terça-feira, 18 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 23 - Por Luiz Domingues


Não seria um baile de formatura, como sugere o cabeçalho da filipeta, mas apenas a propaganda do patrocinador, aliás algo muito inusitado. E grafar a palavra Rock, como "Roque", denotou a total falta de proximidade do tal patrocinador, com o nosso universo, ou, a se tratar de um arroubo xenófobo, digno de um Policarpo Quaresma...

Chegamos ao Projeto Leste I, e nos impressionamos com a sua dimensão gigantesca. Tratava-se de um enorme galpão localizado na Rua Siqueira Bueno, no bairro da Mooca, na zona leste de São Paulo.  

Os responsáveis por tal espaço queriam fazer dele, um novo polo para shows de grande proporção e na Zona Leste, o que foi louvável, mas a sua missão era bastante difícil apesar da boa localização, com a Mooca a se caracterizar como um bairro muito perto do centro de São Paulo, cercada de outros tradicionais bairros da região, como Brás, Belém, Pari, Tatuapé e Vila Prudente, entre outros, além dessa rua em específico, ficar a três quarteirões de uma estação de Metrô.

Mas o desafio era enorme, pois naquela época, as grandes casas de shows ficavam nas zonas sul e oeste, tradicionalmente e portanto, quebrar essa rotina na cidade seria bastante difícil. Outro ponto a se considerar, foi que a febre das "danceterias" havia acabado há muito tempo. Portanto, em 1988, a proposta ali seria em promover espetáculos, a focar nos artistas, na mais bela tradição dos shows de Rock de outrora, todavia, manter uma rotina de shows com dez a quinze mil pessoas presentes a cada apresentação, que certamente o espaço comportava, seria difícil ao extremo, a não ser que produzissem shows com artistas internacionais de grande apelo.
Convenhamos, naquele momento de 1988, abrir um local enorme desses e sem muita perspectiva de que lhe desse subsídios concretos de continuidade, foi um ato de coragem ou de loucura, como queiram.  

Enfim, análise meramente contemplativa, não tínhamos nada com isso e se dependesse de nossa óbvia vontade, o espaço lotaria com uma grande multidão, contudo, a nossa banda não reunia condições para tal, e nem a somar forças com as bandas que nos fariam companhia naquela noite, isso seria possível. Bem, estávamos escalados para tocar ao lado de: Centúrias, Harppia, e uma banda argentina chamada, "Nemesis".

O equipamento disponibilizado se mostrou bom, havia iluminação de qualidade e o palco era grande, sob um padrão internacional. As instalações, incluso camarins, eram rústicas, mas tudo funcional e o equipamento de qualidade, portanto, a infraestrutura para fazer uma bela apresentação, existiu. Mas a despeito disso tudo, o público que compareceu nessa noite, beirou o ridículo em termos de quórum.

Claro que a divulgação poderia e deveria ter sido muito melhor, mas o resultado na bilheteria foi desalentador. Diante de cerca de setenta testemunhas, em meio a um espaço que comportaria de dez a quinze mil pessoas, não dá para pensar nesse resultado a não ser como um fiasco, mas o que poderíamos ter feito?

Sobre os shows em si, estes foram bastante "malemolentes", eu diria. O desânimo nos bastidores foi grande pelo resultado pífio de bilheteria. E o pessoal do "Nemesis", a banda argentina, se portou com bastante altivez, a impossibilitar uma confraternização.

Talvez os seus membros se julgassem o último alfajor de Buenos Aires e por isso, a sua postura foi de arrogância, mas na prática, não passava de uma banda comum de Heavy-Metal oitentista, sem nenhuma diferença em relação a qualquer banda brasileira, a não ser o fato de que cantavam em castellaño.

Sobre o nosso show, foi o de sempre, mas sofrido pela reverberação causada pela ausência de público. Com setenta gatos pingados naquele hangar para muitos "Concordes", não teve como não conter um verdadeiro tiroteio de frequências a ricochetear pelas paredes e no teto do ambiente.  

Outra ocorrência engraçada, foi que era tão pouca gente presente, que muitos tomaram a postura de assistir os shows sentados e alguns até deitados, como se estivessem em uma praia... ou seja, foi ridículo e desanimador para todos que ali se apresentaram, sem dúvida. Assim foi a experiência no Projeto Leste I, para a noite de 30 de julho de 1988.

No dia seguinte, 31, Fabio Ribeiro e José Luiz Rappoli concederam entrevista ao programa: "Noites Futuristas", da Brasil 2000 FM.

O próximo show seria realizado apenas em setembro e o ânimo, esteve cada vez mais baixo, para uma banda que parecia nunca ter tido a sua "liga" estabelecida, e não foi para menos, pela forma com a qual foi formada, a despeito de serem todos ali reunidos, ótimos músicos e boas pessoas.

Foi a hora para pensar em uma demo-tape, talvez a salvação para tentar fazer desse trabalho algo para se estabilizar.

Continua...

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