domingo, 31 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 292 - Por Luiz Domingues


Apesar de estarmos no fim de maio, no Rio de Janeiro, o outono quase a beirar o inverno não esteve muito refrescante, e por ter sido assim, na tarde em que o show transcorreu, se mostrou bem quente para nós paulistanos, acostumados com temperaturas muito mais amenas. E por que estou a fazer tal consideração meteorológica? No decorrer da narrativa o leitor vai entender tal menção...
Resenha do nosso show realizado no salão de festas dalmeiras, semanas antes, publicada na Revista Metal

Chegamos no início da tarde no Rio, e logo que avistamos as imediações do colégio estadual onde o "Caverna II" se realizava, vimos um bom contingente de Rockers nas imediações, a denotar que teríamos mesmo um grande público.  

Ao ingressarmos no local, ficamos contentes por verificar que fomos saudados por muita gente, que nos conhecia. Naquela altura, 1986, já tínhamos quatro anos de esforços empreendidos, e o resultado de tal labuta foi um bálsamo para nós. Após tantas reportagens em jornais e revistas; dois discos; aparições na TV, e principalmente pela força que a Rádio Fluminense FM sempre nos deu, tínhamos muitos fãs no Rio, e sem medo de faltar com a modéstia, creio que eram muitos, mesmo.

Claro que a nossa motivação com tal simples recepção já potencializou-se de forma contundente. Estávamos bem ensaiados, motivados e também vindo de um bom embalo de shows realizados recentemente, portanto, prontos para fazer uma grande apresentação, que certamente sanaria a expectativa daquele público em grande número que esteve ali presente.
E na edição anterior da Revista Metal, Rubens e Beto receberam citação an passant, como "personalidades" presentes em um show do grupo, "Platina" no Teatro Artur Azevedo, em São Paulo

Fizemos um soundcheck muito rápido, por que os shows estavam programados para começar ainda ao final da tarde, antes do crepúsculo. O palco não era muito grande e mostrava-se bem rústico. Era um auditório cimentado, que naturalmente era usado para apresentações de teatro amador dos alunos, ou festivais musicais amadores. Era um enorme retângulo, com janelas laterais bem antigas e enormes, denotando ser uma construção dos anos trinta ou quarenta, talvez.

Deu tempo para encerrar o soundcheck na ordem decrescente do line up do show, e sob uma questão de minutos, a primeira banda já estava no camarim a se preparar rapidamente, e aliás, a ser  devidamente pressionada a subir no palco, imediatamente. Tratou-se do grupo "Fim do Mundo", que parecia produzir um som ao sabor do Hard-Rock oitentista, com um pé além no quesito do "peso". Não recordo-me de nada muito extraordinário na apresentação desses rapazes que valha a pena destacar aqui, no entanto.

Em seguida, o Azul Limão entrou em cena. Se tratou de uma banda de um outro nível musical, sem dúvida. Apesar de praticar o típico Hard-Rock oitentista, os rapazes tinham boas influências setentistas na bagagem, e isso fazia a diferença no palco. Era uma boa banda, e de certa forma, mantinha algumas similaridades sonoras com a nossa, principalmente depois que o Beto Cruz ingressou em nossas fileiras, para tornar A Chave do Sol, bem mais Pop sob a mentalidade mais próxima do mainstream radiofônico. Tal banda fez uma boa apresentação, e o seu público foi, logicamente, bem grande, por tocar em seus domínios, sendo uma banda carioca. 

Foi, devo acrescentar, uma gentileza da parte do Marco, guitarrista do Azul Limão, nos deixar como headliner da noite, pois a intenção do produtor, "Alemão", fora que tocássemos como a segunda atração da noite.

O calor já era insuportável durante o show do Azul Limão, e quando entramos no palco, mesmo ainda sem a iluminação acionada, o calor se provou inacreditável. As paredes estavam úmidas e lembravam as paredes do saudoso Teatro Lira Paulistana, onde esse fenômeno acorria sempre que a casa lotava. Mesmo com as tais janelas que mencionei acima, abertas, o espaço retangular do auditório fazia com que as pessoas ficassem absolutamente comprimidas, a potencializar a sensação de calor no ambiente. Quando começamos a tocar, o público entrou em um frenesi que foi impressionante. Claro que nos empolgamos e tocamos com uma volúpia muito grande, ao darmos a resposta adequada à expectativa gerada, mas com aquele calor, e a agravante da iluminação acrescida do uso da malfadada máquina de fumaça, "Smoke Mary", eis que fez com que a temperatura subisse muito mais.

Eu tocava e sentia a minha camisa completamente ensopada, mas pior que isso, por ser uma camisa com o seu tecido de seda muito fina, percebi que deteriorava-se, literalmente, pelo suor corrosivo e potencializado pelo calor excessivo dos spots de luz. Apesar disso, a performance estava sensacional, com o Beto a dominar a plateia com as suas investidas, ao cobrar-lhes interatividade, e os demais a tocar com aquela garra que caracterizava a banda desde seus primórdios. No entanto, por volta do final do show, tivemos um tremendo susto... 
Continua...

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