terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 149 - Por Luiz Domingues

Chegamos na cidade de Limeira com o dia a amanhecer, domingo, 6 de janeiro de 2002. Não tínhamos nenhum compromisso na cidade antes do soundcheck, marcado para as 15:00 horas, pois ao se tratar de um domingo, não faríamos as costumeiras visitas à lojas de disco, tampouco haviam entrevistas agendadas em nenhum órgão de imprensa local. A ideia portanto, foi dar entrada em um hotel e descansar na parte da manhã, almoçar e descansar mais, pois a casa em que apresentar-nos-íamos só abriria naquele horário que mencionei acima. Todavia, com preços proibitivos, hotéis mais categorizados ficaram inviáveis e dessa forma, a nossa busca centrou-se nos mais baratos e nessa circunstância, fomos parar nos arredores da rodoviária da cidade.  
Como é público e notório, hotel de entorno de rodoviária, tende a não ser o tipo de estabelecimento indicado para quem deseja apenas dormir e dessa forma, fomos entrar em pulgueiro e tanto. Até aí, tudo bem, a nossa banda não era formada por estrelas exigentes que dão chiliques quando não são atendidas em suas reivindicações mais básicas. Ali era uma turma "sem frescuras", e se fosse necessário dormir no próprio ônibus, ninguém reclamaria, com certeza. Mas na falta de um lugar seguro, priorizamos parar em um hotel que ao menos possuísse uma garagem que comportasse o nosso ônibus, e nessas circunstâncias, quase todo hotel normal só comportava carros de passeio.  
Com o backline da banda todo no nosso bólido, não dava para arriscar deixá-lo na rua, e assim, fomos parar nessa pocilga. Se tratava de um hotel de frequência rápida, digamos assim, e a simples presença de um bando de cabeludos, já chamava a atenção de uma forma absurda. Eu até me divertia com esse tipo de situação, pois me sentia nos anos sessenta, a gerar estupefação entre caipiras de cidades pequenas norte-americanas no calor do Flower-Power, o que não deixou de conter um glamour enviesado, eu diria. Mas o pior estava por vir, pois quem conseguiria dormir com gritos e tiros?  

Pois é, segundo apuramos depois com amigos de Limeira, mais que barra pesada por ser entorno de rodoviária, aquela região era a "cracolândia" da cidade, e ali a prostituição, tráfico de drogas e abordagens criminosas mediante armas, era uma constante.  

De fato, a rua estava forrada por prostitutas seminuas, mas com todo o respeito que todo ser humano merece, a pergunta foi: quem em sã consciência pagaria para fazer sexo com aquelas "moças" (que na verdade aparentavam serem bem "veteranas"), tão prejudicadas pela aparência nada atraente? Mesmo assim, o carrier, e dublê de roadie que o sócio-motorista nos arrumara, animou-se com as opções femininas que vira encostadas na parede em frente ao hotel, e assim, foi gastar o seu cachê do show da noite anterior, e digo mais: feliz da vida. Em suma: há gosto e estômago para tudo neste mundo, definitivamente.

Quanto aos tiros, eram decorrentes de pequenas ações criminosas, talvez acerto de contas de traficantes, e coisas do gênero.  

Sem condições de dormir com um mínimo de silêncio naquele momento, encaramos o café da manhã que começava a ser servido. mas quando vimos as opções disponibilizadas na mesa, desanimamos. Ficou só pelo café, pois era um ambiente nada asseado e os produtos oferecidos, de má qualidade, mas perfeitamente compatíveis com o padrão do hotel, e a tarifa da diária.

Bem, diante desse quadro perturbador, só conseguimos pregar os olhos quando a manhã já estava na sua metade, e o sol a pino com o típico calor interiorano a se pronunciar. Mas nesse instante, houve os pernilongos e as pulgas, portanto, dormir mesmo, foi um luxo inacessível naquele momento!  

Bem, não éramos os Rolling Stones, e se hoje esse relato desperta-me risadas, e muito provavelmente o leitor também ache graça da situação, na hora do ocorrido, não foi bem assim que reagimos.

Acordamos então, mas ainda não revigorados devidamente e tratamos de sair daquela espelunca. Por volta do meio dia, o clima de decadência da rua do hotel, amenizara-se. Era possível sair à rua sem a certeza de que seríamos vítimas de um assalto. Fomos então para as imediações da casa onde tocaríamos, aí sim localizada em um bairro residencial decente e tratamos de arrumar um lugar para almoçar e completar a longa espera pela sua abertura e realização do soundcheck.  
O estabelecimento se chamava: "Bar da Montanha" e desta feita se tratara de uma casa com forte tradição Rocker na cidade, e em toda a região. Foi a primeira vez que tocamos ali, mas só pela sua fachada, já nos sentimos mais adequadamente à vontade, com pinturas na parede, a ostentar motivos psicodélicos e caricaturas de astros do Rock das décadas de 1960 & 1970. Mesmo que a infraestrutura não fosse boa, haveria de ser um show muito melhor do que o da noite anterior, quando tocamos para um público avesso à nossa proposta.
Continua...

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