quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Autobiografia na Música - A Chave/The Key - Capítulo 35 - Por Luiz Domingues

Eu já estava em outra sintonia há meses, a me envolver em vários projetos musicais novos e simultâneos, principalmente a partir do segundo semestre de 1990 (tudo contado com detalhes nos capítulos dos "Trabalhos Avulsos"), quando no início de outubro de 1990, recebi um telefonema do Beto Cruz.

Ele desejou inicialmente me comunicar que finalmente o Chicão da loja/selo Devils Discos, sinalizara que o disco: "A New Revolution", do "The Key", havia chegado da fábrica, e que começaria a trabalhar a sua devida divulgação & distribuição, e que a banda poderia fazer a sua parte, para efetuar os shows de lançamento.  
 -"Ótimo, muito bem, estou muito grato por me avisar, parabéns e guarde minhas cópias de recordação, que eu pego assim que possível", lhe respondi. No entanto ele teve algo a me pedir além desse comunicado.

Segundo me contou, quando soube que o disco sairia, marcara dois shows a ser cumpridos em uma casa noturna chamada: "Woodstock"(localizada na rua da Consolação, perto da avenida Paulista), e que serviriam como os shows oficiais de lançamento, e que a nova banda que havia montado, estava toda animada e ensaiada, mas nessa proximidades das datas anunciadas, o baixista que entrara no meu lugar, um rapaz chamado, Hermes (ele havia sido baixista de uma banda de Heavy-Metal oitentista chamada: "Sabotagem", e que havia aberto alguns shows d'A Chave do Sol no Teatro Lira Paulistana, no ano de 1985), houvera abandonado a banda, seduzido por um convite de última hora que sinalizara um cachê melhor para participar de uma apresentação com uma banda cover.  

Ora, com tudo marcado, mesmo a saber que eu já estava em outra sintonia há meses, e que não gostava daquela sonoridade, de minha parte, ele não teve como pensar em recorrer a um outro baixista, com o pouquíssimo tempo de antecedência que teve para cumprir tais datas. O Beto nem precisou pedir duas vezes, pela amizade e total consideração ao fato de que ele fora o responsável por ter mantido a chama acesa, desde a dissolução abrupta e sofrida da nossa, A Chave do Sol, portanto, é claro que eu me comprometi a colaborar.

Apesar de ter esquecido aquele material, bastou um audição para eu retomar tudo e não seria por falta de um baixista que a sua nova e renovada banda deixaria de se apresentar dignamente, e fazer o lançamento do disco. 

Então, foi uma das situações mais bizarras da minha carreira, pois eu fui tocar como convidado de uma banda que eu não pertencia mais, no entanto, houvera sido membro de sua, digamos, "encarnação anterior", mas que reformulara-se inteiramente e até um novo nome ostentava, e que por sua vez, em sua origem, fora uma banda montada emergencialmente para suprir as necessidades inadiáveis de uma banda recém dissolvida, chamada: A Chave do Sol! Em suma, foi para dar um nó na cabeça de qualquer um...

Bem, a nova formação dessa, "The Key", na verdade rebatizada pela terceira vez como: "A Chhave" (assim mesmo, com dos "H"...), consistia de Beto Cruz, como o único remanescente original d'A Chave de 1988. Pedro Loureiro (que pouco tempo mais tarde ficaria conhecido no mundo do Heavy-Metal, como "Kiko" Loureiro, guitarrista do Angra, e hoje em dia, membro da banda norte-americana, "Megadeth"), Gustavo Winkelmann, baterista (ex-aluno e roadie de Ivan Busic), e Marcelo Castilha, nos teclados.

Eu já tinha um compromisso no Rio de Janeiro para tais datas, mas o Beto ofereceu-me um arranjo pelo qual eu não perdi o meu apontamento, a viajar através da ponte-aérea, após a conclusão do segundo show, quando normalmente em outras circunstâncias, eu faria o trajeto de ônibus.  
Rara foto desse show de outubro de 1990, de autoria desconhecida, mas que uma amiga minha da época, Índia Dias, que era amiga da namorada do Edu Ardanuy, disponibilizou-me via Facebook

Bem, eu toquei nos dias 5 e 6 de outubro de 1990 (com público respectivo de setenta e cento e cento e cinquenta pessoas presentes), a ajudar o meu amigo, Beto, e os seus novos colegas, e certamente para confundir a percepção de muitos fãs ali presentes com a minha inesperada presença naquele palco. Foi bastante estranho estar ali presente e sobretudo pelas circunstâncias, por tudo o que já expus, naturalmente.  
O jovem e então desconhecido, guitarrista, Pedro "Kiko" Loureiro", outro menino prodígio que o Beto descobriu e projetou para o Rock brasileiro, mais detidamente a respeito do mundo do Rock pesado 


Todavia, também foi prazeroso poder ajudar o Beto e os seus novos companheiros, sem dúvida alguma. Sobre essa turma, aliás, não tenho grandes lembranças por ter estabelecido um convívio tão curto. Eu só conhecia muito superficialmente o baterista, Gustavo Winkelmann, por vê-lo em algumas ocasiões a acompanhar o Ivan Busic, com quem estudara e trabalhara como seu roadie, mas nunca havíamos conversado mais detidamente até então. Pareceu-me na hora que tinha uma boa técnica ao instrumento e poderia crescer como músico. 

