terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 274 - Por Luiz Domingues

A chácara não era gigantesca, mas continha uma boa área, com possibilidade para ali se construir no futuro, mais edificações e estabelecer espaço para empreendimentos típico rurais, como horta, pomar, galinheiro e canil. Dava para ter um campo de futebol talvez em dimensões reduzidas e não oficiais e uma piscina, além de uma quadra poliesportiva, tranquilamente.

Tudo isso estava nos planos dos proprietários, aliás e eles tinham também a ideia de construir um alojamento para receber artistas como nós estávamos sendo recebidos, mas no padrão da edificação onde montaram o estúdio, ou seja, com arquitetura semelhante no design, e todo o conforto para os visitantes se acomodarem bem.
Mas naquela época, a realidade ainda não era essa, e se o estúdio esbanjava conforto, as instalações de hospedagem para os visitantes/clientes, ainda eram precárias, muito improvisadas. 

A casinha que nos serviu como alojamento era muito rústica, a denotar ser uma construção bastante antiga e que em tempos remotos devia atender às necessidades da chácara, possivelmente ao servir de residência para um caseiro, capataz ou seja lá a função do administrador do local.

Bucolismos a parte, também houve o lado mau desse estado de conservação, com alguns problemas pontuais que precisavam ser contornados, mas como o plano deles foi demolir a casa e construir um alojamento moderno e bem acabado, com toda a infraestrutura de um pequeno hotel, nos pediram mil desculpas, mas ali naquele momento, foi o melhor que poderiam nos proporcionar.

Ao ir além, fizeram o possível e até o impossível para nos proporcionar a melhor estada ali, a promover pequenos consertos pontuais, e nos providenciarem eletrodomésticos de suas casas para nos dar o máximo de conforto, e naquele calor interiorano, sem ventiladores, teria sido impossível dormir. Neste caso, até TV com vídeo cassete para nos distrairmos nas horas de descanso, nos foi ofertado.

Mas por ser uma construção sem acabamento e com velhos tijolos expostos, além do telhado sem laje e com várias telhas quebradas, foi inevitável que muitos insetos, aracnídeos e animais peçonhentos ali se alojassem.  

Acho que eu nunca houvera visto tantas aranhas e insetos de várias espécies, juntos. Portanto, o temor por mordidas e/ou picadas, foi grande, principalmente nos momentos de sono, durante as madrugadas, se bem que na tradição das gravações de um disco, ainda mais ao se tratar de uma banda de Rock, claro que as sessões usariam grande parte da madrugada no ambiente asséptico e ultra agradável do estúdio, com ar condicionado a todo vapor e a inexistência completa de nenhum inseto sequer. 

Mais que tal presença interna bem proeminente, pequenos répteis rondavam a casinha. Cobra não vimos, mas lagartos de um porte até assustador, vimos várias vezes.

E também houveram muitos pássaros, naturalmente e até primatas... houve por exemplo um clã de macacos que rondava a casa, à procura de comida e claro que com a nossa presença ali, eles sentiram o cheiro de vários alimentos que cozinhávamos e/ou a simples armazenagem de alimentos na despensa que organizamos ali.

Certa dia, até, tive uma experiência sui generis, pois eu acordei e deparei-me com um macaquinho desses no teto, a fitar-me. Acho que o sentimento foi mútuo nesse caso, ou seja, ele também deve ter achado muito exótico a presença de um humano sonolento ali naquele lugar. Bem, antecipei-me um pouco.

De volta a falar do primeiro dia no estúdio, o objetivo inicial foi nos instalarmos na hospedaria, e montar o set de bateria com muita calma e iniciar a captura de timbres tão somente, com os trabalhos propriamente ditos, a iniciarem-se somente na terça feira. E assim procedeu-se.  
Uma boa nova, recebemos a equipe de reportagem de um dos jornais da cidade. O próprio estúdio havia alertado a redação do referido jornal sobre a nossa presença, e isso fez parte de seus esforços para capitalizar mídia ao seu favor, a enaltecer a capacidade do estúdio de atrair artistas de fora de Rio Preto e no nosso caso, além da fama que tínhamos no mundo do Rock, há de salientar-se que por sermos oriundos da capital de São Paulo, claro que esse fato foi para ser comemorado pelo pessoal do estúdio, pois denotava ser um sinal de status para eles, atrair um artista famoso da capital, ao se considerar que a oferta de estúdios de primeira linha existentes na cidade de São Paulo, era imensa.  

Legítima a propaganda para eles, portanto e para nós, foi igualmente muito positivo sairmos publicados em uma reportagem de página inteira no jornal local.  Alguns dias depois, uma outra reportagem no jornal concorrente usou do mesmo mote e claro que apreciamos muito a exposição para o estúdio e para a banda.
Continua...

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