segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 107 - Por Luiz Domingues


Ao fazermos uso da novidade, rumamos à Campinas-SP, logo no primeiro posto rodoviário, fomos "convidados" a parar para estabelecer uma conversa reservada com o policial rodoviário. Apesar da aparência discreta do veículo e estar tudo em ordem, inclusive a documentação já registrada em favor do nome do nosso motorista/sócio, éramos novatos nessa dinâmica de nos considerarmos donos de um ônibus, e posso afirmar que foi o primeiro susto desagradável que tal atribuição poderia proporcionar-nos e infelizmente, ocorrências muito piores aconteceriam doravante, por anos a fio, inclusive.

Imbuído da típica malandragem de quem tinha vivência nesse tipo de ambiente, o motorista só nos disse para ficarmos quietos dentro do veículo e assim aguardarmos, pois ele trataria do assunto com o policial. De fato, o policial quis olhar os itens básicos de segurança do veículo, não achou nada de errado na documentação e só alertou sobre os pneus que não havíamos trocado previamente e certamente também precisavam ser substituídos (só trocáramos dois, os piores, mas o certo seria ter comprado um jogo novo).

Mas o policial quis dar uma olhada na parte interna, e com o seu semblante a denotar ter poucos amigos, entrou e verificou que era uma banda de Rock a bordo, com um monte de cabeludos, instrumentos e equipamentos. Temi por um pedido de inspeção geral, alimentado pelo preconceito de praxe em ralação ao suposto consumo de drogas, mas ele apenas desejou-nos feliz viagem e nos liberou, enfim. A parada consumiu quase meia-hora da nossa viagem, ou seja, a metade do tempo que se gasta normalmente para se dirigir de São Paulo à Campinas.

Enfim, chegamos finalmente ao Delta Blues, no simpático bairro Castelo na cidade de Campinas, e assim como na ida, ficou a constatação de que carregar e descarregar o equipamento pela porta tradicional do veículo seria um fardo. Além de pouco anatômica para a função, produzia um lógico cansaço extra para a equipe de roadies, além da morosidade nesse processo, a gerar um tipo de aborrecimento a mais. Providências teriam que ser tomadas sobre tal questão, além da adequação dos bancos, pois o ideal seria ter menos que as quarenta e tantas poltronas tradicionais do ônibus.

Ao falar do show em si, foi uma excelente performance. A honrar as tradições da nossa própria banda, "fizemos (de fato), uma noitada excelente"...

Foi a noite do dia 6 de setembro de 2001, véspera de feriado nacional, e cerca de trezentas pessoas entraram na casa para nos assistir.

Um fato alheio à banda abaixou um pouco o astral da noite, com uma briga que aconteceu no local, quando seguranças da casa expulsaram alguns rapazes impetuosos que tentaram entrar sem pagar o ingresso. 

E um outro fato, este sim, pertinente para nós, foi que logo na saída, havíamos notado a presença de areia no interior do veículo, ainda que não em grande quantidade e nitidamente notava-se que havia escapado de uma vassourada prévia.

O nosso "sócio" tentou disfarçar, ao justificar que transportara areia de uso pessoal para uma pequena obra caseira que seria feita, mas a verdade veio à tona a seguir: ele transportara uma banda de pagode para a cidade de Santos-SP, alguns dias antes, e o passeio na praia certamente deixou vestígios.

O nosso trato fora construído no sentido de usarmos o veículo exclusivamente para nós, mas logo no início dessa parceria, já ficamos desapontados com tal atitude da sua parte, logicamente sem a nossa concordância, e aí nesse ponto, já começou uma quebra de confiança que só aumentaria nos meses subsequentes.

Na volta para São Paulo, a viagem foi tranquila. O ônibus não esboçou nenhuma pane, e a polícia não nos parou para inspeções, mas quando já estávamos a transitar pela cidade de São Paulo, um problema nos surpreendeu em pleno vale do Anhangabaú, bem no meio do seu túnel subterrâneo. Uma falha lamentável e ocasionada pelo marcador de combustível, nos deixou sem noção da real situação do abastecimento do tanque de óleo diesel. Foi repentino e lamentável, ficar por volta das seis horas da manhã com o carro sem meios para prosseguir. A sorte, foi que se tratara de um feriado e sob um horário muito cedo, pois se fosse em um dia útil qualquer, seríamos alvo fácil dos xingamentos dos motoristas estressados ao nosso redor. 

Enfim, sanado esse problema de ordem prosaica, seguimos em frente e já anexamos uma outra questão para resolver: o marcador de combustível e a sua indefectível boia...

Continua...

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