Com pouco tempo para divulgar o próximo show,
realmente a perspectiva não foi das melhores para essa segunda investida
no Teatro Dias Gomes. E o fato desse show estar marcado para o domingo de carnaval, potencializou mais ainda tal impressão. O fato, é que não tivemos meios para realizar uma divulgação a contento, e contamos com um reduzido público em torno de cinquenta pessoas no teatro. Embora
o público tivesse sido aquém do que esperávamos, tivemos alguns
aspectos positivos nesse segundo show. Primeiro, que a montagem do
equipamento e a realização do soundcheck foram muito mais tranquilos do que na primeira
ocasião ali empreendida, quando dividimos o show com o Golpe de Estado.
O simples fato
de não sermos atrapalhados pela trupe de atores do grupo Menestréis, do
Oswaldo Montenegro, colaborou muito nesse êxito. O segundo ponto
foi inusitado: mesmo sem o reforço de equipamento que tivemos no
primeiro show, conseguimos contar com um som de P.A. e monitoração de palco,
muito melhor. Com calma e muita boa vontade, o técnico de som do
Teatro, um sujeito chamado, Yves, conseguiu extrair ao máximo os parcos recursos disponíveis, ao produzir
um som melhor, com o fraco P.A. disponível no teatro, que convenhamos,
era adequado somente para suprir a sonoplastia de peças teatrais, e
não para shows musicais, mais ainda show de Rock. Portanto,
apesar dos pesares, o segundo show foi muito melhor tecnicamente a falar,
e foi uma pena ter tido um público muito menor.
Fizemos amizade
com o técnico, Yves, e surgiu um convite inusitado da parte dele, para
diminuirmos o tamanho e o peso do órgão Hammond do Rodrigo. Segundo
ele, isso poderia ser providenciado facilmente, pois estava habituado a trabalhar nesse sentido em sua oficina. Ele passou-nos então o endereço da sua oficina, onde
fabricava caixas de P.A; potências, caixas de monitor etc. Alguns
dias depois, fomos lá com o órgão e conhecemos o seu ambiente de trabalho. Realmente
ele tinha uma infinidade de caixas e equipamentos que fabricava sozinho, sem
funcionários, de forma artesanal. Bem equipado por um maquinário adequado, mediante uma
infraestrutura bem razoável, ele surpreendeu-nos também por usar métodos pouco
usuais para potencializar os alto-falantes que produzia. Em um dos gabinetes, havia uma
pirâmide de médio porte ali instalada, onde ele deixava os alto-falantes recém fabricados para ser
energizados, ao demonstrar ostentar conhecimentos da matéria de radiestesia.
Particularmente, eu achei muito interessante essa abordagem. O
ponto chato nessa nossa investida foi que a casa dele ficava localizada em um
terreno em declive e dessa forma, suamos, literalmente, para colocar o
órgão Hammond lá embaixo. E pior que isso, o Yves acabou procurou-nos posteriormente para alegar estar sem tempo, e assim, ele pediu para buscarmos o
instrumento, pois não teria condições de realizar o trabalho de redução no
pesado móvel. Sem alternativa, só restou-nos voltarmos à sua casa, em um distante bairro da zona norte de São Paulo, e apanharmos o instrumento.
O
show no Teatro Dias Gomes que eu comentei neste trecho, realizou-se no dia
4 de março de 2001, sob a audiência de cinquenta pessoas. E diga-se de
passagem, foram poucos, mas animados espectadores, e que saíram contentes
do teatro, pela nossa performance. Acredito que para atrair um bom público em pleno domingo de carnaval para
ver um show de Rock, é preciso uma divulgação muito forte e o que
tínhamos em mãos naquela ocasião, foi uma verba curta para produzir cartazetes e
poucas filipetas, apenas. Em uma cidade da proporção de São Paulo, não daria nem para divulgar no bairro onde se localizava o Teatro. E
como agravante, computo o fato do Teatro Dias Gomes, apesar de ter
ótima localização (em uma conhecida rua de muito movimento de ônibus, e a
dois quarteirões de uma estação de Metrô), ter pouca ou nenhuma tradição
como espaço musical, apesar de estar arrendado há anos pelo Oswaldo
Montenegro. Parece que somente o público dele o frequenta, pois eu não observava outras produções ali realizadas.
E
como terceiro fator, o fato da estratégia do Junior ser ultrapassada.
De fato, nos anos sessenta e setenta, foi muito comum desbravar um lugar,
e na base do "boca-a-boca", criar atmosfera para novas investidas em um
curto prazo, com o público a entusiasmar-se e assim arregimentar mais gente a
cada aparição do artista. Mas infelizmente, a partir dos anos oitenta,
essa dinâmica havia mudado, e a tendência que persiste até os dias atuais
é a da mentalidade para se assistir uma vez, e não nutrir vontade de ver
novamente. Ou seja, não há um comprometimento, uma simbiose entre
artista e fãs. Dessa forma, sem "seguir" o artista, como foi comum em décadas passadas, um bom show realizado não garante a
realização vitoriosa de outro a seguir, no mesmo local. Pelo contrário, a
tendência é a da segunda tentativa redundar em melancólico fracasso.
Continua...
Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sábado, 23 de maio de 2015
Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 79 - Por Luiz Domingues
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