sábado, 15 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 7 - Por Luiz Domingues



Com a definição da banda em estabelecer-se como um quinteto, doravante, e a contar com um tempo mais elástico em relação ao próximo compromisso marcado, partimos então para a elaboração de um novo material. Com isso, a intenção ficou era clara de desvincular esta nova banda, da extinta, A Chave do Sol, ao máximo, mas a manter um elo saudável com os fãs daquele trabalho, não como uma continuidade pura e simples de seu trabalho, mas a demarcar a ideia de se tratar de uma nova banda, com uma outra sonoridade, mas que detinha em suas fileiras, dois ex-membros da velha, A Chave do Sol.  
Eis um exemplo claro sobre a confusão gerada, pois um DVD pirata lançado muitos anos depois, com imagens capturadas de algum copião vazado diretamente da ilha de edição da Rede Bandeirantes de TV, a nos nominar como: A Chave do Sol, quando na verdade, éramos uma banda dissidente chamada: "A Chave/ The Key"... 

Se ainda saiam publicadas muitas matérias e resenhas a confundir essa nova banda com a velha, A Chave do Sol, não tínhamos culpa nesse processo, que pareceu ser inevitável. Contudo, a ideia foi tocar a vida para frente e nesse sentido, com sangue jovem a ser injetado em nossas veias, tínhamos mais é que aproveitá-lo. Na época, claro que diante do panorama que amargava, com o fim abrupto d'A Chave do Sol, eu sentia-me exaurido em minhas forças e só me restara mergulhar de cabeça nesse processo de reconstrução. Mas não foi nem de longe o som que eu gostaria de praticar. Se já estava fartos das sonoridades oitentistas e quem está a ler com atenção esta autobiografia, já está muito ciente de que a minha predileção no Rock vai na contramão da produção estética/artística daquela década, o que dizer então de um mergulho no mundo do Hard-Rock oitentista com ares de virtuosismos "Malmsteeneanos?"

Enfim, mesmo bastante a contragosto, embarquei na proposta que viria a seguir. De minha parte, além de estar sem forças para sugerir outro direcionamento artístico, eu estava cansado mesmo foi das tantas mudanças radicais, a perseguir tendências e boatos.  

Tal tipo de procedimento estava perseguir-me implacavelmente desde meados de 1983, ou seja, assim que a minha ex-banda, A Chave do Sol começou a ganhar notoriedade na mídia.

Antenado nos movimentos que o tabuleiro do jogo mainstream fazia, mas a estar fora do jogo em si, na condição de aspirante a me tornar uma peça da partida, também, eu acompanhava a partida a tentar interpretar a estratégia dos jogadores, no afã de antecipar o que viria a seguir como a próxima jogada a ser feita. Com isso, achava que seria a única chance de estar pronto para ser a bola da vez, a seguir, e entrar enfim no tablado do jogo.

Diante dessa prerrogativa, eu exerci a minha influência, a visar sempre dar o passo certo nesse sentido para a minha banda subir no mundo mainstream da música. Foi a nossa única ferramenta a nos dar esperança, além do óbvio trabalho de formiguinha que exercíamos no cotidiano, com todos os esforços para agarrarmos oportunidades.

Todavia, diante dos erros estratégicos que a banda cometeu nesses anos, a culminar com a sua não chegada ao patamar que aspirávamos, claro que eu estava a me sentir exaurido em minhas forças internas, e ao ir além, já bastante descrente de que valia a pena ficar a elucubrar qual seria a moda do próximo verão, para antecipar a minha banda na possível mesma nova onda.

Diante desse cenário todo que se colocara à nossa frente nesse início de 1988, eu não forcei nenhuma barra para seguir a orientação A, B,; ou C, para deixar o barco navegar livremente. E nesses termos, Eduardo e Fábio estavam muito empolgados com essa onda de virtuosismo em torno do Hard-Rock/Heavy-Metal oitentistas, e tiveram carta branca do Beto nesse sentido, para apresentarem criações suas que já haviam compostas. Da parte do Rappoli, não havia nenhuma contrariedade, também. Ele gostava das sonoridades setentistas como eu e Beto, mas estava acostumado com a estética oitentista, também.

Então, sem pensar muito qual seria a nova moda no Rock brasileiro, mergulhamos nessas composições que Eduardo e Fábio tinham em mãos, e todas elas foram versadas sob essa estética do extremo virtuosismo "Malmsteeneano". Ao ver pelo prisma de hoje dia (2015, momento em que escrevo este trecho), acho que a situação de 1988, se analisada como um todo e não apenas pelo mundo do Rock pesado underground, tornara-se periclitante na cena brasileira.  

A verdade, foi que o Br Rock 80's havia acabado! Somente os que cresceram o suficiente para alongar as suas respectivas carreiras de forma individualizada, sobreviviam e continuariam a sobreviver ainda por algum tempo, com poucos a manter a sobrevida nos anos noventa, e no tempo além disso.

Sendo assim, não houve mais esperança alguma de se chegar ao mainstream, e principalmente para as bandas pesadas. E em nosso caso, com duas agravantes: cantar em inglês, proposta que fora aceita por todos, mas equivocadamente ao meu ver, e sobretudo pela inserção no espectro do extremo virtuosismo e nesse caso, nem é preciso ser um expert em marketing corporativo da indústria da música, para discernir que estaríamos a nos limitar a um pequeno nicho de apreciadores do Rock pesado, e tal como uma boneca russa, mais fechados ainda no mundo do virtuosismo, apreciado tão somente por músicos e aspirantes a. Mas foi o que tivemos... e assim fomos trabalhar dentro dessas condições que se apresentaram à nossa frente.


Continua...

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