sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 118 - Por Luiz Domingues

O conceito da capa para o segundo disco foi uma ideia original minha. Eu sempre quis ter uma capa de um trabalho meu, a lidar com uma ilustração ou conjunto de ilustrações e assim a fazer menção a cada canção do álbum. 

Não tratava-se de uma ideia revolucionária, muitas bandas já usaram tal mote ao longo da história do Rock, mas mesmo assim, seria possível se buscar uma identidade, a depender dos temas abordados, porém, principalmente ao se confiar na criatividade do ilustrador, desenhista ou fotógrafo que iria assinar esse lay-out final.

Já na época do primeiro disco, eu havia sugerido isso à banda, mas na ocasião, pela pressa que tivemos e os problemas que enfrentamos ao perdermos o nosso baterista em cima da hora (ao fazer com que tivéssemos de mudar inclusive as fotos dos componentes da banda, a apresentarmo-nos como trio no disco), fez com que a ideia fosse descartada. 

Naquele instante, a ideia foi posarmos em situações que aludissem à cada canção, mas com fotos simples, com os componentes a insinuarem situações que representassem as canções. 

Seria algo do tipo: uma foto do Xando sozinho a carregar uma guitarra na mão em meio a uma estrada vazia ("Estrada"), o Rodrigo a olhar-se em um espelho ("Reflexo Inverso"), eu a usar um headphone ("Vai Escutando") e por aí adiante.

E neste caso, aproveitaríamos o fato da Grace Lagôa, esposa do Xando, ser uma excelente fotógrafa, para que nos desse a garantia de que seria um ensaio fotográfico de bom gosto. 

Mas a ideia permaneceu na minha imaginação, pois antes mesmo do Pedra existir, eu sempre apreciei o conceito e de fato, havia feito um esboço, eu mesmo, de uma ilustração que poderia ter sido a capa de uma eventual CD do Sidharta em 1998, caso essa banda seguisse carreira e conseguisse lançar o seu álbum debut. 

Nessa ideia para o Sidharta, seria uma ilustração inspirada nas pinturas de Hyeronymus Bosch, famoso pintor renascentista, que costumava fazer telas enormes, a retratar paisagens urbanas de sua época, com pessoas em feiras, festas públicas e até em situações macabras, a evocar-se o inferno dantesco etc. 

A seguir esse parâmetro, várias personagens estariam a interagirem simultaneamente, cada uma sob uma situação que denotasse o título ou o conteúdo enfocado em cada canção.

Então, quando começou a especulação sobre como seria a capa do nosso segundo disco, eu joguei de novo a ideia no ar, e não acho que foi aceita com grande entusiasmo pelos demais em princípio, mas ganhou esse contorno quando o grande artista plástico, Diogo Oliveira envolveu-se diretamente no projeto e aí, muito mais empolgados com a sua capacidade criativa que de fato é gigantesca, eles passaram a considerar a ideia, a cada esboço que ele trazia-nos e claro, foi para empolgar mesmo. 

Diogo propôs uma história em quadrinhos, com um roteiro e personagens que contariam-na, baseadas nas letras das músicas.

Sendo assim, houve a persona do garoto cabeludinho e com um certo quê de hippie sessentista-setentista, que passa pelas situações propostas pelas músicas e um personagem enigmático, certamente um homem sábio, mas com um certo maquiavelismo sinistro, quase a se caracterizar como um vilão e que seria o "Jefferson Messias", que interage com o garoto.

A história alinhavou-se de uma forma bastante harmônica, a evocar momentos de tensão e desespero, com descobertas quase transcendentais, a lembrar de certa forma a saga do "Tommy", da Ópera Rock do The Who.

Sobre as ilustrações, Diogo fez um trabalho magnífico. A sua arte é de alto padrão e sua versatilidade como artista plástico, notável. Tanto que a influência que ele tem como artista, é múltipla e vai de Van Gogh a Pollock, a passar por Robert Crumb e os grandes mestres das Histórias em Quadrinhos, e tudo regado a Jimi Hendrix, Ravi Shankar e J.J. Cale entre outros tantos gênios da música. 

Portanto, além do talento como ilustrador, Diogo tinha a vantagem de ser Rocker e por vibrar exatamente como nós, ipsis litteris, teve a perspicácia de construir uma obra gráfica extraordinária. 

É deselegante falar nesses termos, pois ao leitor mais desavisado, vai parecer que estou a faltar com a modéstia, mas não é o caso, pois a minha intenção é apenas enfatizar que essa embalagem ficou mesmo sensacional.

E para dar ênfase, Diogo propôs que o formato fosse nos moldes das revistas de Histórias em Quadrinhos e não um mero encarte padrão de CD. 

Sábia decisão, pois a redução prejudicaria a inteligibilidade do produto, e assim, nós valorizamos muito a parte gráfica. O lado ruim disso foi que para efeito de marketing o formato causava estranheza aos lojistas tradicionais que simplesmente não tinham estrutura de gôndola para um lançamento fora do padrão das caixinhas de CD, mas convenhamos, 2008 em curso e já naquele momento, com a total imprevisibilidade sobre os rumos da indústria fonográfica, fez com que discussões desse teor ficassem a cada dia mais fora de propósito... infelizmente, eu diria.

Outra discussão que tivemos foi sobre o título do disco. Como no primeiro álbum nós usáramos o recurso do disco não ter título oficial, apenas o nome da banda na capa, desta feita eu sugeri o título: Pedra II, para esse segundo lançamento e esse também foi um sonho antigo e acalentado desde a adolescência a se pensar em casos de bandas que utilizaram tal recurso e eu achava-o estiloso. 

"Led Zeppelin II", "Queen II" etc. Os amigos gostaram e assim, nasceu "Pedra II", um título pomposo, ao estilo da aristocracia das bandas britânicas clássicas...

Ainda a falar sobre a capa, toda a concepção de formato e trâmite com a gráfica ficou a cargo do Diogo, que publicitário experiente, conhecera a bem tais meandros e assim, ele tomou a dianteira nessa produção.

Tivemos um problema a ser resolvido com o invólucro do CD em si. Pensamos em um envelope em anexo ao gibi, mas diante do encarecimento desse recurso na gráfica, nós optamos por um pino de velcro que abriga o disco logo na segunda página. 

Não era 100% confiável, pois alguns vieram com defeito de fábrica e não seguravam o disco de forma alguma, mas em sua maioria deu certo e não recebemos queixas de seus consumidores.

O "Gibi do Pedra" como ele ficou conhecido, recebeu muitos elogios de críticos e público em geral, e creio que com absoluto merecimento e sem dúvida alguma, o grande Diogo Oliveira tem um mérito imenso nesse processo pela sua arte espetacular que só engrandeceu o conteúdo musical da obra.
Eis acima o álbum na íntegra, para se escutar.

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=cAhUKnto7bc 

Disco quase a sair do forno, entre maio e julho de 2008, tivemos um momento ótimo de sequência de shows que praticamente fez-nos acreditar que estávamos a reviver o ótimo momento que tivéramos em 2006. E logo, um fator inesperado nos faria acreditar fortemente nessa perspectiva!

Continua...

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