quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - Kim Kehl & Os Kurandeiros - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues


Três dias depois e estivemos reunidos novamente para tocar na tal casa noturna. Tratou-se de uma casa localizada na Rua Augusta, sentido centro e chamada: "The Pub". De fato, por ser um notívago, mas jamais boêmio, eu não fazia ideia do que a Rua Augusta, nesse sentido do centro, havia se transformado nesses tempos. 

Eu havia ouvido falar, mas não detinha nenhum contato com essa realidade e de fato, quando ali cheguei, espantei-me com a enorme profusão de gente a caminhar pela rua, e na quantidade de casas noturnas existentes, com muitas bandas a tocar ao vivo. O volume de pessoas a circular, era igual ou superior ao da Rua Treze de maio, quando essa rua do bairro da Bela Vista fora um ponto de "freaks" ao final dos anos setenta, e a durar tal tendência pelo menos até a metade dos anos oitenta.

O "The Pub" era uma casa rústica, mas bem arrumada dentro dessa proposta. O seu dono, um rapaz jovem chamado, Phil, um inglês, mas que falava bem o português, embora tivesse o hábito de misturar os idiomas no meio da conversa, comumente, a começar ou encerrar a frase em inglês e com sotaque de nortista de Liverpool.

Nesse dia, houve uma banda a tocar antes de nós e segundo apuramos, eles tocariam até às 22:00 horas, quando passariam o bastão para nós. A casa estava bem cheia e o seu público foi formado por jovens, predominantemente, mas notei que pareciam não estar preocupados com o repertório da banda em questão, e denotara que também ficariam alheios ao nosso. E a banda era boa (esqueci-me de anotar seu nome, mas lembro-me que haviam duas garotas a tocar na formação, e o seu repertório, apesar de "modernoso" para o meu gosto, foi bem tocado, e abrangeu a produção das décadas de 1980, 1090 e 2000, predominantemente).

O objetivo primordial do Kim, foi mesclar o repertório autoral, com muitos covers de Rock, Blues, Soul , R'n'B, Folk e Country-Rock, ou seja, dentro do espectro dos Kurandeiros.

Na porta, aguardamos por um bom tempo para entrar, pois estava complicado adentrar o recinto, devido ao grande contingente presente. foram minutos prazerosos a conversar em uma roda animada com Kim Kehl, Renata Martinelli, Lara Pap e Carlinhos Machado, em um momento inicial. Fiquei muito contente quando a conversa enveredou para se comentar sobre as minhas matérias sobre filmes de Rock, que naquela ocasião estavam a ser publicadas no Blog do Juma. Foi muito gratificante saber que todos estavam acompanhando e curtindo o  teor delas.

Lembro-me claramente que falamos bastante sobre um em especial, a tratar-se de uma resenha do filme: "That Thing You Do", uma obra adorável sobre uma banda de Rock em ascensão nos anos 1960.

A mudança de bandas no palco do The Pub foi um pouco problemática, no entanto, pois o espaço físico era exíguo. No palco, lembro-me de ilustrações de Bob Dylan e The Beatles a ornar as paredes, a fornecer um clima favorável, é claro. Mas por ser um pub, propriamente dito, claro que era bem pequeno o seu espaço físico e dessa forma, o tecladista, Dimas Ricchi, só conseguiu acomodar-se a tocar fora do palco, praticamente.

Na parede, a figura inspiradora de John Lennon e eu, Luiz Domingues compenetrado, a olhar para o "nada"

Eu fiquei em um canto, quase sem espaço para mexer-me, e a Renata ocupou a minha frente. Claro, dei-lhe essa primazia por ser vocalista e ter que estar na frente, naturalmente.  O Kim dominara a atenção, como sempre. A sua performance era sempre bastante carismática e simpática.
Kim já a se afastar do palco para caminhar pelo bar, e assim a surpreender as pessoas, e certamente ao tomar o caminho da rua, onde costumava fazer longos solos em plena rua Augusta, naquela balbúrdia típica das madrugadas ali instauradas naquela época... ao fundo, da esquerda para a direita: Renata Martinelli, eu (Luiz Domingues) e Dimas Ricchi. Na parede, With the Beatles...


Além de ser o esteio da banda, ele tinha bastante carisma com o público e por várias vezes divertiu-o ao sair do palco para fazer seus solos, a caminhar pela casa e até sair à rua, para surpreender os pedestres da Rua Augusta, com tal performance inusitada.

Bem, apesar de alguns momentos de insegurança, principalmente de minha parte e do tecladista, Dimas, que éramos novatos na banda, foi uma boa apresentação.

Justiça seja feita, o Dimas errou muito menos, devido à sua experiência muito maior que a minha em tocar com bandas pela noite. Eu estava muito fora de forma nesse sentido, pois a maior parte da minha carreira foi centrada no trabalho autoral, e a rigor, eu só tocara em uma única banda cover, o Terra no Asfalto, e isso ocorrera no longínquo período de 1979-1982.

Os Kurandeiros, na verdade, mantinham um sólido trabalho autoral, mas ao atuar pela noite, portavam-se de forma híbrida, a tocar muitos covers de clássicos do Rock e do Blues, predominantemente, mas a passear também pelas baladas com teor Pop, Soul Music, R'n'B, Folk, Country e até o jazz.

E neste caso, a apresentação foi bastante longa, pois creio termos feito quatro entradas, ao encerramos por volta das 4:00 horas da manhã, e com a rua Augusta ainda a ferver...

O show no The Pub, ocorreu em 17 de setembro de 2011, com cerca de cinquenta pessoas presentes no ambiente.

Continua

Nenhum comentário:

Postar um comentário