terça-feira, 1 de setembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 114 - Por Luiz Domingues

Como um típico show promocional produzido por uma estação de rádio FM, havia no ambiente todo um circo armado pela produção de tal emissora, para a sua autopromoção, com tendas estilizadas, carrinhos "envelopados" para a distribuição de souvenirs com a sua logomarca, banners e faixas espalhadas pela unidade toda do Sesc, como se fosse uma quermesse escolar.

Só que houve um detalhe crucial e mórbido nessa equação: o nosso nome não foi mencionado em nenhuma peça publicitária dessas, e nem mesmo no release oficial do evento, estivemos mencionados, portanto, pelas notas de imprensa publicadas, o evento saiu sem menção à nossa participação com as outras bandas.
A resumir-se, ficara nítido que a nossa inclusão fora promovida às pressas e a causar um certo incômodo à produção da rádio, provavelmente por ter sido uma forçação de barra imposta pelo Sesc.
Aquele clima estranho foi bastante desagradável para nós também. Se fôssemos uma banda nova formada por garotos, estaríamos mais confortáveis com tal situação adversa, mas por se tratar de uma banda com a nossa história e a fazer parte de uma árvore genealógica nobre, saída da raiz dos Mutantes, foi no mínimo desrespeitoso por parte da organização, ter nos inserido dessa forma em tal evento.

Bem, claro que eu reconheço que houve o nosso consentimento nessa circunstância, mas eu sei que tamanho sacrifício que fizéramos, ao tentar alinhavar um espaço dentro do universo da estrutura do Sesc, fora também doloroso para a autoestima da banda, e deve ter machucado ainda mais o Rolando Castello Junior, que trazia consigo os anos e anos de labuta & história em suas costas, e esse tipo de afronta à dignidade, certamente incomodava-o em suas entranhas.

Enfim, eu também senti esse disparate, pela minha já longa carreira naquela ocasião, mas claro que Rodrigo e Marcello, muito mais jovens, sentiram menos, por razões óbvias.

Bem, de volta à narrativa, o nosso equipamento foi montado rapidamente pelos roadies e fomos convidados a fazer um soundcheck muito rápido, na medida em que o evento seria realizado ainda no período da tarde, e as outras bandas, que foram na verdade as atrações anunciadas, também desejavam fazer o soundcheck, o quanto antes.

Apesar dessa pressa demasiada, tivemos uma certa boa vontade da equipe terceirizada responsável pelo P.A. e monitoração. Não foi proporcionada para nós uma equalização "dos sonhos", mas também não se caracterizou como a típica "maçaroca" que sempre se espera em shows realizados sem um soundcheck decente.


Lembro-me que ao tocarmos um tema mais complexo como : "Terra de Minerais", ficou um clima de surpresa generalizado, pois desavisados completamente, os técnicos envolvidos na produção, não faziam a menor ideia de quem éramos, tampouco o som que fazíamos. Por completa ignorância, devem ter achado que faríamos um som na linha do Heavy-Metal, ao nos julgar apenas pela nossa aparência a ostentar longas cabeleiras, tão somente, mas ao ouvirem um tema de complexidade musical como era/é "Terra de Minerais", ficaram estupefatos.

Bem nessa hora, eu olhei para trás e vi que os membros do "Biquini Cavadão", estavam a chegar e pararam um pouco para nos ouvir. 
Patrick Laplan, baixista do Biquini Cavadão nesse show que estou a relatar

O baixista, Patrick Laplan, veio até perto do palco e quando me fitou, cumprimentou-me com reverência, a demarcar um sinal de reconhecimento e boa educação. Fiquei contente, pois denotou respeito, além de ter sido a primeira manifestação positiva da parte de alguém naquela tarde, e eu apreciei o gesto cortês do colega.
Quando saímos do palco, no entanto, tivemos uma desagradável surpresa. Foi uma das piores manifestações de mesquinharia que eu presenciei na minha carreira toda, infelizmente.
Um roadie da produção do show, nos advertiu que o técnico de monitoração queria falar conosco. Com o seu semblante cerrado e a exibir uma postura de arrogância incrível, esse rapaz nos disse que havia sido contratado para operar duas bandas e a nossa inclusão fora uma surpresa para ele, portanto, recusava-se a abrir o monitor, se não lhe pagássemos um cachê a ser combinado ali na hora

Ficamos estupefatos pela sua ousadia e desfaçatez, certamente e ao buscar a razão para contra-argumentar, primeiro que tal determinação de sua parte fora descabida, profissional e eticamente a falar. Se julgava estar sendo desrespeitado profissionalmente, deveria questionar a produção que o contratara, não sei se a reportar-se diretamente à produção do Sesc ou à produção da estação de rádio FM que patrocinava o evento. Uma das duas, ou as duas em parceria deve ter sido a responsável contratante de seu serviço.

Em segundo lugar, ele portou-se de uma forma maquiavélica, pois não disse nada quando de nossa chegada, assistiu resignadamente a montagem de nosso backline e pior ainda, operou o equipamento de monitor, inclusive ao atender algumas reivindicações básicas de aprimoramento, que lhe fizemos. Portanto, foi um tremendo golpe baixo pela premeditação de sua parte, ao usar desse tipo de abordagem mafiosa sob coação repentina, para arrancar-nos dinheiro.

Quando esse clima de baixo astral instaurou-se na coxia, chamamos imediatamente um responsável pelo Sesc que ali circulava e o inserimos na discussão, para que persuadisse o rapaz impetuoso a não levar adiante tal estratégia vergonhosa de coação a ameaçar a sabotagem do nosso show. O clima esquentou, pois o referido sujeito mostrava-se como bastante prepotente e dentro de seus padrões "éticos", ele julgara-se no direito de exigir de nós, diretamente, a compensação financeira extra-contratual... 
Continua...

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