executado a nossa música de trabalho, "Luz", porém, devo assinalar, por poucas vezes, ao contrário de emissoras como a Fluminense FM (Rio de Janeiro); Ipanema FM (Porto Alegre), e 97 FM (Santo André/SP), que a tocavam com constância nas suas respectivas programações.

Citações sobre os últimos shows realizados, assim como a gravação do primeiro compacto da banda, além de anúncios sobre shows a serem realizados, deram conteúdo a um outro box. Acrescentei também uma autêntica bobagem, mas com o devido risco calculado! Como eu sempre fui fã do estilo de redação do Ezequiel Neves, enquanto jornalista/crítico de Rock, por diversas publicações onde ele foi colunista (e principalmente na revista: "Rock, a História e a Glória", dos anos setenta), achei por bem dar esse toque de pilhéria, misturada ao conceito cafona de colunismo social 9certamente inspirado em Ibrahim Sued), onde ele foi um mestre. Nesses termos, convenci o Zé Luiz que deveríamos ter essa pequena licença, para dar um contraponto à sisudez dos outros textos, mais burocráticos e parecidos com o estilo jornalístico engessado do "Jornal Nacional", da Rede Globo. Então, eu inventei uma brincadeira tola para essa edição inicial, em forma de "Quiz". 

Ao alegar que Rubens Gióia havia relatado ter avistado um "Disco Voador", quando dirigia em uma estrada, eu lancei uma pergunta aos leitores:

1) É mentira;
2) É verdade;
3) Anda com a imaginação muito fértil
4) Ele está a tocar tão rápido a sua guitarra Fender Stratocaster, que isso já afetou o seu cérebro  

Além de quebrar a seriedade do restante do texto, a minha aposta também foi no sentido de agradar os adolescentes, o grande contingente de nosso público.

Uma especial atenção aos shows de lançamento do compacto, no Teatro Lira Paulistana, mereceu um box separado, pela óbvia importância que tais eventos tiveram para a banda. Ainda com um número reduzido de membros no Fã-clube, foi viável para os nossos recursos, enviar gratuitamente tal material para todos, mas à medida que esse quadro avolumou-se (e o crescimento foi enorme e muito rápido), ficou inviável que tal formato com quatro páginas fosse mantido, pelo menos nessa fase.

Então, mais ou menos em maio de 1985, nós tivemos o ímpeto de lançar novamente uma próxima edição, onde tentaríamos de forma periódica, alimentar os fãs com novidades. É bem verdade que o simplificamos para viabilizá-lo economicamente e reduzido, com uma página apenas, a assumir inicialmente o formato de um informativo simples, a se apresentar quase como um reles "memorandum" de empresa, em detrimento de uma revista mais complexa, como sonháramos em 1984. Seria um formato de fanzine, "xerocado" como muitos fanzines que eram típicos dos anos oitenta, mas dentro de nossas possibilidades, esmerar-nos íamos para dar-lhe o melhor acabamento possível. De fato, de comum acordo, o Zé Luiz incumbiu-me da tarefa de ser o redator dos textos, novamente, e ele responsabilizou-se pela diagramação e lay-out.

O primeiro número (consideramos o piloto lançado em 1984, como o n° zero da publicação), saiu em junho 1985, e o foco, é claro, foi o advento do EP que ainda estávamos a finalizar, e com o Fran Alves como o novo componente da nossa banda. Lembro-me que ficamos muito contentes em concretizá-lo, apesar dessa nova versão mais tímida, com apenas uma página. E ainda mais animados quando o enviamos para os fãs, que nessa época batiam na casa de mil inscritos (ou um pouquinho mais que isso). Em sua primeira edição, ele continha apenas uma folha, e trazia os seguintes tópicos:

1) TV: Anunciávamos que a TV Cultura de São Paulo estava a lançar um novo programa nos moldes da saudosa, "A Fábrica do Som" e que nós, d'A Chave do Sol, havíamos gravado participação no programa piloto, o que foi uma verdade. O tal programa iria se chamar: "Trilha Sonora". De fato, gravamos o piloto dentro do estúdio da TV Cultura, a tocar "Anjo Rebelde", mas o programa nunca foi ao ar, para frustrar-nos, pois uma nova atração nos moldes da velha, A Fábrica do Som, seria muito salutar não somente para nós, mas para toda a cena da época.

2) LP: Claro que anunciávamos o lançamento do EP e aproveitamos para anunciar também que o compacto estava a esgotar-se em sua primeira tiragem.

3) Rádio: Falamos sobre a movimentação de rádio que tínhamos feito recentemente.

4) Toque: Fizemos uma propaganda de apoio para a Baratos Afins, a nossa gravadora, ao indicar os discos que o produtor fonográfico, Luiz Calanca, estava a lançar naquela ocasião.

5) Shows: Anunciamos shows que faríamos no futuro próximo, incluso um, que culminou em mão concretizar-se, para a cidade de Americana, no interior de São Paulo.

6) Fã-Clubes: Descrevemos alguns Fã-Clubes que nos apoiavam, a pontuar uma ação de colaboração mútua, muito parecida com o que ocorre nos dias atuais nas redes sociais em termos de sites e Blogs da internet.

Enfim, esses foram os assuntos e o jornal saiu com uma foto promocional da formação de 1985, logicamente, com a presença do hoje saudoso, Fran Alves.


Continua...

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