domingo, 20 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 141 - Por Luiz Domingues

E lá fomos nós rumo à Jales-SP, para enfrentarmos o maior percurso nessa turnê e sob um calor incrível. Para quem não conhece o estado de São Paulo, informo que Jales fica localizado no extremo noroeste do estado, quase na divisa com Mato Grosso do Sul, e onde através de uma minúscula divisa com Minas Gerais e Mato Grosso do Sul, quase se encontra em Goiás. São Paulo não faz fronteira com Goiás, mas ao atravessar por esse estreito de Minas, são poucos quilômetros para se chegar em uma segunda fronteira. Aula de geografia à parte, um fator foi certo: o calor que faz ali, geralmente é de uma extrema potência e assim, quanto mais nos aproximávamos de Jales, mais sentíamos a temperatura a subir...
Entretanto, houve também o aspecto do calor humano e de fato, assim que chegamos em Jales, fomos muito bem recebidos pelos produtores do show. Eles demonstravam estarem eufóricos com a nossa presença e foi notável o esforço que haviam empreendido para fazer do show, um sucesso.

Haviam faixas expostas nas avenidas, nas praças públicas e pelo pouco que andamos pelo centro da cidade, vimos cartazetes afixados nos estabelecimentos comerciais, a anunciar o show. Lastimavelmente, não tenho nenhum material desses para ilustrar aqui.
Os organizadores nos hospedaram no próprio local do evento, pois se tratara de uma espécie de sítio, um pouco afastado do perímetro urbano, mas nem tanto assim. E nesse local, havia um alojamento isolado, que nos serviu como hotel e camarim ao mesmo tempo. Não continha as mordomias de um hotel formal, mas a vantagem de se estar no palco em menos de um minuto, pareceu conveniente sob uma primeira impressão. Não foi o que ocorreu na prática, a posteriori, mas isso eu conto depois.

Fomos levados para um restaurante próximo, na verdade, um "pesqueiro", esse tipo de estabelecimento que é bastante comum em cidades que tem ligação forte com rios de água doce, e Jales tem essa tradição. Para quem aprecia a pescaria e consequentemente, comer peixes, foi uma aventura e tanto, todavia, eu como vegetariano, fiquei só no prato trivial de arroz, feijão e saladas, mas os meus companheiros esbaldaram-se nos peixes que eram pescados e escolhidos ali mesmo para as refeições.

A banda que faria abertura era formada por rapazes jovens, muito prestativos, mas não eram antenados como a rapaziada do "Homem com Asas", com quem tocamos na noite da quinta feira em São Carlos. Pelas conversas dos rapazes, eles pareciam apreciar referências híbridas e até antagônicas, eu diria, mas não cabe nenhum julgamento, é apenas uma constatação.
O nome da banda foi: "O Velho Lobo", e logo a piada parecia pronta, pois o nome do treinador , Zagallo, foi pronunciado inúmeras vezes naquele dia. E foi até indiscreta tal motivação, pois os rapazes eram muito gentis e claro que a piada não lhes ofendia diretamente, mas era obviamente motivada pelo nome estranho com o qual resolveram batizar a sua banda.

O equipamento alugado para o evento se mostrou com qualidade.
Percebemos que o palco tinha tudo o que precisávamos, com um PA potente a produzir a pressão sonora adequada à expectativa de público que os organizadores esperavam ter ali presente, na hora do show. Segundo nos informaram, a divulgação não se limitara à cidade e havia rumores de que viriam fãs de muitas cidades da região. Mais de cem ingressos foram vendidos na cidade vizinha de Fernandópolis-SP, por exemplo, e uma excursão fora organizada para trazê-los. Um  programa de rádio dessa cidade estava a anunciar há mais de um mês, e verdadeiramente a massacrar uma música na sua programação para auxiliar nessa promoção. Qual música? Foi: "Olho animal", que segundo nos diziam, o público adorava e ansiava que tocássemos...
No entanto, essa música nem constava do set list da banda. Nunca cogitamos incluí-la pois a considerávamos completamente fora da proposta estética adotada desde que voltáramos no início de 1999, e certamente que destoava da nossa "pegada chronophágica"...

Por ser uma canção de uma fase mais pesada da banda, continha um ranço Heavy-Metal oitentista que abominávamos, fora a questão da sua letra, que com todo o respeito ao seu autor, apresenta uma dose de infantilidade enorme.

Surpreendidos com tal afirmativa da parte dos organizadores e também do pessoal da banda de abertura, ficamos muito constrangidos, pois nem teríamos como prepará-la emergencialmente, apesar dela conter uma estrutura harmônica primária. Não haveria como decorar e tocar com desenvoltura. Bem, imaginamos: o público está ansioso pelo show, vai apreciar o tempo todo, e nem vai se lembrar dessa música com o decorrer do espetáculo...
Continua...

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