sábado, 19 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 303 - Por Luiz Domingues

Faloo agora sobre o disco ao vivo que gravamos em 2004, nos últimos momentos de nossa formação, mas que só foi lançado em meados de 2006. 

Como não acompanhei o processo de elaboração posterior à sua gravação, em nada contribuí na pós-produção e quando recebi um lote de cópias do disco para o meu acervo de memorabilia, tudo foi inteiramente surpresa para a minha avaliação.

Sobre a capa e encarte 

Com fotos da nossa querida amiga, Ana Fuccia, a capa e todas as lâminas do encarte nos mostram em panorâmica ou individualmente, postados no palco do Centro Cultural São Paulo. Algumas foram clicadas no show da sexta-feira, dia 23 de julho de 2004, e outras, no domingo, dia 25 de julho de 2004. São belos clicks, todos e dignificam a grandeza da banda, não resta dúvida alguma.

É muito criativa a ilustração do silk do label do CD. Deduzo ser a figura do astronauta russo, Yuri Gagarin, um pioneiro, e no capacete onde estava escrito "CCCP", a sigla da União Soviética, em alfabeto cirílico, colocou-se: "CCSP", a significar para nós: Centro Cultural São Paulo. Ou seja, se revelou super interessante fazer menção ao espaço sideral, a honrar as tradições da banda por se usar tal mote desde os seus primórdios. 

Sobre o texto do encarte, como de costume o Rolando Castello Junior teceu ponderações sobre o contexto que envolveu esse trabalho e mais uma vez fez um belo trabalho. É fato, ele escreve muito bem e tem um talento extra além da música, ao apresentar-se muito bem como cronista e ante a sua vasta cultura, não só do universo Rocker, isso o credencia para ser bem articulado como o é.  

Mais que isso, o texto contém uma poesia implícita e lembra-me de certa forma a linha literária que encontrava nas páginas da revista "Rock, a História e a Glória", nos anos setenta, e que elevava o Rock a um patamar de Art-Rock e certamente que eu aprecio muito isso. 

Para ir além e sem medo de cometer nenhum excesso, mas para ser bem realista, creio que Rock é isso em sua essência e o que o Junior trata quando descreve a história da Patrulha do Espaço em seus textos para compor encartes, e não o que pensam os usurpadores, esses verdadeiros ogros trogloditas que o tratam pela baixa estratificação subcultural. Definitivamente a bermuda e o "malocchio" não nos representam, e não, não "é ducaraio, véio"...  

Segundo eu soube e depois confirmei no encarte, o álbum foi mixado na cidade de Goiânia, em um estúdio chamado Crystal Met. Ocorre que a persona de Gustavo Vasquez, que foi um dos técnicos que gravou e mixou o álbum "Missão na Área 13", estava nesse instante de volta ao seu estado de origem, Goiás (ele é de Anápolis, no interior). 

No texto, o Junior explicou bem o critério da escolha do repertório. Músicas clássicas da época do Arnaldo Baptista não puderam serem incluídas por que se teria que pedir autorização na editora que detém os seus direitos (Warner Chappell) e pagar uma boa quantia sobre cada uma. Mesmo caso de "Meus 26 Anos", um clássico da Patrulha do Espaço desde 1982, mas que na verdade era uma releitura da canção do Joelho de Porco, e precisaria passar pelo mesmo processo burocrático e oneroso.  

O mesmo raciocínio para a nossa versão que era adorada nos shows, de: "Ando Meio Desligado", dos Mutantes, e com direito à inserção da menção à In-A-Gadda-da Vidda", do Iron Butterfly, que arrancava urros dos Rockers mais antenados.

Ele também ponderou que privilegiou mais músicas da nossa formação "chronophágica", como um registro da nossa fase e particularmente me senti orgulhoso por essa escolha. 

