domingo, 20 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 136 - Por Luiz Domingues

Sendo assim, pequenas dificuldades que surgiam eram sanadas na base do mutirão, com sempre alguém a se lembrar de um vizinho, de um primo, ou alguém que possuísse uma alternativa
mais viável em mãos, e assim, uma pessoa pegava o carro incontinente, à cata de tal aparelho oferecido. E assim, um P.A. razoável foi montado, com uma mesa, potências, alguns paramétricos, multicabo e microfones para suprir todas as necessidades mínimas da banda. Não foi nem de longe o ideal, mas o esforço em ritmo de mutirão fora notável e o show esteve garantido. 


O mesmo ocorreu com o equipamento de iluminação. na base do improviso e camaradagem, duas torres laterais foram montadas com spots de 500.  Se tratou de um nítido equipamento usado por bandas de bailes e parecia ser dos anos 1960, pela sua aparência, ao remeter a bandas da Jovem Guarda. Claro que não fora o ideal, também, mas remediou a situação de forma bem razoável. 

Agora, eu devo relatar fatos ocorridos durante esse soundcheck. 

Da esquerda para a direita, Rodrigo Hid, o dono da loja "Cosmic", Marcello Schevano e Rolando Castello Junior, no interior da loja citada.

O primeiro, e muito positivo ponto, foi que recebemos a visita de um rapaz que patrocinara o material de divulgação do show. Foi o dono da loja de discos de Rock, local, chamada: "Cosmic". Ao seguir a tendência que existia nas grandes cidades interioranas, havia sempre, pelo menos uma loja desse estilo, a se parecer com as lojas da Galeria do Rock, de São Paulo. Muito simpático e solícito, o seu proprietário nos convidou a visitar a sua loja, que ficava localizada bem próxima da casa onde tocaríamos, em uma travessa da Avenida São Carlos. Claro, deixamos com ele, discos da Patrulha do Espaço para abastecê-lo e no show, ele veio nos prestigiar acompanhado de sua esposa.

O outro fato ocorrido, foi engraçado, e absolutamente bizarro. Estávamos a cumprir a obrigação do soundcheck, e naquele instante a executar a música: "Ser", quando vimos uma pessoa estranha a entrar no recinto. Continuamos a tocar normalmente, ao considerarmos se tratar de alguém ligado à casa, uma funcionária talvez, ou mesmo, que fosse uma pessoa autorizada para transitar por ali, pelos proprietários.

Tratou-se de uma mulher rude, bastante masculinizada, a trajar calça jeans de corte masculino, camiseta com o logotipo do Kiss e boné virado para trás. Ela entrou com um semblante fechado e de súbito, começou a dançar, ao aumentar a sua volúpia, à medida que tocávamos. Em um dado momento, os seus seios ficaram à vista, mas ela não demonstrava nenhum pudor em conter a natureza diante de seus movimentos bruscos, e pela ausência de uma sustentação estratégica e típica do vestuário feminino, digamos assim. Ao ficar frenética, ela dançava como louca e urrava, para despertar a nossa atenção. Ríamos da situação, ao considerá-la apenas uma desequilibrada de ocasião.

Então, eis que nós paramos de tocar bruscamente, pois aquele momento ali não era de show, e para quem não sabe, em meio ao exercício de um soundcheck, se para toda hora, assim que alguém da banda ou o próprio técnico de som, detecta um problema sonoro a ser sanado. Nesse momento, a mulher ficou ensandecida e aos berros, nos exortou a continuar a tocar, pois tomara a nossa parada como uma afronta pessoal, para irritá-la propositalemente. Foi quando ela berrou com a voz de um troglodita: -"por que parou?  Toca um KiiiSSSS!"

Nunca esquecer-me-ei de sua queixa, com uma voz gutural e cavernosa, que faria vocalistas de Heavy Metal ficarem com inveja! Convidada a se retirar do recinto pelos proprietários, ela saiu com bastante agressividade do salão, a xingar a todos, inclusive nós. Depois ficamos a saber que se tratava de uma pessoa conhecida no bairro, uma pessoa carente que vivia embriagada pelas ruas, e apesar de parecer agressiva, não costumava ir para as vias de fato, ao ficar mesmo só nos insultos. 

O fato de estar a usar uma camiseta do Kiss, e pedir o som dessa banda norte-americana para continuar a dançar, denotara que tinha cultura, e portanto, em algum momento da vida se perdera socialmente, e se estava como uma sem-teto/desalentada, certamente fora por situações alheias à sua vontade. Ou não...

Voltamos para o hotel, jantamos, e na hora combinada fomos para o bar. A casa estava abarrotada. O esforço empreendido pelo pessoal do "Homem com Asas" e igualmente pela sua rede de amigos fora notável. Uma matéria saíra também no jornal local, a nos dar apoio. Apesar do equipamento improvisado, teria tudo para ser uma grande noitada de Rock.

Continua...

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