sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Ciro Pessoa & Nu Descendo a Escada - Capítulo 33 - Por Luiz Domingues

Tudo pronto, os três sinais do teatro tocaram. Como é bom para um artista se apresentar em meio a boa estrutura oferecida por um teatro, nunca me canso de exaltar isso, e reforçar o conceito de que tocamos onde é possível, mas o ideal, sempre, é um ambiente adequado para a prática da arte com todo o conforto para todos, incluso para o público, naturalmente.
O Ciro entrou em cena vagarosamente, a ostentar um enorme guarda-chuva, para reforçar o conceito da vinheta de áudio, a sugerir o ruído de raios, trovões e chuva torrencial, e também das imagens no telão, a mostrar as nuvens carregadas.

O seu figurino, incluso a usar um estratégico chapéu coco, remetera à René Magritte, e no gestual, fez referência à sua figura surreal.  

Muito lentamente, a acompanhar a mudança sonora no áudio, ele começou a declamar o seu poema novo: "Evacuando ideias na Selva do Improvável", que o Kim havia musicado, mas não como música Pop cantada, mas apenas para cumprir uma ambientação climática.

A banda pôs-se a entrar na atuação e apoiar aquele clima sonoro, que aliás, ficou muito bonito. 

E o show seguiu, a mesclar mais canções novas ("Ecos da Tagarelice Mental", "Borboletas", e esta última, baseada em um poema de Manuel de Barros, a se tratar de uma canção doce e bonita composta pela Isabela), e também as canções tradicionais dos discos solo do Ciro, além de material dos Titãs e Cabine C.

Uma releitura diferente também foi executada ao vivo nesse dia. Sob uma escolha de Ciro & Isa, tocamos: "Mágica" dos Mutantes, uma música não muito mencionada do repertório dessa celebrada banda, mas que teve tudo a ver com a atmosfera de surrealismo total que o Ciro desejara imprimir para esse show.

Outro conceito, mas desta feita sob uma ideia da Isabela, todos tocamos a privilegiar o uso das cores preto e branco no figurino e até com os instrumentos, tentamos fazer valer essa ideia estética, conforme eu já havia dito anteriormente.
Apreciamos muito fazer o show, embora o teatro não tenha lotado, infelizmente. Acho que pela performance toda, merecíamos ter a casa com a sua lotação esgotada, mas psicodelia e surrealismo com direito à loucura total, não estava na crista da onda em 2014.
Pena, tais ausentes perderam a dose maciça de um show completamente louco, em todos os aspectos.
E como eu gostava de estar como partícipe em um espetáculo com esses componentes. Só faltou o colorido generalizado mesmo para ser perfeito, embora eu ache que o conceito "P & B" que a Isabela idealizou, funcionou e foi positivo pela sobriedade imposta.
No camarim do pós-show, tivemos assédio, apesar da baixa frequência observada no teatro. Uma fã do Ciro (na foto acima, em pé entre eu e o próprio Ciro), viajara de uma cidade próxima, só para nos ver em ação, e estava eufórica pela performance. Dia 10 de abril de 2014, quinta-feira, no Sesc Piracicaba. 
Saímos do Sesc, e voltamos para São Paulo imediatamente, pois a distância entre Piracicaba e São Paulo é relativamente curta (cento e oitenta e oito Km), e tudo foi muito divertido na van, nas paradas na estrada para a recomposição de todos e a chegada em São Paulo, já na madrugada.

Ao lado da casa do Ciro havia uma fábrica (sim, fábrica e não padaria), de pães. Trabalhava-se ali durante a madrugada e os funcionários costumam atender as pessoas das redondezas, mesmo não sendo um comércio propriamente dito, mas uma indústria e assim, eles vendiam informalmente no varejo para a vizinhança. Com aquele cheiro de pão quente a nos inebriar, terminamos a noite a arrematar pacotes de pães saídos na hora do forno, e sob um preço absurdamente barato.

Poucos dias depois, o Ciro nos comunicou que houvera fechado um show em um tradicional teatro do centro de São Paulo, e claro que nós vibramos muito com essa perspectiva alvissareira.
Continua...  

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