Creio que existam outras tantas músicas boas para serem lançadas no futuro e o Rolando Castello Junior já lançou uma como bônus track no disco: "Dormindo em Cama de Pregos" de 2011 (a música: "Rock com Roll"), ao sinalizar assim, que a possibilidade de mais peças desse material de 2004, possam vir à tona.   

Por último, devo registrar que o Junior foi muito gentil em colocar uma palavra elogiosa à minha pessoa na descrição da banda. Ao escrever: "Luiz Domingues - Baixos Soberbos e Vocais", acho que prestou-me uma homenagem e tanto, e claro que uma deferência dessas é para se guardar para o resto da vida. 

Sobre as Músicas: 

Bem, vou analisar a performance ao vivo e não as composições em si, mesmo por que, ao se tratar das músicas compostas, arranjadas e gravadas pela nossas formação, já as analisei amplamente em capítulos anteriores e concernentes à gravação oficial de cada uma em seus respectivos álbuns. E sobre o material mais antigo da Patrulha do Espaço, gravado pelas formações anteriores, não cabe aqui comentário nesse sentido. 

Posto isso, vou à análise das canções que compõe o álbum "Capturados ao Vivo no CCSP em 2004":  

Antes de falar sobre cada faixa, eu já deixo duas ressalvas, para não ter que repetir isso a cada comentário: como todo bom disco ao vivo que se preze, as músicas estão todas com andamentos mais acelerados. É mais do que normal que ao vivo a adrenalina do show faça com que os músicos se empolguem com a performance, além da sinergia gerada com o público e aí, o senso de pulsação normal se altere. Portanto, nesse disco, isso aconteceu e reitero, ainda bem, pois somos humanos e somos Rockers, acima de tudo.

E o segundo ponto, é sobre o fato de que eu considero que os solos de guitarras ficaram muito altos nessa mixagem. Talvez na audição de mix, estivessem sob um patamar um pouco acima do adequado e quando o pente fino da masterização passou, eles se realçaram pelo acréscimo de agudo muito brilhante, portanto ficaram altos e estridentes. Mas mesmo assim, não desabona o resultado geral do álbum.

1) Não Tenho Medo 

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=Mm-27KxTzdk
 

Muito bem que o Junior a tenha escolhido para ser a primeira faixa do disco, pois era, desde 1999, a primeira música de nossos shows, noite após noite. Salvo raras ocasiões em que trocamos o início do show para variar, tal canção foi a nossa tradicional entrada em cena e nunca me esquecerei da reação que causava na primeira virada de bateria do Junior e que nos demonstrava claramente se haveria sinergia com o público, pois se ouvíamos urros vindos da plateia, já sabíamos que seria um grande show. 

Nessa gravação, os timbres estão sensacionais de todos. O meu baixo dignifica a nobre linhagem do Fender Precision, pois está com um peso mastodôntico, além do timbre metálico de médio-agudo, espetacular. 

Gosto muito de uma intervenção de dissonância que uma das guitarras faz. Já nem me lembro quem a fazia, se Rodrigo ou Marcello, mas nessa versão ao vivo, é de arrepiar.

2) Festa do Rock

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=sRwjUCYyZqA

Uma outra canção clássica do repertório antigo da Patrulha do Espaço, eu gostava muito de tocá-la e era tradicionalmente a segunda canção dos shows, emendada em: "Não Tenho Medo".

Timbres de todos, ótimos, e com a mesma performance energética com a qual a tocávamos nesses anos todos.

3) Ser

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=l7KF0EiNgd0

A seguir a mesma linha das anteriores, essa peça do álbum "Chronophagia" era tocada geralmente na terceira posição do set list.

Essa versão tem a mesma energia de todas as suas execuções ao vivo, desde 1999. Dei os meus "glissandos" com toda a saúde e como fico contente em ouvi-los com esse peso e carga de homenagem a um mestre que me inspirou especificamente nessa faixa, o senhor Mel Schacher. O meu Fender Precision roncou igual ao desse velho mestre que me colocou nos trilhos da grande locomotiva do Rock.

