sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 116 - Por Luiz Domingues

Chegamos ao pequeno espaço Centro Cultural Cidadão do Mundo, com bastante antecedência em relação ao nosso horário estipulado para apresentarmo-nos. Verificamos que haveriam diversas bandas, todas, invariavelmente de espectro artístico ligado ao dito "indie Rock" e apenas conhecíamos vagamente uma por nome, mas nem imaginávamos como seria o seu som, e que chamava-se: "Garotas Suecas". 

Conhecíamos também o "Kães Vadius", que era uma veterana banda da cena do Punk-Rock e oriunda dali mesmo da região do ABC.

Pedra no "Grito Rock de 2008", a tocar no Centro Cultural Cidadão do Mundo, em São Caetano do Sul-SP. Foto de Vivi Alcaide

Muito bem recebidos pelos responsáveis pela casa e pelo evento em si, estes levaram-nos para uma espécie de "lounge" improvisado, que na verdade era uma laje da casa. As instalações eram bem simples, mas a simpatia da rapaziada foi muito grande e sentimo-nos muito bem ambientados, apesar de sermos "estranhos no ninho" em um nicho cultural muito diferente do nosso. 

O entra e sai de bandas no pequeno palco foi intenso e na rua, a prefeitura de São Caetano do Sul estava a colaborar com o evento, pois interditara a via e dessa forma, uma pequena multidão a transformou em uma espécie de "pic nic" urbano e improvisado e nem todo mundo que esteve ali a comer e beber nos carrinhos de hot-dog que estavam ali a trabalharem, tinha a ver com o Festival, pois até batucadas de samba foram ouvidas, a transformar a rua um churrasco popular. 

Bem, não foi exatamente uma ambientação de show de Rock, mas esteve festivo e eu achei positiva a movimentação popular, com todo mundo ali a parecer divertir-se. Dentro do espaço do festival, ouso dizer que houveram mais músicos e roadies a circularem do que público propriamente dito. 

Foi tudo gratuito, portanto deveria ter atraído mais gente. Mas revelou-se o tal negócio: aquele mundo "indie" não era o nosso e ali não sabíamos quais expectativas nutrirmos sobre a confluência de público. 

Que tipo de divulgação fora executaram foi uma dúvida que alimentamos e além do mais não soubemos nada a respeito das demais bandas que apresentar-se-iam a não ser o "Kães Vadius" que deveria atrair seu público adepto do Punk-Rock oitentista. 

Quando fomos chamados a tocar, foi meio tumultuado fazer a preparação do set up, como foi previsto pelas dimensões acanhadas do pequeno palco e confusão generalizada pelo entra e sai de músicos e roadies.

Aqui nesta imagem eu, Luiz Domingues, apareço em destaque, na foto clicada pelo nosso roadie, Samuel Wagner

Tocamos quatro ou cinco músicas apenas, em meio a um show de choque adequado ao formato "Festival". 

Lembro-me da nossa execução de "Filme de Terror", na qual, inclusive, eu tive um problema de última hora com a tarraxa do meu baixo Rickenbacker e com a música já em execução, eu tentei corrigir a tocar, mas não consegui a minha intenção a contento e dessa forma, uma filmagem feita por uma pessoa do público e postada no YouTube imediatamente, mostra-nos a tocarmos com esse incômodo de duas cordas do meu baixo fora da afinação correta e portanto, não vou postá-lo aqui, por que é desagradável. 

Além do mais, pela ausência de uma iluminação mínima, a filmagem é bem escura e também por isso, não vale a pena vê-la. Após a devida afinação, o restante da apresentação correu bem. 

Tanto que as pessoas aplaudiram com entusiasmo e isso até surpreendeu-nos, pois com um tipo de público não acostumado a sonoridades clássicas, achamos erroneamente que portar-se-iam de forma blasé, mas não foi o que ocorreu. 

Tanto que recebemos o convite para voltarmos a esse Centro Cultural a seguir, para um show solo, fora do contexto do Festival e assim o fizemos, dois meses depois. 

No Blog desse Centro Cultural, uma resenha foi escrita por um jornalista chamado: Tadeu Alcaide, a falar sobre o festival, especificamente do dia em que tocamos. Leia abaixo o que ele disse, editada a parte que cita-nos:

"De tempos em tempos é preciso dar uma sacudida no cenário roqueiro em lugares que sofrem de uma certa carência de espaços para as bandas mostrarem suas caras, divulgarem seus trabalhos e serem inseridas no circuito. O Grito do Rock confirmou que se pode fazer muito com pouco, tendo sido realizado em quase 50 cidades, num evento integrado, independente e de proporções internacionais, incluindo as cidades de Buenos Aires, na Argentina e Montevidéu, no Uruguai, tudo isso sem o envolvimento de grandes patrocinadores. A edição do Grito no ABC provou que, há sim um espaço para difundir toda essa produção musical, e que existe um público que está cada vez mais disposto a frequentar esses eventos e conhecer novas bandas com um trabalho autoral, quebrando aos poucos aquela cultura instituída na região de apenas haver espaço para bandas “cover”. O Cidadão do Mundo deu um passo importantíssimo no sentido de inserir a região do ABC no circuito dos festivais independentes, com uma boa organização, não houve grandes atrasos entre um show e outro, a programação seguiu pontualmente os horários marcados. Mas o principal atrativo do evento foram as bandas, que fizeram apresentações cheias de energia e carisma, com a participação entusiasmada do público.
O show da banda Pedra foi um dos momentos altos do Festival, apresentando um hard rock setentista, muito bem executado por músicos veteranos da cena roqueira, velhos conhecidos de grupos como Patrulha do Espaço e Ave de Veludo, que impressionaram bastante por sua competência no palco".

Tadeu Alcaide

Com exceção da citação de que algum de nós havia tocado no "Ave de Veludo", e não sei de onde o rapaz tirou tal ideia, trata-se de uma resenha bem feita.

Eis o Link do Blog do Centro Cultural Cidadão do Mundo, para ler na íntegra a resenha de Tadeu Alcaide:

http://mundodocidadao.zip.net/arch2008-02-01_2008-02-29.html

Alguns dias depois, recebemos o telefonema do produtor Marco Carvalhanas, a dar-nos ciência de uma outra oportunidade de show e que poderia ser muito interessante.

Continua...

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