domingo, 16 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 16 - Por Luiz Domingues

Em uma entrevista concedida para a Revista, "Wanted", em 1988, o baixista do Ultraje a Rigor, Maurício, nos citou como banda que ele apreciava, mas na verdade, ao se referir à velha, A Chave do Sol... 

Poucos dias depois, houve uma nova apresentação, mas desta feita, em um espaço novo que surgiu na cidade de São Paulo. Chamado como: "Alquimia", tratava-se de um pequeno auditório localizado no bairro da Vila Buarque, no centro de São Paulo, e vizinho de espaços culturais que eram muito tradicionais na cidade, templos de cultura importantes para o teatro e a música na cidade, há décadas.
Entrevista d'A Chave/The Key, publicada na Revista Rock Brigade, conduzida pelo presidente da Sociedade Brasileira dos Apreciadores do Deep Purple (fã-clube oficial do Deep Purple no Brasil, chancelado pelo fã-clube britânico e oficial da banda), João Cucci Neto


Contudo, ao contrário de sua vizinhança ilustre, as suas dependências eram bem modestas e a minha lembrança é a de um palco pequeno, tímido mesmo e que aliás, nos deu uma certa dose de exercício de contorcionismo para colocar o backline da banda no seu espaço cênico e mais que isso, garantir um mínimo de possibilidade de mobilidade para os componentes da banda.

Apesar de nosso esforço em disparar o mailing do fã-clube e contar com um pequenino apoio de filipetas, não conseguimos levar um grande público ao espaço.
Rara foto desse show realizado no Espaço Alquimia em 2 de junho de 1988. Luiz Domingues em destaque, com Fábio Ribeiro ao fundo, nos teclados. Click, acervo e cortesia: Índia Dias

Foi um show bem burocrático, eu diria, com um certo desânimo por parte da banda, ao se deparar com um palco claustrofóbico. De fato, foi um pouco desagradável tocar nessas condições. Foi o dia 2 de junho de 1988, e diante de apenas cem pessoas, tocamos assim no Espaço Alquimia.

Como eu houvera conhecido o João Cucci Neto, por ocasião da entrevista que ele nos fez, a representar a Revista Rock Brigade, nós estabelecemos uma boa amizade pela óbvia similaridade de apreço que mantínhamos pelo Rock sessenta-setentista, e apesar dele ser um inveterado fã do Deep Purple pelo cargo que mantinha no seu fã-clube oficial, e em constante comunicação com o fã-clube britânico dessa grande banda sessenta-setentista, ele também apreciava muitas outras bandas oriundas dessas duas décadas fundamentais para o Rock e daí, claro que nos aproximamos.

E partiu de sua iniciativa me formular um pedido que julguei inusitado à época, mas que aceitei de pronto. Ele pediu-me, portanto. para eu escrever uma matéria a ser publicada no fanzine do seu fã-clube "SBADP", a enfocar os baixistas que o Deep Purple tivera em sua história. Bem, eu sempre gostei de escrever, desde criança, mas a música obscurecera de certa forma esse prazer paralelo que eu sempre tive, mas que só comecei a exercer para valer a partir de 2011, e salvo um poema de minha autoria que fora publicado em um jornal de bairro, em 1979, e a redação de quase todo material para A Chave do Sol e o seu fã-clube, a usar de um pseudônimo, eu não tinha mais nada publicado de minha autoria e assinado, até então. Claro que eu aceitei e lhe entreguei o material, o mais rápido que pude, mas infelizmente não tenho cópia para ilustrar aqui na minha autobiografia.

Outra providência que ele tentou fazer pela nossa banda, foi intermediar uma reunião com um conhecido seu que mantinha muitos contatos no exterior e esse rapaz em questão, houvera sido fundamental para sedimentar o sucesso internacional do Sepultura, pois detinha contatos com centenas de fanzines e fã-clubes de Heavy-Metal e Rock pesado em geral, em inúmeros países do mundo, e graças a esses contatos, o Sepultura fizera uma longa via crucis no sentido de enviar material, desde 1986, para tais publicações underground, que lhes deu respaldo para serem descobertos no mundo do Heavy-Metal internacional.

Em um encontro intermediado pelo João Cucci Neto, realizado em sua própria residência, localizada no bairro do Ipiranga, zona sudeste da cidade de São Paulo, encontrei-me com esse rapaz cujo nome não revelarei, mas posso afirmar que a conversa foi desanimadora. Ele esclareceu-me que os seus contatos seriam centrados no mundo do Heavy-Metal, e que o Sepultura lograra êxito por ter o som certo para agradar essa tribo com a qual ele mantinha contatos, mas o nosso som, diferentemente, não faria sentido algum dentro daquele universo. Claro que isso foi lógico, óbvio e ululante, mas mesmo assim, eu chateei-me, não com o rapaz em si, mas com a dura realidade de ser um "outsider" até para os mais radicais outsiders...

Outra curiosidade a respeito do João Cucci Neto, foi que ele confessou-me que estava desapontado com a cúpula da Revista Bizz, pois através do jornalista, Leopoldo Rey, fora contatado para escrever uma resenha sobre o LP Machine Head, do Deep Purple, para uma sessão da revista que tinha a missão de resgatar a história dos álbuns clássicos da história do Rock.

Claro que o Leopoldo, que eu conhecia bem e sabia que era um jornalista não comprometido com a "Intelligentsia" dos defensores da estética Pós-Punk, deve ter brigado na reunião de pauta para assegurar uma pauta dessas, mas infelizmente, em meio àquela mentalidade abominável que a revista adotava acintosamente, "clássico" para eles, eram os álbuns oriundos de artistas das searas Punk e Pós-Punk, de 1977 em diante, naturalmente.

A cada edição, a Revista em questão postava exemplos abomináveis de obras e artistas que somente na concepção equivocada da parte deles, poderiam ser classificadas como "importantes" na história do Rock, e assim, apesar dos esforços do Leopoldo Rey, a matéria escrita por João Cucci Neto, a enfocar o LP Machine Head, do Deep Purple, foi vetada. Portanto, "clássico" para essa gente seria o Siouxie and the Banshees, Talking Heads, Joy Division, The Plasmatics etc. Na contramão bizarra criada por essa gente, The Beatles, Led Zeppelin, Cream, Janis Joplin, Bob Dylan, The Who, The Rolling Stones e Jimi Hendrix, entre outros tantos, não tinham importância para a história. E ainda há quem me pergunte por que eu tenho adversidade com a década de oitenta... e durma-se com um barulho desses!

Continua...

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