terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 267 - Por Luiz Domingues

Quase todos dormiam no ônibus, quando avistamos o temível posto da polícia rodoviária federal a nossa frente. Somente estavam acordados e preocupados com as ameaças do rancoroso guarda, eu, (Luiz), Rolando Castello Junior, Luiz Barata e Samuel Wagner, além do "seu" Walter, logicamente, na condução do "azulão".
Quando nos aproximamos mais do posto, vimos nitidamente o mesmo guarda, que estava sentado na mesa, a ler um livro, com a luz da cabine acesa e o auxílio de um abatjour para reforçar o seu foco.

Incrível, o sujeito estava acordado naquela hora da madrugada e supostamente devia estar a dobrar o seu plantão. À medida que o ônibus aproximava-se, mais nós ficávamos apreensivos, pois estávamos sozinhos na pista naquele instante e claro que quando ouvisse o barulho do carro, ele teria o reflexo de levantar a cabeça para olhar e se lembraria de nós, certamente.
Contudo, quando emparelhamos com o posto, ele não esboçou nem levantar a cabeça e permaneceu a ler o seu livro. Assim que passamos, gritamos como crianças a comemorar a nossa "proeza", e o "seu" Walter passou a gritar, ao fazer uso de seus jargões característicos: -"sai da frente do Azulão, seu FDP" e -"ninguém pode com o azulão!"

O que será que o guarda rodoviário estava a ler que o entretinha tanto, ao motivar que ele nem se dignasse a olhar o único ônibus a passaro naquele instante na pista deserta da estrada? 

Teria sido: "O Mágico de Oz", "Ulysses", "Morte e Vida Severina", ou o "Mein Kampf?"
Chegamos muito cedo em Balneário Camboriú e fomos direto para o hotel. Fizemos o check-in e fomos dormir, fatigados.

Não passou nem meia hora e o telefone tocou da portaria, com o gerente a chamar pela presença de alguém da banda para explicar a nossa presença ali. O combinado foi darmos entrada na virada da diária, após o almoço, é bem verdade, mas os acontecimentos de Florianópolis, mais detidamente o receio de enfrentar a ameaça do guarda rodoviário, havia motivado a nossa mudança de planos, portanto, o sujeito estranhou a nossa chegada antecipada, e quis saber quem pagaria a diária extra...
Ora, havíamos deixado claro que a diária extra seria por nossa conta, e além do mais, mesmo que não tivéssemos deixado isso claro no check in, nos acordar para buscar tal esclarecimento foi de uma grosseria ímpar da parte do gerente, que certamente deve ter faltado na aula de ética do curso de hotelaria, que deduzimos que ele tenha feito para se capacitar para a função.

Ficamos bastante irritados, pois na hora do check in, havíamos deixado bem clara com o atendente, toda a situação e lógico que havíamos nos prontificado a pagar a diária extra do nosso bolso, sem onerar o contratante do show e acima de tudo, queríamos dormir...

Esclarecido, voltamos para os quartos e finalmente iríamos dormir, que ótimo. Passava das seis da manhã e estava a amanhecer, quando achamos que teríamos descanso, mas...  
Uma excursão de estudantes acabara de chegar e a zoeira que fizeram na sua entrada no hotel foi gigantesca. Foram quatro ou cinco ônibus repletos de adolescentes e com todos eles absolutamente adrenalizados pela aventura de estarem em grupo, e sem a presença dos pais, ou seja, tal perspectiva transformou o seu check in em um inferno para os demais hóspedes do hotel.

Cada um de nós da comitiva da Patrulha do Espaço teve uma reação diferente nesse instante e no meu caso, eu desisti de abafar o barulho infernal que faziam mediante o meu travesseiro a comprimir as minhas orelhas e então, levantei-me, me vesti e fui para o refeitório tomar o café da manhã e a seguir, fui dar um passeio nos arredores do hotel, que ficava a um quarteirão apenas da avenida da praia.

Então, dali em diante só nos restou esperar as longas horas que nos separavam da abertura vespertina da casa, e a realização do soundcheck.
Cidade muito bonita e com forte apelo turístico por conta da praia, Balneário Camboriú tinha uma filial da casa Drakkar, onde nos apresentáramos na noite anterior em Florianópolis.

A nossa esperança foi de que a filial do Drakkar tivesse o mesmo astral da sua matriz na capital catarinense, logicamente.

No entanto, a casa era bem diferente, estruturalmente a falar. No entanto, era interessante, aliás, continha uma aparência mais sofisticada, o que nos despertou a impressão de que devia ser mais dirigida à clientela "burguesa", e não Rocker.  

Tudo bem, estávamos acostumados a lidar com casas não exatamente ideais para um show de Rock.

O soundcheck foi tranquilo, com um equipamento compatível para o tamanho da casa e razoável para as nossas necessidades.

O gerente da casa estava animado, a nos dizer que recebera muitos telefonemas a nos perguntar sobre o show, e que portanto, teríamos a perspectiva de casa lotada. Ótimo, melhor que isso, só se fosse um público inteiramente Rocker e a fim de nos ver, sem reservas. 

Jantamos no hotel e fomos para o show. A casa estava vazia quando chegamos e poucas pessoas chegavam, de forma paulatina quando resolvemos não atrasar mais o início do show e desferimos assim os primeiros acordes da noite.

Chega-se em um ponto da vida de qualquer artista, que se percebe facilmente quando um show não vai atrair o público esperado e aquele ali foi um típico caso desses. Ponto bom, os vinte e poucos presentes estiveram ali para nos ver. 

Haviam fãs com velhos discos de vinil da banda debaixo do braço e claro que mesmo em pouco número, despertavam em nós a animação vital que precisávamos para tocar com o entusiasmo além do sentido profissional. Portanto, a despeito da baixa frequência, reputo ter sido essa apresentação em Balneário Camboriú, boa. Foi no dia 14 de novembro de 2003.

Finalmente a podermos dormir, pois os adolescentes da tal excursão escolar deviam estar em alguma balada noturna pela cidade, acordamos no dia seguinte com a energia refeita, e prontos para uma curta viagem para a cidade seguinte dessa etapa da turnê: Joinville.
Continua...

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