Neste meu segundo Blog, convido amigos para escrever; publico material alternativo de minha autoria, e não publicado em meu Blog 1, além de estar a publicar sob um formato em micro capítulos, o texto de minha autobiografia na música, inclusive com atualizações que não constam no livro oficial. E também anuncio as minhas atividades musicais mais recentes.
sábado, 15 de agosto de 2015
Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 10 - Por Luiz Domingues
Chegou o dia do show, que tratamos como a real estreia dessa nova banda. Foi o dia 18 de abril de 1988, e entraríamos no palco do Teatro Mambembe, com a expectativa de um ótimo público presente. Não que houvéssemos tido algum apoio retumbante de divulgação, aliás, muito pelo contrário, os nossos recursos eram mínimos devido à penúria que enfrentávamos, imersos em dívidas contraídas por conta do lançamento do LP The Key e escassez de uma agenda mínima que nos garantisse um respiro.
Mas houve no ar uma expectativa gerada pelos fãs da antiga, A Chave do Sol, que atônitos e alheios aos nossos conflitos internos, simplesmente não entendiam o por que da extinção sumária e súbita da nossa banda anterior, e pior ainda, a radicalização que fôramos obrigados a adotar, eu e Beto, ao criarmos uma nova banda emergencial, e com nome parecido, mas a se mostrar muito diferente no cômputo geral.
Enfim, esse confuso encadeamento de acontecimentos sob aspectos radicais entre si, já nos garantira a certeza de que muita gente nutriu curiosidade para ver o que seria aquilo, a tal banda: "A Chave", ou para muitos, em tom de brincadeira: "A Chave sem Sol"...
De nossa parte, estávamos bem preparados e com um repertório de músicas novas na ponta da língua para apresentar essa nova banda, ainda que para a maioria dos fãs, representasse simplesmente a continuidade da antiga banda e para muitos, haveria também uma expectativa para ver como seria a banda sem Rubens Gióia, ícone d'A Chave do Sol, a ser substituído por um garoto jovem e então desconhecido, já que pensaram erroneamente se tratar de uma continuidade daquela extinta banda.
Enfim, foram muitos elementos que alimentaram a expectativa para muitos fãs e de nossa parte, quase nos deram a certeza de que a lotação do Teatro estaria esgotada. Não seria no entanto um show exclusivamente nosso. Dividiríamos a noite com a banda: "Laser", que era nova no cenário do Rock pesado paulistano.
Apesar de teoricamente nós estarmos ali na condição de uma banda iniciante, com apenas quatro meses de vida, pela ligação com a banda extinta e os nossos respectivos currículos pessoais, ficamos com a primazia de tocarmos como "headliner" e o Laser fez o show de abertura. O público superlotou o teatro, até a superar a nossa expectativa mais otimista. Não tive acesso ao borderô oficial. mas lembro-me de que havia mais de seiscentas pessoas presentes e portanto, quase o dobro da capacidade oficial do Teatro.
Logo no começo, no tema de abertura, cometemos um erro infantil, que nos envergonhou, mas foi o tal negócio: quantas pessoas ali no momento, o perceberam? Por não ouvirmos corretamente a contagem de baquetas feitas pelo nosso baterista, José Luiz Rapolli, um pequeno "Flan" (ato do desencontro de acentos entre um instrumento e outro), ocorreu, e convenhamos, logo na primeira nota do show começar a errar, foi um tremendo de um anticlímax!
Contudo, nos acertamos e rapidamente disfarçamos, ao dar-nos a nítida impressão de que quase ninguém percebeu a falha. Fomos a tocar muitas músicas novas que faziam parte da total reformulação da banda, a esforçar-se portanto para imprimir a ideia de que se houvera um vínculo com a velha, A Chave do Sol, a nossa intenção não foi viver a usufruir de sua sombra.
A cada música nova que tocávamos, ouvíamos urros da plateia. Gritos a exaltar a performance, principalmente do Eduardo Ardanuy, foram escutados com clareza, a demonstrar que muita gente ali estava inebriada pela onda de entusiasmo pela estética do virtuosismo, típica do fim de década de oitenta. Tocamos menos músicas do LP The Key, já a extrair aquela dinâmica dos dois primeiros shows realizados anteriormente, quando a urgência nos fez tocar somente o material da velha, A Chave do Sol.
E nos demos ao luxo de inserir solos individuais de todos, à moda setentista e por falar em anos 1970, houve mais uma novidade, pois nós fizemos uma versão em ritmo de releitura de uma música do Led Zeppelin ("No Quarter"). Com um tecladista de ofício na banda, e mais que isso, um virtuose ao instrumento, abriu-se essa possibilidade, e no meu caso em particular, a considerar-se que eu sou um setentista inveterado, tal ideia foi um verdadeiro oásis em meio ao deserto oitentista em que estávamos a viver.
Quando o Fábio iniciou a introdução ao piano elétrico, demorou alguns segundos para o público perceber a nossa intenção, mas logo eu mesmo ouvi alguém gritar da plateia: -"é No Quarter"... para que se insuflasse a plateia, que mesmo antes do Beto começar a cantar, já vibrava muito. Confesso que surpreendi-me, pois a despeito de levar em conta que em 1988, o final das atividades do Led Zeppelin ainda fora um acontecimento relativamente próximo, a demarcar uma distância de apenas oito anos, e que entre os fãs da seara do Hard-Rock oitentista, havia um respeito por bandas Hard-Rock setentistas, principalmente sobre o Led Zeppelin e o Deep Purple em uma primeira análise, não foi tão surpreendente em tese, mas a reação de comoção, foi muito além das minhas expectativas.
Um outro ponto memorável do show, foi que eu fiquei bastante emocionado quando o público ovacionou-me, pessoalmente, por conta do Beto haver apresentado-me em maio aos outros membros da banda, e nessa reação, houve uma carga forte de apoio pela superação que estávamos a mostrar em manter a chama acesa, depois de tantas adversidades que culminara com o final das atividades da velha, A Chave do Sol, meses antes.
Enfim, foi uma grande estreia para a nova banda e uma certeza: o público que acompanhava a antiga, A Chave do Sol, aprovou esse novo trabalho ao nos deixar a convicção de que nos apoiaria doravante e claro que isso foi um fantasma a mais que nos atormentar desde dezembro de 1987, quando a nossa querida, A Chave do Sol dissolvera-se. Portanto, diante de cerca de seiscentas pessoas, saímos do palco do Teatro Mambembe, na noite de 18 de abril de 1988, com um sentimento de esperança renovada.
E aos poucos, a agenda começava a mostrar-nos perspectivas para esta nova banda, a comprovar esse sentimento otimista. A se lastimar, a quase total ausência de fotos, com exceção de uma foto do Fábio Ribeiro, colocada acima. Existe uma versão com muitos momentos desse show capturados através de uma câmera Mini-VHS, feita da parte de um grande amigo da banda, chamado: Mário Abud. Se eu conseguir postar tal material no YouTube, o insiro aqui, de pronto.
Continua
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