4) Vou Rolar 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=nCWsYerDwew

Acho que a escolha do Junior em colocar mais um Hard-Rock "ganchudo", privilegiou a ideia de se aplicar um "nockout" ao ouvinte do disco. Impressionante e de tirar o fôlego, apesar de ser uma música nova no repertório da banda na ocasião, foi tocada com uma garra incrível. 

Como na versão de estúdio, a música surpreende pelo peso, contém um slide de arrepiar, bateria alucinante e o potencial de um refrão Pop, bem cantado pela comissão de frente da banda. 

O Fender Precision rosnou ferozmente de novo e ao final da música há um improviso que eu fiz, que mostra o timbre espetacular que eu extraía ao vivo e nunca deixo de salientar aos baixistas em geral que me elogiam: não tem segredo algum nessa receita. Anotem: baixo vintage (baixo e não "coisas" com mais de quatro cordas que pensam que é baixo), amplificação Ampeg, palheta e corda nova.

5) São Paulo City 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=z21UextDRHM

Essa também era muito querida do público e nós a tocávamos ao vivo desde o fim de 2000, mesmo antes dela ter sido gravada oficialmente. 

Mais um petardo sonoro, esse Blues-Rock ultra setentista veio com o peso e o brilhantismo através dos solos perpetrados pelos nossos dois guitarristas, mais a impressionante performance do Junior à bateria, a honrar as mais belas tradições de Corky Laing, Carmine Appice e congêneres. O baixo arrasa com o seu timbre arrasador, mais uma vez. Como queria ter esses timbres no álbum Chronophagia, mas tudo bem, nunca mais acato a ideia insana de técnico a me pedir equalização flat de amplificador, simples assim.

Os vocais melodramáticos soam bonito e como eu gostava de cantar junto com Rodrigo e Marcello, a soltar a voz, que na verdade não tenho, pela minha parca emissão, mas nessa canção, eu conseguia!

6) Quando a Paixão te Alcançar 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=LCSy_-2JBSs

Música nova no repertório, mais uma peça do álbum: "Missão na Área 13", nós mal havíamos nos habituado com ela, essa foi a verdade. Mas creio que ela soou muito bem e justificou a sua presença no disco. Um Funk-Rock cheio de balanço e sensualidade eu diria, creio que cumpriu a sua função no show e no disco, para quebrar o impacto inicial de tantos Hard-Rock's e Blues-Rock que iniciaram o álbum. 

Ao final, o Marcello substituiu sem problemas o solo que havia gravado na versão de estúdio, a usar o saxofone, pela guitarra. E claro que ficou excelente. 

Como nas canções anteriores, eu usei novamente o Fender Precision e com um timbre dos sonhos. Acho que tenho que dar toda a razão ao Junior quando disse que os baixos ficaram soberbos, mas com outra conotação, no entanto, ao referir-me aos timbres arrasadores.

7) Arrepiado

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=YyFWqzTVTYw

Um outro clássico antigo da Patrulha do Espaço, O trabalho de guitarras dos nossos guitarristas ficou excelente. Grande interpretação vocal do Rodrigo e mais uma vez, o meu timbre de baixo ficou maravilhoso. Creio termos dignificado esse grande sucesso do início da carreira da nossa banda.

8) Nave Ave 

Eis o Link para escutar no YouTube;

https://www.youtube.com/watch?v=GD2ahbWkqHA

Aqui começou a sessão temas progressivos da banda. Eu adorava tocar essa canção por vários motivos e pelos quais creio já ter comentado amplamente em capítulos anteriores. 

Nesta versão, eu gosto muito da performance da banda, em geral. Logo no começo, fica a impressão que a performance vocal cruzou com a condução do piano acústico, mas se foi erro, passou como um arranjo ousado e eu achei bonito o resultado a caracterizar um "flan" que soa intencional. 

