terça-feira, 29 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 160 - Por Luiz Domingues

O dia livre na chácara da família do guitarrista, Evandro Demari, foi um verdadeiro "spa" para nós. Apesar do clima tenso orquestrado pelo motorista e a sua comitiva, estávamos alheios às suas bravatas, e sabíamos que ele pronunciar-se-ia a qualquer momento.

Enquanto aguardávamos a manifestação do rapaz, descansávamos e aproveitamos a estrutura da chácara. Lembro-me de um futebol animado no campo bem estruturado, piscina, muita uva colhida in natura na enorme videira da propriedade, muita música etc.


Por volta das 17:00 horas, recebemos o telefonema do motorista, a nos informar que havia tomado a decisão de voltar imediatamente para São Paulo, e que passaria na chácara apenas para deixar o nosso equipamento e partir. Então ele chegou e surpreendeu-se pois a nossa postura foi a de continuar a jogarmos bola no campo, com outros na piscina, e ninguém a transparecer estar preocupado com a sua bravata descabida. 

Então, mediante uma conversa onde a ponderação de bom senso prevaleceu de nossa parte, e ele felizmente permaneceu quieto, o destituímos da falsa impressão de que haveria um suposto desdém por ele, sua família e pelo carrier, que era o seu fiel escudeiro. Mostramos para eles que não havia nenhum cabimento para pensarem em contrário e que deveriam usufruir da estrutura da chácara, e não se segregarem em um hotel, e ainda por cima a gastar dinheiro do bolso. 

Enfim, a contragosto, ele aceitou a nossa argumentação, mas com o semblante fechado, como se o seu orgulho fosse maior que a razão. Nesse caso, o que poderíamos fazer?

Bem, nessa altura o seu filho que devia ter cerca de quatro ou cinco anos de idade na ocasião, já estava se a divertir na piscina, brincar com uma bola e a interagir conosco, o que provou que o clima era fraterno e só ele havia detectado o suposto "desdém" de nossa parte, e daí, houvera contaminado a sua esposa e o carrier. A sabedoria da criança, através de sua ingenuidade, falou mais alto.

O resto do dia foi marcado pela recuperação da relação azeda, mas a verdade é que nunca mais nos acertamos e não só por conta desse episódio, mas por uma série de acontecimentos somados que a nossa insatisfação com ele inviabilizou a parceria doravante.

O sujeito tentou criar esse clima para estabelecer um certo domínio da situação, e nós não poderíamos ficar em suas mãos, sob coação, a aceitar tal procedimento. Então, a "luz amarela" acendeu nesse dia, mas a verdade foi que a relação já vinha a azedar desde algum tempo. Daí em diante, começamos a cogitar a hipótese de comprar a sua parte na sociedade, com o intuito de assumirmos o veículo. Claro que acarretar-nos-ia muito aborrecimento inerente com tal responsabilidade, mas a perspectiva de não ficar à mercê de chantagens baratas como essa que enfrentamos, foi bastante animadora. 
Bem, com o dia livre, todos desejaram passear por Bento Gonçalves-RS após o jantar. De fato, trata-se de uma cidade muito bonita, com um infraestrutura excelente e forte identidade cultural regional, como acontece em todo o estado do Rio Grande do Sul. Somente eu não quis sair à noite, ao preferir ficar no conforto da chácara.

No dia seguinte, domingo, acordamos tarde e partimos na hora do almoço para a segunda cidade dessa etapa da turnê. A distância entre Bento Gonçalves e São Leopoldo era bem pequena e dessa forma, não haveria a necessidade de sairmos cedo, mesmo por que, o soundcheck na casa onde apresentar-nos-íamos, seria apenas no final da tarde, portanto, teríamos tempo de sobra. Deu para pararmos na estrada, para uma exótica sessão de fotos com uma carcaça de avião que servia como enfeite para um posto de gasolina, nas proximidades de Caxias do Sul-RS. Temos até uma filmagem de bastidores com essa parada, e um dia será disponibilizada, ou em DVD, ou direto no YouTube. 

Chegamos em São Leopoldo-RS por volta das 15:00 horas e logo o nosso contato na cidade apareceu. Tal rapaz, chamado: Luciano Reis, era um fã da banda e músico também, sendo que sua banda faria o show de abertura naquela noite.

Ele desdobrou-se para nos proporcionar as melhores condições possíveis, e tornar-se-ia um grande amigo da banda doravante, não apenas nessa ocasião, mas como em diversas outras ocasiões em que fomos ao sul.

Esse show seria o oposto do show que fizéramos na sexta-feira em Bento Gonçalves, pelo bem e pelo mal: pelo bem, ao contrário da plateia com frequência burguesa daquela casa noturna, nós teríamos um público Rocker, quentíssimo. Pelo mal, a casa em que tocaríamos era muito simples, e a sua infraestrutura, muito precária.


Continua... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário