sábado, 15 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 8 - Por Luiz Domingues


Os ensaios se tornaram então rotineiros e adequados logicamente ao fator de todos (com exceção do Zé Luiz Rapolli), estarem a ministrar aulas particulares em paralelo. Dessa forma, muitas músicas surgiram e já na metade de março de 1988, essa banda nova teve uma nova fachada, quase que completamente desvinculada da velha, A Chave do Sol. Ainda tocaríamos algumas músicas do LP The Key nos próximos shows, mas bem poucas, quase que a caracterizar uma homenagem ao meu passado e do Beto, tão somente.

A minha lembrança de tais ensaios é de uma rotina composta por muita tranquilidade. Chegávamos às 10:00 horas da manhã na residência do Beto Cruz, às terças, quartas e quintas. Tocávamos até por volta das treze horas, parávamos e almoçávamos juntos, quase que a estabelecer uma relação comunitária, aos moldes de bandas sessenta-setentistas e egressas da contracultura hippie.

Por esse lado social, foi bastante prazeroso, eu reconheço, e a união interna entre os membros da banda, se estabeleceu mais rapidamente por conta desse convívio amistoso. Um grupo de fãs da banda começou a frequentar esses ensaios, ainda bem no começo do processo e tal determinação da parte dessas meninas, chegou a ser messiânica em nos acompanhar diariamente.  

Eram cerca de oito garotas e que nunca faltavam. Elas chegavam pouco depois de nós e carregadas com sacolas de supermercado em mãos. Iam direto para a cozinha e quando parávamos para almoçar, havia um banquete à nossa disposição, e com direito a sobremesas, inclusive, ou seja, algo inacreditável como uma mordomia.

Foi até engraçado, pois essa banda foi trabalho que iniciara-se da estaca zero na cena artística de então, mas no entanto ao viver da fama de uma banda extinta, foi que deu-se a chance dessa surgir posteriormente, e nesses moldes, não começara exatamente dessa estaca inicial. Independentemente disso, contar com uma turma de fãs dispostas a cozinhar para nós, diariamente, tornou-se um luxo que não esperávamos ter naquele momento.

Sobre o som em si, como eu já disse, este foi a amoldar-se dentro das prerrogativas do virtuosismo típico de fim de década de oitenta, naquele espectro de admiradores do guitarrista sueco, Yngwie Malmsteen.  

Da parte do tecladista, Fábio Ribeiro, as suas ideias tinham sutis referências ao Prog-Rock setentista, é bem verdade, mas eram sutis mesmo, pois ele também estava inebriado pela estética do virtuosismo e peso daquela cena oitentista versada pelo estilo, Hard-Heavy. Assim fomos a construir novas músicas e sob um curto espaço de tempo, julgamos estarmos prontos para fazer shows com uma identidade própria, sem precisar canibalizar o cadáver recém enterrado da velha, A Chave do Sol.
Continua...

Nenhum comentário:

Postar um comentário