O arranjo original da música previa um solo curto de órgão Hammond e é uma pena, pois tanto no estúdio, quanto nas versões ao vivo em que tanto a tocamos, merecia mais espaço e nesta versão em específico, o timbre do órgão é espetacular.

Nessa faixa e assim como em todos os outros temas progressivos desse disco ao vivo, usei o baixo Rickenbacker e assim como nas faixas em que usei o Fender Precision, o timbre é devastador. Tanto em frases curtas, quanto nas mais rápidas, é impressionante o resultado sonoro desse baixo.

9) Homem Carbono 

Eis o link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=9mb3_hMwtSQ

Falei anteriormente que a partir de "Nave Ave" começara a sessão progressiva do disco, mas não, ainda teríamos um Hard-Rock, e no caso, Homem Carbono, uma outra faixa muito querida nos shows da banda, desde 2001. Usei o Fender Precision novamente e com aquele timbre mastodôntico. A minha voz aparece com bastante evidência no backing vocal.

10) Anjo do Sol 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=KheVUL7s3oE

Que pena que tocamos pouco essa música ao vivo, pois apesar de ser um tema progressivo e portanto de difícil assimilação para o público, normalmente, ela emocionava muito, principalmente na sua parte final. 

O meu timbre de Rickenbacker honra as mais belas tradições "Squireanas" de quem ama o Rock Progressivo setentista e o verdadeiro estrago no bom sentido, que Chris Squire fez com a cabeça de quem se enfeitiçou por essa sonoridade.  

Eu errei uma marcação de tempo, mas não vou falar onde, portanto, deixo para o leitor a missão de ouvir e descobrir onde eu falhei. 

Aliás, é bom salientar, todos cometemos erros em várias faixas, mas foram mínimos e esse disco não teve nenhum overdub. É um autêntico disco ao vivo, sem nenhuma maquiagem de estúdio, mesmo por que, quando ele foi mixado pelo Junior, a nossa formação não existia mais há cerca de dois anos. Mas mesmo que estivéssemos unidos, não teríamos feito correções a posteriori. Até nisso éramos "vintage" por princípio.

11) Véu do Amanhã 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=OmbknitTRf4

Mais uma outra peça progressiva de uma complexidade tremenda, é impressionante a performance da banda a executar uma suíte desse tamanho, em andamento rápido e com força interpretativa forte. 

Os sons de teclados muito ficaram muito bons, gosto de tudo, piano, Hammond e intervenções de sintetizadores, sensacionais. Impressionante na parte mais climática de silêncio absoluto, como não houveram gritos a esmo vindos da plateia, ao parecer que estavam hipnotizados pela nossa performance e eu achava que seriam inevitáveis as manifestações ruidosas, mas estas não ocorreram. 

O Rickenbacker gritou intensamente na música toda. Nas partes agressivas, em momentos mais amenos e ao final, me dei ao luxo de improvisar, a exagerar um pouco o arranjo da versão de estúdio e tais frases tercinadas ficaram com um peso e timbre incríveis.

Chris Squire nas alturas... salve, salve!

12) Sendo o Tudo e o Nada

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=cEEhVAhkpao

A nossa maior peça progressiva do álbum "Chronophagia", nessa versão saiu com muita emoção e garra, como nos velhos tempos em que a tocávamos com aquele orgulho de estarmos a promover um resgate total das raízes do Rock, e da própria Patrulha do Espaço.

Tudo soa "robusto: Hammond, guitarra toda pontilhada com maestria, vocais, bateria impressionante e um Rickenbacker matador. O solo de sintetizador é incrível.

Acho que foi muito importante a inclusão dessa música no disco ao vivo, pois ela marca muito bem nossos primeiros tempos dessa formação, em 1999, plena de convicções e princípios, ao fazer um sonho virar realidade.  