Sobre o tecladista Marcelo Castilha, no pouco que conversamos, ele me disse que aquele som não era da sua predileção, e que a sua formação era mais jazzistica, em princípio.  

E sobre o Pedro "Kiko" Loureiro, pareceu-me muito determinado sobre o desejava da sua vida e ao aparentar ser ainda mais jovem que o Eduardo Ardanuy, quando este entrara naquela, "A Chave", de 1988, Kiko demonstrou também uma técnica impressionante, e totalmente calcada em guitarristas virtuoses da egrégora de Yngwie Malmsteen, Steve Vai e congêneres. Na sua performance pessoal, ele demonstrou uma postura de palco frenética, ao assemelhar-se ao Eddie Van Halen, a correr e pular o tempo todo, para demonstrar condição atlética, diferente do Edu que era bem comedido nesse aspecto, pois costumava tocar de forma estática, focado no instrumento.

Bem, para os propósitos da banda e no intuito de dar continuidade àquele trabalho, que foi o projeto do Beto, creio que mais uma vez ele descobrira um garoto prodígio para suprir tal necessidade de alto grau de excelência técnica. 

Um outro fato, o Beto havia mudado o seu nome artístico, aliás saíra grafado assim no LP "A New Revolution", cuja capa eu só fui conhecer ali nos bastidores da casa de shows, "Woodstock". Dentro dessa nova realidade, ele assinara como Roberto Malltauro, a suprimir o Cruz, sobrenome do pai. Malltauro segundo me contou, era o sobrenome da avó materna, e a troca de nome atendera a orientação de uma numeróloga que consultara, recentemente. Aliás, a banda também não era mais conhecida como: "The Key", mas doravante, "A Chhave", assim com dois "H", também por obra da orientação dessa estudiosa.

Um poster com a formação dessa nova fase da banda, com tais membros e nome renovado, chegou a ser publicado na Revista Rock Brigade, em 1990, mas logo de início, o novo baixista já havia saído, sem ao menos ter feito um show sequer.  

O poster citado acima, a mostrar a derradeira tentativa do Beto em manter a banda na ativa, com formação inteiramente renovada e até com mudança ortográfica no seu nome, publicado na Revista Rock Brigade, em 1990. Da esquerda para a direita em pé: Hermes, Pedro "Kiko" Loureiro, Marcelo Castilha, e Gustavo Winkelmann. Sentado: Beto Malltauro (Cruz) 

Tais agruras não me diziam mais respeito, é claro, mas eu torcia para o Beto obter sucesso, pois sabia de sua luta, que eu achava extraordinária, e certamente que ele merecia ter chegado a algum lugar melhor. Não sei dizer o que lhes aconteceu detalhadamente após esses dois shows que cumpri a título de ajuda fraternal. Sei apenas que logo após esses shows de lançamento do LP "A New Revolution", ainda ao final de 1990, o Beto recrutou um novo baixista para ser membro definitivo, chamado: Carlos Zara Filho, que era conhecido como "Zarinha", e este rapaz era filho do famoso, e já falecido ator, Carlos Zara.

Mas logo a seguir, essa banda dissolveu-se definitivamente, e ele, Beto, se mudou para os Estados Unidos em 1991, onde passou a viver desde então.  

Em meu caso, o fim houvera sido ainda em 1989, com a minha saída após a gravação do LP "A New Revolution", e essa participação em 1990, fora meramente ocasional, sem vínculos profissionais, e apenas por amizade.

Portanto, dou por encerrada a história dessa banda surgida nos primeiros dias de 1988, e que na sua curta trajetória, teve poucos momentos bons, mas que apesar das diferenças e incômodos inerentes, fica na minha memória como um exercício de luta pela sobrevivência e respeito pelas pessoas que se dispuseram a tentar manter uma chama acesa.

A seguir, faço as últimas considerações...
Continua...

2 comentários:

  1. Me lembro que essa última formação d'A Chhave chegou a se apresentar no SOM POP na TV Cultura. O Kid Vinil chegou a elogiar a técnica do Kiko, mas o batera deu umas atravessadas porque ele estava mais preocupad em fazer malabarismos com as baquetas. Acho que tocaram 2 músicas, se não me engano "Before The Bridge Falls Down" e "A New Revolution". Me lembro também da entrevista no programa Backstage do Vitão Bonesso, quando ainda era na 97FM em Santo André. Fiquei louco pra comprar esse disco!!!

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    1. Muito legal o adendo, Takeo !

      Claro, já não me sinto obrigado a retratar tal momento pós minha estada, pois aqui a proposta é realizar a minha autobio e não se trata de biografia oficial da banda, porém, bacana você trazer tais informações posteriores, fatos que aliás eu nem sabia terem existido.

      Valeu !!

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