sábado, 30 de maio de 2015

Autobiografia na Música - A Chave do Sol - Capítulo 283 - Por Luiz Domingues



Chegamos à cidade de Bragança Paulista/SP na tarde do dia do show. O cronograma estava todo sob controle e tudo correu como o combinado, com o clube em que tocaríamos já aberto conforme o combinado, e o pessoal do PA. e luz contratados, a trabalhar em seu interior, além das faixas espalhadas na cidade, intactas.

Apesar de ter sido uma tarde fria de outono, o tempo esteve bom e o sol predominara, ou seja, não houve nenhum indício de que poderia chover, para atrapalhar os nossos planos.

Deixamos os nossos instrumentos no local com os roadies, Edgard Puccinelli e Eduardo Russomano, que a partir desse show  acompanhar-nos-ia, dali até 1987, com regularidade, e fomos para a emissora de rádio local, onde concedemos uma rápida entrevista ao vivo e dessa forma reforçamos o convite para o público de Bragança Paulista nos acompanhar, mais a noite, ao vivo no show.

Na passagem de som, tudo ocorreu com normalidade, com apenas um acidente a ser registrado.

Como eu já explicitei por diversas vezes, desde os primórdios da história d'A Chave do Sol, o Zé Luiz sempre foi o nosso coringa para qualquer tipo de serviço emergencial. A sua capacidade criativa para dar um jeito em tudo, era notável. Desta feita, na falta de uma verba para elaborar um cenário que quebrasse a rudeza estética do salão daquele clube, resolvemos levar conosco o cenário que havíamos elaborado para os shows de lançamento do EP, meses antes, no Teatro Lira Paulistana de São Paulo, com exceção do painel do Ser Humano masculino nu, que realmente não passava a ideia pura de humanismo que imagináramos, mas em um país de mentalidade lasciva, foi objeto pronto para chacotas que desviavam o foco de nossos propósitos, digamos assim...

Então, a ideia foi usar a parte que dava o formato de fechadura em 3D, com elevações de uma instalação simples de cunho cênico, mas que fornecia um belo efeito visual e simbólico ao show. E quem saberia instalar aquilo?

Pois lá estava o Zé Luiz pendurado em uma enorme escada de pintor de paredes, a trabalhar com uma furadeira, quando um dos roadies foi buscar o tecido, enrolado em uma enorme bobina de papelão. Ao apanhá-lo, o nosso ajudante descuidou-se e a cena que vimos foi bizarra, com a bobina desgovernada em suas mãos, a bater com contundência na escada, para derrubá-la, sem chance de que se evitasse tal desastre.

Lembro-me de ter ficado em choque por antever, naquela fração de segundos, o Zé Luiz a sofrer uma queda feia, e quiçá a se contundir com gravidade. No entanto, ele teve um sangue frio extraordinário, pois ao sentir o impacto, largou a furadeira sem pestanejar e manteve-se equilibrado o suficiente para saltar quando a escada quase tocava o piso do palco, a minimizar a sua queda.

A sua experiência na Faculdade de Educação Física o fizera aprender a minimizar quedas, sem dúvida. Então, nada de mais grave ocorreu, nem mesmo com a furadeira que ele jogou no solo, para evitar algo pior. Passado esse susto, o soundcheck foi tranquilo, embora no salão vazio, a reverberação tenha nos preocupado, mas como sabíamos, na hora do show, com um bom público, tal tipo de dificuldade sonora sempre se minimiza, em tese, pois muitos corpos humanos aglomerados, tendem, acusticamente a falar, a abafar a reverberação natural de um espaço físico. Posto isso, nesse instante, seria apenas descansar; jantar e esperar a hora do show...

Continua... 

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