Eu adorava fazer aquele vocal em contraponto e a usar a técnica do falsete ao final da canção. Teletransportava-me aos anos setenta e me sentia de novo naquelas maratonas de shows de Rock que tanto apreciei assistir, mas desta vez, no lugar onde sempre quis estar, no palco e não na arquibancada de ginásios e arenas!

Aum... namastê!

13) Tudo Vai Mudar

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ii49ukRVdOE

De volta ao Hard-Rock, nessa canção também dignificamos os primeiros tempos da nossa formação, sem dúvida alguma. 

Lembro-me que essa música nasceu de uma ideia original minha e justamente a se trata do refrão. O riff instrumental e a vocalização com os "Uh uh uhs" e os "yeah yeah yeahs" foi que deu o início à composição com o Marcello e o Rodrigo a trazerem os outros elementos, posteriormente. 

Portanto, que bom que ela entrou no disco, pois simboliza muito para nós todos, emocionalmente a falar. 

A falar sobre a performance em si dessa versão, esta saiu com muita energia, vocais coesos e os timbres já salientados e semelhantes de outras faixas. E o Fender Precision roncou bonito mais uma vez!

14) One Nighter 

Eis o Link para escutar no YouTube: 

https://www.youtube.com/watch?v=ix4XfSh9eNk

Bem interessante essa versão desse Funk-Rock cheio de swing. Impressionante o timbre das guitarras com um peso até incomum para a proposta da Patrulha do Espaço em nossa formação e meio que a sinalizar o rumo que o Marcello daria à sua carreira doravante. Apesar desse peso extra de guitarra destoar do meu gosto pessoal, normalmente, creio que nesse caso ficou bem bom, não vou negar que aprecio. 

O Junior fez aquela intervenção vocal ao final, que está registrada na versão de estúdio, mas não exatamente igual, contudo desta vez, não despertou risadas ao final.

15) Universo Conspirante 

Eis o Link para escutar no YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=ix4XfSh9eNk

Uma versão muito precisa dessa música com um "punch" de Hard-Rock, mas com muitos elementos de Jazz-Rock inseridos, e dessa forma, a suscitar atenção, ainda mais ao se considerar ser uma performance ao vivo. 

São belos os solos e também vocais em trio com uma linha de atuação semelhante à que fazíamos em "São Paulo City".

E o Fender Precision a honrar as tradições do mestre John Entwistle. 

16) Olho Animal

Bem, essa foi uma música que os fãs da Patrulha do Espaço que apreciavam a fase da banda mais pesada, pós-Dudu Chermont e a flertar com o Heavy-Metal adoravam. Já falei o quanto ela destoava do espírito Chronophágico em capítulos anteriores, mas é compreensível que tenha entrado no álbum, ao pensar nessa realidade inerente à nossa proposta da formação. 

Além do mais, Percy Weiss, vocalista e ex-membro da banda havia aparecido no show do domingo, dia 25 de julho e ao participar repentinamente dessa canção, além de "Columbia", justificou-se a sua inclusão no álbum, também por isso. Claro que ele era um grande vocalista (Percy faleceu em um acidente automobilístico em abril de 2015), e assim que abrilhantou o disco com a sua voz que de fato, era extraordinária. Performance boa, com o Percy a cantar muito bem e mesmo sem ensaios, ao dividiro bem com Rodrigo e Marcello, e até a minha voz aparece no backing vocals, apesar dos demais terem muito mais emissão do que eu.

A versão de "Olho Animal" desse álbum

Eis o Link parta escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=233OeiNicC4

17) Columbia

Com a clássica introdução que fazíamos, para valorizar a intervenção da flauta executada pelo Marcello, não tivemos meios de ensaiar isso com o Percy, que cantou conosco como convidado, mas não houve nenhum comprometimento, e pelo contrário, a sua voz com potência e timbre impressionantes, brilhou e ninguém se atrapalhou com o fato dele desconhecer o arranjo inicial que era exclusivo da nossa formação e não o clássico do "disco branco" da Patrulha do Espaço de 1982, e que ele estava habituado a cantar.

