sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 6 - Por Luiz Domingues


Feito o show para a TV, em meio a uma praia do Guarujá-SP, dois dias depois fomos à zona leste de São Paulo para cumprir um show completo. Nem tão completo assim, eu diria, pois tratou-se de um mini-festival, e portanto, ao termos que compartilhar o palco com outras atrações, naturalmente.

No caso específico desse dia, dividimos o palco com o Made in Brazil, uma super tradicional banda do circuito do Rock brasileiro, e que já era longeva naquela ocasião, dada a circunstância de ser egressa dos anos sessenta.

Desta feita com a presença daquele que seria o baterista dessa nova banda, José Luiz Rapolli, fomos mais preparados para esse compromisso.

Tratou-se de um sábado, dia 30 de janeiro de 1988, no salão conhecido como: "Led Slay", no Tatuapé, zona leste de São Paulo.
Eu havia tocado ali naquele espaço, uma única vez, com o Língua de Trapo, no início de 1984, mas tal banda era versada pela sátira e humor, portanto, seria a primeira vez que tocaria ali com uma banda de Rock de fato, em um ambiente que supostamente era adequado para tal afinidade cultural.

Ao ir além, a Led Slay mantinha a fama de ser um salão anacrônico nos anos oitenta. Assim como seu grande rival, o Fofinho Rock Club, cujo endereço ficava localizado na mesma avenida, mas separado por quase três Km entre um e outro. Portanto, ali naquele ambiente, apesar de haver espaço para as manifestações típicas oitentistas de apelo Hard-Rock e Heavy-Metal, havia tal como no "Fofinho", uma predileção por cultura sessentista e setentista.

Foi um dos poucos ambientes para freaks da "velha guarda", hippies, bichos-grilo, seguidores de Raul Seixas e "micróbios" (uma pejorativa pecha para designar hippies sujos, quase a se equivaler a mendigos). Bem, alheios à essas constatações socioculturais e antropológicas, até, lá fomos nós com nossa banda montada às pressas, quando urgira divulgar o LP The Key, e vendê-lo, a todo custo!

Tocamos antes do Made in Brazil, logicamente, pelo aspecto respeitoso de seu status maior adquirido por anos de labuta, mas também pelo fato do Oswaldo Vecchione, seu baixista, cantor e líder, ser o organizador do festival e dessa maneira, o seu equipamento alimentar o palco e o P.A. do evento. Fizemos um set maior que o show de choque que havíamos feito dois dias antes no "Verão Vivo" da TV Bandeirantes. Ou seja, tocamos o LP The Key inteiro, além da pequena intervenção de solos individuais do Edu Ardanuy e Fabio Ribeiro, que já haviam apresentado no show do Guarujá. 

Foi um show mais seguro, é verdade, pois o gelo houvera sido derretido no show da praia. Rapolli tocou tranquilo e ficou o sentimento de que poderia ter tocado no show anterior, mas, tudo bem, creio que a sua decisão fora acertada pelo fator da prudência.

O palco montado era pequeno e estava sob um outro ambiente do salão, que era enorme. Do lado de fora, inclusive, havia uma área ao ar livre que era gigantesca e anos antes havia sido o cenário para que a casa houvesse promovido shows com estrela da MPB, como Gilberto Gil, Alceu Valença e Zé Ramalho, por exemplo, com multidões de mais de vinte mil pessoas presentes em ocasiões assim, mas nesse festival em que tocamos, o palco fora montado na parte interna e era bem menor.Ao se considerar o tamanho do referido salão, creio que o resultado com cerca de trezentas pessoas presentes não poderia ser comemorado como um grande público, inclusive para os parâmetros oitentistas onde o comparecimento das pessoas em shows de Rock, era muito maior, costumeiramente.

Os irmãos Vecchione, Celso e Oswaldo, se impressionaram com a técnica do Eduardo Ardanuy e chegaram a formular um convite para ele ingressar no Made in Brazil, naquela momento. Eu e Beto nos resignamos, pois ficara claro que Eduardo despertaria a atenção não só deles, os Vecchione, mas à medida que avançássemos com essa banda, outros assédios a vir de outros músicos, seriam inevitáveis. Porém, o Eduardo não se seduziu com a proposta e seguiu a apostar nessa nova banda que formávamos, todavia, em um futuro não muito distante, tal fidelidade não seria mais levada à risca e logo mais eu chego nesse ponto.

A nossa luta prosseguiu e nesse ponto, teríamos mais tempo para ensaiar, pois o próximo compromisso de show só esteve marcado para o mês de abril. 

Enquanto, isso, concomitante aos ensaios, matérias e resenhas ainda a tratar da velha, A Chave do Sol estavam a sair nas bancas de jornais e revistas e a árdua batalha para vender discos "no braço", literalmente, prosseguira, ao juntarmos moedas para pagar as dívidas adquiridas pela produção do LP The Key.

E na parte artística, esse sexteto montado de forma emergencial, enxugou-se, pois o guitarrista, Theo Godinho, deixou-nos. Foi uma decisão tomada de comum acordo, e muito amigavelmente. De fato, com Edu e Fabio, estávamos super servidos com a parte harmônica e de solos da banda, e ao irmos além, com duas guitarras e teclados, o som ficou pesado e embolado demais. Não houve a necessidade de duas guitarras, mesmo por que, se no caso de uma ou outra música houvesse tal situação de uma base de guitarra a mais ser necessária, o próprio, Beto, poderia suprir tal lacuna, por também ser guitarrista. 

Além do mais, com o Theo, que era ótimo guitarrista, sempre haveria a questão de inserir os seus solos, também, é claro. Portanto, com três solistas na banda, pois o Fabio também era um virtuose nos teclados, a tendência seria a de estabelecermos uma overdose de solos nas músicas, ao torná-las maçantes para os ouvintes.

Então, ao ponderarmos tudo isso, Theo Godinho e a banda se despediram amigavelmente, e de nossa parte, ficou o agradecimento pela contribuição muito boa que nos deu, em um momento de dificuldade de nossa parte, ao aceitar o convite para preparar a toque de caixa, as músicas de um LP inteiro, para executá-las em dois shows, com pouco tempo de preparo prévio.

Continua... 

2 comentários:

  1. muito da hora a saga da Historia do som Verao Vivo da TV Band , parabens a todos voces .abraços.

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    1. Legal, Oscar !

      Foi uma história bastante delicada pelas circunstâncias todas que envolveram a dissolução da Chave do Sol e necessidade de se montar essa banda nova às pressas.

      Muito bacana estar acompanhando !!

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