Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sábado, 15 de agosto de 2015
Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 14 - Por Luiz Domingues
Antes de seguir com a cronologia dos fatos, eu preciso abrir um parêntese para falar sobre um personagem sensacional, que se tornou um grande amigo da banda. O "seu" Ribeiro, pai do tecladista, Fábio Ribeiro, foi uma das pessoas mais gentis e prestativas que eu conheci, e digo isso não apenas baseado em minha trajetória musical, mas acredito que na vida como um todo.
Ele foi o motorista e roadie de seu filho, praticamente, e a sua bondade, boa vontade em sempre ajudar não somente o filho, mas toda a banda, e sobretudo o seu gênio dócil, certamente foi um contraponto aos tempos amargos em que vivíamos, por vários fatores.
"Seu" Ribeiro, além das qualidades que eu elenquei acima, era um "GPS humano", por que era impressionante o seu conhecimento sobre a cidade de São Paulo, e não só isso, mas praticamente todas também em relação às cidades vizinhas que compõe a região conhecida como: "Grande São Paulo".
É claro, naquela época, ninguém sonhava com os telefones celulares, GPS, e nem mesmo com computadores, embora a Internet já existisse aberta ao público, mas a verdade foi que poucos usufruíam dela, nessa ocasião. O recurso que todo mundo usava regularmente, era o de consultar mapas para se descobrir um endereço desconhecido, expediente usado por quase todo o motorista, a criar-se o hábito de guardar o "Guia 4 Rodas", ou o "Mapograf", no porta luvas de seus carros.
Mas ele, não... qualquer rua que lhe perguntávamos, ele sabia exatamente onde ficava, e citava caminhos possíveis, a demonstrar conhecer a cidade na palma da mão.
Outra característica sua, e algo notável, eu acrescento, era a da paciência absoluta. Eu me considero uma pessoa zen, com alto grau de paciência e tolerância, mas o "seu" Ribeiro ia muito além.
O seu comportamento era exemplar no trânsito, e uma vez, só para ilustrar, com Fábio e eu como passageiros a andarmos com ele, eis que passou por nós um carro conduzido por um garoto impulsivo e bastante agressivo, que o fechou de uma forma acintosa, em alta velocidade. Qualquer outro motorista ficaria revoltado com a manobra agressiva do sujeito, mas ele não se abalou nem um milímetro. Apenas a frear para evitar a colisão e assim ao segurar o carro na mão, mediante uma habilidade incrível, ele continuou a dirigir tranquilo e me disse: -"nunca se sabe se um motorista desses faz uma barbaridade assim por necessidade e não pela transgressão pura e simples. Vá saber se não está com a esposa em trabalho de parto, ou se está a conduzir um ente querido infartado para o hospital, ou mesmo se acabou de saber que estão a assaltar a sua residência? Por isso eu nunca julgo, xingo ou exijo satisfação, e se for mesmo apenas uma transgressão, é problema dele, não meu"...
A sua habilidade para acomodar todo o equipamento do Fábio, em um Fusca 1969 (e impecável, aliás, pois parecia ter saído da concessionária há quinze minutos e que estávamos portanto em 1969, de fato), era quase um número circense de contorcionismo.
Eu não acreditava como ele sempre conseguia uma solução e assim, acomodava cinco teclados, e um mini P.A. que o Fabio usava para alimentar a sua "tecladeira" toda, fora os suportes, cases com cabos e utensílios, mixer e amplificador. Com aquela calma zen budista que lhe era peculiar, "seu" Ribeiro montava tudo com muito cuidado, e não importava se era quatro horas da manhã, fato que muitas vezes ocorreu, naturalmente em shows realizados em casas noturnas.
Uma vez eu não aguentei e lhe perguntei como seria possível conhecer a cidade de São Paulo dessa forma, de maneira enciclopédica e ele me respondeu com a sua simplicidade natural: -"fui taxista por muitos anos, ao haver começado em 1958"...
Certo, claro que taxistas conhecem a cidade muito melhor que motoristas amadores, mas o conhecimento dele superava qualquer expectativa.
A mãe do Fabio também era uma pessoa dotada de uma bondade incrível. Costureira de muita técnica e bom gosto, ela chegou a confeccionar camisas que eu lhe encomendei, que usei em shows, muito bem feitas, e com caimento perfeito.
Todas as fotos de Fuscas 1300 1969 que ilustram este capítulo, são apenas ilustrativas e nenhuma era do fusca do "Seu" Ribeiro, propriamente dito. Mas dão a ideia aproximada de como era o seu bólido...
Soube, alguns anos depois, que o "seu" Ribeiro havia partido para o outro lado. Certamente deve ser uma das mais queridas figuras lá onde está e claro, dá informações aos anjos, sobre caminhos no céu, que já deve ter mapeado inteiramente no seu cérebro.
Grande figura !
Saudade, "seu" Ribeiro!
Continua...
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