A versão de "Columbia" desse disco

Eis o Link para escutar no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=gRaRBgaW24g

Para fechar com chave de ouro, honramos a tradição da banda e sobretudo de nossa formação com essa versão que tanto executamos, desde o primeiro show de 1999.

Ao final, minha voz está registrada a dizer: -"Boa noite, obrigado por terem vindo"...

Acho que foi sintomático, pois eu não pensei nisso na hora, é claro e só fiz uma intervenção simples para agradecer o público ao final daquele show de 25 de julho de 2004, mas ao ouvir no disco, é nítido que isso ganhou um outro contorno e emblematicamente fechou um ciclo de vida.

Marcou na verdade, o fim de um trabalho de quase seis anos, permeado por sonhos, mas que remontava na essência, aos tempos ainda mais longínquos, e como se um filme passasse diante dos olhos, não foram apenas os anos da formação Chronophágica da Patrulha do Espaço que estavam a se encerrar, mas também a labuta do Sidharta, iniciada em 1997, a lata psicodélica do Pitbulls on Crack, em 1996, o meu insight a alimentar a vontade de voltar às raízes em 1988,ao viver tempos antagônicos n'A Chave "sem" Sol e em meio aos tenebrosos anos oitenta. 

Ao tocar "Amor à Vista" com o Língua de Trapo no Teatro Lira Paulistana hiper lotado e a me apegar naquela epifania em torno de Joe Cocker/Janis Joplin na interpretação "Woodstockiana" do Laert Sarrumor, com uma imensa cabeleira hippie e proibitiva em 1983, n'A Fábrica do Som ou nos primórdios d'A Chave do Sol em 1982, ao tocar com um chapéu de bruxo e a me sentir no Rainbow Theatre de Londres, nas noitadas perpetradas pelo Terra no Asfalto em 1980/1981, ainda sob fortes signos setentistas e ao voltar ao princípio, ali no calor dos anos setenta, no Boca do Céu, em que as condições reais foram insípidas, mas a energia do sonho primordial, gigantesca!

Para o leitor que está a ler apenas este trecho, o parágrafo acima pode parecer deslocado do contexto. Mas se estiver a ler desde o início, creio que me entenderá bem.

É bem verdade que quando o disco ao vivo da Patrulha do Espaço foi lançado, eu estava em outra banda e motivado, com um ótimo álbum a ser lançado também etc.

Contudo, a minha frase proferida ao final do disco ao vivo, ao ter sido gravada em julho de 2004, teve uma outra conotação e naquele clima de ânimo baixo em que eu estava mergulhado emocionalmente, poderia ter entrado para a minha história pessoal como o meu epitáfio.

Entretanto, quis o destino que o disco fosse lançado dois anos depois e quando saiu, a minha carreira prosseguia e eu havia superado aquele momento de desilusão com a carreira artística, a música em geral, a arte, a cultura e até com o Rock, que sempre foi a amálgama de tudo em minha percepção. 

Sábio foi o destino... estou aqui em 2015, vivo e feliz por estar ainda a lutar e a fornecer a minha contribuição sincera para tudo o que elenquei acima e também, nas entrelinhas do que tudo isso representa para um plano maior.
No próprio encarte do disco, o Junior menciona que vinte e cinco músicas desses três shows, foram mixadas em 2006. Dezessete estão registradas oficialmente nesse disco. Uma faixa foi lançada como bônus track no álbum posterior da banda, com outra formação. Portanto, o Junior deve ter engavetado sete canções dessa gravação, e que possivelmente vá lançar um dia. Torço para que sim...

Então foi assim que um "vivo póstumo" entrou para a minha galeria de álbuns gravados em toda a minha carreira.

"Capturados ao vivo no CCSP em 2004"...

Agradeço o apoio dos canais de YouTube: Rock'NHeavy e Nando Nastácia pelos links das canções que compõem esse álbum ao vivo.

Continua...

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