sábado, 23 de maio de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 79 - Por Luiz Domingues

Com pouco tempo para divulgar o próximo show, realmente a perspectiva não foi das melhores para essa segunda investida no Teatro Dias Gomes. E o fato desse show estar marcado para o domingo de carnaval, potencializou mais ainda tal impressão. O fato, é que não tivemos meios para realizar uma divulgação a contento, e contamos com um reduzido público em torno de cinquenta pessoas no teatro. Embora o público tivesse sido aquém do que esperávamos, tivemos alguns aspectos positivos nesse segundo show. Primeiro, que a montagem do equipamento e a realização do soundcheck foram muito mais tranquilos do que na primeira ocasião ali empreendida, quando dividimos o show com o Golpe de Estado.
O simples fato de não sermos atrapalhados pela trupe de atores do grupo Menestréis, do Oswaldo Montenegro, colaborou muito nesse êxito. O segundo ponto foi inusitado: mesmo sem o reforço de equipamento que tivemos no primeiro show, conseguimos contar com um som de P.A. e monitoração de palco, muito melhor. Com calma e muita boa vontade, o técnico de som do Teatro, um sujeito chamado, Yves, conseguiu extrair ao máximo os parcos recursos disponíveis, ao produzir um som melhor, com o fraco P.A. disponível no teatro, que convenhamos, era adequado somente para suprir a sonoplastia de peças teatrais, e não para shows musicais, mais ainda show de Rock. Portanto, apesar dos pesares, o segundo show foi muito melhor tecnicamente a falar, e foi uma pena ter tido um público muito menor.

Fizemos amizade com o técnico, Yves, e surgiu um convite inusitado da parte dele, para diminuirmos o tamanho e o peso do órgão Hammond do Rodrigo. Segundo ele, isso poderia ser providenciado facilmente, pois estava habituado a trabalhar nesse sentido em sua oficina. Ele passou-nos então o endereço da sua oficina, onde fabricava caixas de P.A; potências, caixas de monitor etc. Alguns dias depois, fomos lá com o órgão e conhecemos o seu ambiente de trabalho. Realmente ele tinha uma infinidade de caixas e equipamentos que fabricava sozinho, sem funcionários, de forma artesanal. Bem equipado por um maquinário adequado, mediante uma infraestrutura bem razoável, ele surpreendeu-nos também por usar métodos pouco usuais para potencializar os alto-falantes que produzia. Em um dos gabinetes, havia uma pirâmide de médio porte ali instalada, onde ele deixava os alto-falantes recém fabricados para ser energizados, ao demonstrar ostentar conhecimentos da matéria de radiestesia. 


Particularmente, eu achei muito interessante essa abordagem. O ponto chato nessa nossa investida foi que a casa dele ficava localizada em um terreno em declive e dessa forma, suamos, literalmente, para colocar o órgão Hammond lá embaixo. E pior que isso, o Yves acabou procurou-nos posteriormente para alegar estar sem tempo, e assim, ele pediu para buscarmos o instrumento, pois não teria condições de realizar o trabalho de redução no pesado móvel. Sem alternativa, só restou-nos voltarmos à sua casa, em um distante bairro da zona norte de São Paulo, e apanharmos o instrumento. 

O show no Teatro Dias Gomes que eu comentei neste trecho, realizou-se no dia 4 de março de 2001, sob a audiência de cinquenta pessoas. E diga-se de passagem, foram poucos, mas animados espectadores, e que saíram contentes do teatro, pela nossa performance. Acredito que para atrair um bom público em pleno domingo de carnaval para ver um show de Rock, é preciso uma divulgação muito forte e o que tínhamos em mãos naquela ocasião, foi uma verba curta para produzir cartazetes e poucas filipetas, apenas. Em uma cidade da proporção de São Paulo, não daria nem para divulgar no bairro onde se localizava o Teatro. E como agravante, computo o fato do Teatro Dias Gomes, apesar de ter ótima localização (em uma conhecida rua de muito movimento de ônibus, e a dois quarteirões de uma estação de Metrô), ter pouca ou nenhuma tradição como espaço musical, apesar de estar arrendado há anos pelo Oswaldo Montenegro. Parece que somente o público dele o frequenta, pois eu não observava outras produções ali realizadas.

E como terceiro fator, o fato da estratégia do Junior ser ultrapassada. De fato, nos anos sessenta e setenta, foi muito comum desbravar um lugar, e na base do "boca-a-boca", criar atmosfera para novas investidas em um curto prazo, com o público a entusiasmar-se e assim arregimentar mais gente a cada aparição do artista. Mas infelizmente, a partir dos anos oitenta, essa dinâmica havia mudado, e a tendência que persiste até os dias atuais é a da mentalidade para se assistir uma vez, e não nutrir vontade de ver novamente. Ou seja, não há um comprometimento, uma simbiose entre artista e fãs. Dessa forma, sem "seguir" o artista, como foi comum em décadas passadas, um bom show realizado não garante a realização vitoriosa de outro a seguir, no mesmo local. Pelo contrário, a tendência é a da segunda tentativa redundar em melancólico fracasso.

 Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário