terça-feira, 22 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 156 - Por Luiz Domingues

Nesse instante tivemos uma viagem cansativa de fato, ao atravessarmos os três estados do sul do Brasil. Não foi apenas pelo cansaço da longa jornada que esteve em jogo, mas na verdade foi um teste e tanto para o nosso ônibus. Será que ele aguentaria o tranco de enfrentar mais de dois mil Km, sob o sol ardente do verão? Bem, não tivemos uma outra alternativa a não ser apostar no bólido, não é mesmo?  
Partimos então para a nossa primeira turnê no Rio Grande Do Sul, com essa formação, pois a Patrulha do Espaço mantinha uma forte tradição naquela estado, desde a época de seus primórdios, nos anos setenta. Claro que esse carinho do público Rocker gaúcho para com a Patrulha do Espaço, foi um fator de esperança para nós, em meio a essa nova investida.

O nosso primeiro alvo foi a cidade de Bento Gonçalves, na Serra Gaúcha, com um show a ser feito em uma casa noturna, na sexta-feira. Haveria um show em Caxias do Sul no sábado, mas este fora cancelado, infelizmente, ao nos deixar sem atividade para o sábado, contudo, aproveitamos bem o dia, conforme eu contarei a seguir. No domingo, a apresentação seria em São Leopoldo, e na segunda-feira, em Porto Alegre. 

Saímos de São Paulo na quinta, logo após o almoço, ao visarmos cumprir uma viagem tranquila, sem correria, e com a possibilidade de parar em algum lugar entre o Paraná e Santa Catarina, para dormir e prosseguir no dia seguinte com tranquilidade.  
O calor estava bem forte e apesar dos estados do sul serem tradicionalmente os mais frios do Brasil, com invernos rigorosos de padrão europeu, o verão é tórrido também por lá e nesses termos, não podíamos forçar o ônibus em uma jornada tão quente.

O primeiro trecho entre São Paulo e Curitiba é bastante tenso, com muitos caminhões sob um longo trecho de serra, onde a velocidade é reduzida para um ônibus velho, sem o advento de um motor turbo. Logo após a fronteira com o Paraná, decidimos parar em uma estalagem à beira da estrada. Não foi uma lanchonete de posto de gasolina, mas uma exótica casa encravada em uma encosta da serra, a se parecer com um saloon de velho oeste. 
Ali renovamos as forças a nos refrescar com bebidas geladas e definitivamente estávamos fora de São Paulo, ao ouvir o forte sotaque paranaense dos funcionários da casa, com a nítida influência do polonês na sua maneira de pronunciar as palavras. Seguimos em frente e logo avistamos a cidade de Curitiba, pois quem conhece aquela região, sabe que logo que se cruza a fronteira entre os dois estados, a capital paranaense não tarda a se aproximar, com poucos Km de percurso.  
Nesse momento, o Junior nos contou sobre as suas reminiscências de quando morou em Curitiba, a cena local nos anos noventa etc. E que bela visão é Curitiba, uma metrópole vistosa, com ares americanizados (no bom sentido), vista de forma panorâmica pela estrada, en passant.  
Mas nem entramos na capital paranaense. Seguimos em frente pela BR 116, em uma linha reta em direção à Porto Alegre. Existe a bifurcação logo após Curitiba onde é possível trocar de estrada e prosseguir pela BR 101, onde toma-se o rumo para Joinville em Santa Catarina, rumo à Florianópolis. Também se chega à Porto Alegre por ela, mas a volta é maior, apesar do caminho ser muito mais bonito, pois há grande trechos a margear o mar de Santa Catarina, e do próprio Rio Grande do Sul.

Mas não estávamos ali a turismo e portanto, a opção mais objetiva foi seguir em frente, ao descer em linha reta o território do Paraná em direção à Santa Catarina. Eram quase nove da noite quando o nosso motorista pediu para parar, pois estava no seu limite, fatigado. Claro que acatamos, e o apoiamos. Não havia motivo para corrermos mais riscos com o motorista bastante cansado, e a noite já em alto curso.  
Paramos na pequena cidade de Mafra, em Santa Catarina, e dormimos em um hotel de beira de estrada, que apesar de ser simples, era muito organizado e confortável, ao nos surpreender-nos positivamente. Combinamos de sairmos bem cedo, por volta das seis horas da manhã, para não nos surpreendermos com alguma eventualidade da estrada. 

O ônibus seguia bem, sem nenhum problema e por sairmos cedo, chegaríamos em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, na metade da tarde, sem problemas, indo direto para a casa noturna onde tocaríamos, a descarregar o nosso backline, e realizar o soundcheck.
Um problema interno gerado pelo motorista, revelar-se-ia uma pequena bomba relógio com hora para detonar, infelizmente. Dias antes da viagem ele nos comunicou que gostaria de levar sua esposa e filho pequeno, na viagem. Disse-nos que seria uma oportunidade imperdível para passar um tempo prazeroso com a sua família, e sua esposa e filho não conheciam o sul etc. Claro, nos consultou a esperar uma aceitação de nossa parte, pois apesar de ser sócio do ônibus, ele sabia que o objetivo ali era fazer viagens para cumprir-se turnê de uma banda de Rock, ou seja era trabalho para nós, e não turismo.

Bem, na base da camaradagem, claro que aceitamos, mas não ponderamos o que poderia ser constrangedor para nós, e para a família dele. Aquilo era um ônibus de uma banda de Rock e não uma excursão de turismo... então, é claro que conflitos aconteceriam e só seria uma questão de tempo para saber quando iniciar-se-iam...
Continua...

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