quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 102 - Por Luiz Domingues

A próxima atividade da banda aconteceu em julho. O pessoal da emissora Brasil 2000 FM convidou-nos a participar ao vivo de uma maratona que promoveriam com muitas bandas a tocarem ao vivo no estúdio da emissora. 

Segundo nos informaram, seria mais ou menos uma hora para cada banda se apresentar, descontados os minutos para troca de set up entre as bandas naturalmente.

Muitas bandas tocaram e lembro-me que antes de nós estava programada para tocar uma banda orientada pelo "emocore" feminina e depois de nós, o histórico grupo de Rock: Made in Brazil. 

Pelo caminho, até à sede da emissora, a ouvir pelo rádio do carro, as garotas já estavam a tocarem e com todo o respeito aos sonhos das meninas de chegarem ao estrelato, o seu som se provara como o Punk raquítico de sempre, ultra idolatrado nesta Terra Tupiniquim. 

O seu empresário parecia ter uma certa influência no meio, pois a despeito da fragilidade musical das meninas, estava a alojá-las em frentes interessantes e claro que isso não surpreendera-me, tão acostumado a conviver com a inversão de valores, há décadas, desde que um maldito "formador de opinião" convenceu todo mundo (eu, não!), de que não saber tocar um instrumento, seria a solução para se chegar à consolidação da carreira.  

Mas aconteceu algo engraçado nesse dia, pois o tal empresário que teria tudo para não interessar-se por uma banda de músicos mais veteranos e com propósitos mais sérios, nosso caso, o fato foi que buscou a conversa com o Xando e disse-lhe que influenciado pelo pessoal da emissora, que falara bem de nós, havia gostado do nosso som e ao ir além nessa conversa, ele afirmou estar ciente de que músicas nossas tocavam na programação dessa rádio. 

Ardiloso, ele disse que oferecer-nos-ia uma oportunidade, visto que dizia conhecer um esquema para se fazer permutas com um "pool" de emissoras de rádio em todo o Brasil e que se quiséssemos, não pagaríamos "jabá" em espécie, mas teríamos que nos comprometermos a fazer alguns shows gratuitos no velho esquema do "investimento de carreira" em prol de tais emissoras e que tal prática garantir-nos-ia uma execução maciça nessa rede formada por essas emissoras.

Jabá nojento, é óbvio, mas amenizado por não ser diretamente subtraído do bolso do artista em uma primeira instância, muito artista aceita se submeter a isso e nós ponderamos sobre a hipótese.

Caímos na conversa do sujeito, portanto e alguns dias depois, fomos ao estúdio de uma emissora dessas bem popularescas, localizada na Avenida Paulista e gravamos inúmeras chamadas para anunciarmos a nossa música: "Sou Mais Feliz", na programação de dúzias de emissoras de diversas cidades brasileiras. Pareceu sério, dentro de um parâmetro sem seriedade alguma, diga-se de passagem e ao pensar em uma espécie de lógica eles não teriam perdido tempo a gravarem tais depoimentos em formato de "spots" radiofônicos, se fossem cumprir o acordo, certo? 

Pois então o bote foi dado quando o sujeito aventou a possibilidade de uma troca de gentilezas, com o Xando a abrir as portas de seu estúdio para gravar uma demo das meninas "emocore" que eram as suas protegidas, gratuitamente, é claro. 

Ora, uma cooperação que o Xando não poderia negar ao se estabelecer uma mão dupla de apoio que desenhara-se. Enquanto as garotas gravavam o seu som no estúdio, o rapaz ficava na sala de estar a falar barbaridades do tipo: -"elas são ruinzinhas, mas tem peitinhos", ao demonstrar bem o tipo de mentalidade que norteava os sujeitos que dominam o show business...

Então as meninas saíram com a sua demo debaixo do braço e a nossa colocação em um "pool" de FM's nunca aconteceu. O sujeito foi a emitir-nos esfarrapadas até convencermo-nos que tudo fora um engodo, simples assim. 

O nosso único consolo nessa história, foi que ninguém deixou de dormir por conta do episódio, visto sermos todos experientes na música e portanto acostumados com o revés em via de regra, no entanto, a boa vontade para lhe oferecer o estúdio e perder tempo e dinheiro, ficou na conta do Xando. Paciência!

Quanto a essa banda de meninas, um ou dois anos depois, tal banda chegou a um patamar razoável no mundo infantiloide dessa cena emocore. Tanto que eu creio que teve uma música inserida na trilha da novela adolescente, "Malhação", mas não passou disso e eu suponho que essas meninas, hoje, moças adultas, já devam estar a trocarem fraldas de seus pimpolhos e a trabalharem nas respectivas profissões que estudaram na Faculdade.

Sobre a nossa apresentação na Brasil 2000 FM, esta ocorreu muito bem, apesar da pressa caótica em que tudo aconteceu nessa noite, e de fato, a banda estava super ensaiada e motivada, portanto, a sonoridade foi perfeita. 

Na escadaria próxima ao estúdio da emissora Brasil 2000 FM, na noite de 13 de julho de 2007. Foto: Grace Lagôa

Aconteceu na noite fria de 13 de julho de 2007. 

De voltando aos shows, passaram-se longos cinco meses até termos uma nova perspectiva de show ao vivo. Tudo bem que ainda gravávamos o segundo álbum, mas esse tipo de hiato, além de contrastar com a boa onda que tivéramos em 2006, minava-nos psicologicamente, de uma forma desagradável. 

Foi então que surgiu em nossa trajetória, uma figura velha conhecida minha e do Rodrigo, chamada: Marco Carvalhanas. Nós o conhecêramos no ano de 2001, quando ele chegou a envolver-se com a Patrulha do Espaço, banda na qual éramos componentes na ocasião e ao final daquele ano ele chegou a excursionar conosco, ao ter assumido o cargo de "road manager", na turnê. 

Ele não efetivou-se naquela oportunidade, por motivos que não dizem respeito a esta narrativa, mas a impressão que eu e o Rodrigo tínhamos dele foi a melhor possível, como pessoa, profissional e acima de tudo, se tratava de um de nós, Rocker, músico e antenado na nossa vibração.

Marco aproximou-se de nós interessado em agenciar-nos e de fato, teria sido tudo o que precisávamos naquele momento, visto que essa carência de shows estava a nos incomodar, bastante. 

ao tomar conhecimento do nosso trabalho, ele animara-se, pois havia notou que o nosso leque artístico era ainda mais amplo do que o da Patrulha do Espaço e nesses termos, vislumbrou mais possibilidades de êxito, ao abranger em tese, um mercado maior.

Claro que ele não era um super empresário com contatos fortes, tráfico de influência, prestígio e dinheiro. 

Tampouco mantinha um escritório com estrutura profissional, mas estava entusiasmado e mesmo com parcos recursos disponíveis, ele queria ser o nosso agente de campo, para nos abrir frentes. 

Evidentemente que aceitamos e ele logo pôs-se a trabalhar para acenar a seguir com uma data em uma casa noturna de São Paulo. Mas como a maré começa a mudar sempre que faz-se um movimento na água, uma outra perspectiva apareceu antes da data ventilada por Carvalhanas e assim, repentinamente tivemos dois shows para fazermos em vista, para o mês de agosto de 2007.

Continua...

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