sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues

Tive o grande prazer de preparar as músicas comprometidas com as raízes psicodélicas, e até com elementos progressivos, devo observar. Houve tempo para criar pequenas modificações nas suas respectivas linhas de baixo, a acrescentar elementos psicodélicos mais condizentes. Fui informado que em cada faixa, praticamente, de seus discos solo, baixistas diferentes atuaram na gravação. De fato, faixas gravadas pelo saudoso, Osvaldo Gennari, popular "Cokinho", foram muito bem executadas, é lógico.

Contudo, outras, gravadas por músicos oriundos ou influenciados pelo pobre Pós-Punk, deixavam a desejar, exatamente pela falta de recursos, e sobretudo pela falta de entendimento da psicodelia sessentista.

É uma equação simples: músicos que nunca ouviram bandas egressas da cena sessentista de Canterbury e outros tantos artistas congêneres e contemporâneos oriundos de outros quadrantes, apresentavam dificuldades para se expressar com fidedignidade a psicodelia sessentista, como se espera.

E essa turma egressa do Pós-Punk tinha uma agravante: não obstante o fato de que salvo as raras exceções, não ter o apuro técnico como uma meta a ser seguida, os que viveram a época, principalmente, pecaram por acreditar piamente no paradigma imposto pela maledicência inescrupulosa em torno de se obrigar a detestar as vertentes sessentistas, por conta da birra oriunda da falsa propaganda espalhada pela formação de opinião.

Enfim, as canções psicodélicas do Ciro, eram muito boas e apresentavam possibilidades interessantes para acréscimos além do arranjo oficial, ainda que sutis, pois não seria conveniente elucubrar mudanças radicais por uma questão de respeito, é lógico.


Haveriam também alguns números da carreira do Ciro com o Cabine C e os Titãs.

Preparei tais canções e claro que os tocaria com muita dignidade ao vivo, mas alguma coisa mais gutural, na base do Punk-Rock, eu  achava desnecessário sob o ponto de vista estético, embora fosse claro que por serem importantes na carreira dele, Ciro, é claro que tais peças precisavam ser tocadas no show, pois muito provavelmente as pessoas que o acompanhavam, gostariam de ouvi-las.

É claro que nem todo fã dos Titãs ou Cabine C, que cresceu a acompanhar esses trabalhos oitentistas da parte dele, aprovavam a guinada para a trincheira oposta.

Syd Barrett pode ser intragável para algum Punk/Post-Punker mais radical, na mesma medida que Syd Vicious não nos interessa. Foi o caso de "Sonífera Ilha", também. Particularmente, acho a música boa, mas aquele arranjo oficial dos Titãs, em ritmo "Ska", e com aqueles timbres de plástico, realmente não agradava-me. Portanto, mais que aliviado, fiquei contente quando o Ciro relatou-me pessoalmente que detestava aquele arranjo Ska, e quando compôs a canção, pensara em Bubblegum sessentista! Pois então, seria assim que ela soaria doravante....
Continua...

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