quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Pedra - Capítulo 119 - Por Luiz Domingues

É bom recordar ao leitor que nessa época, 2008, eu ainda não acessava a Internet, por incrível que pareça! E por ficar alheio ao mundo virtual (eu só começaria a interagir a partir de 2010), eu ficava sempre a margem das novidades, por ser o último a saber de tudo o que dizia respeito da banda e até em relação à minha pessoa e minha carreira como um todo, além de tudo o que envolvia os trabalhos que eu fizera no passado.

Portanto, ao se considerar que eu já acumulava uma carreira com trinta e dois anos de existência naquela época, com muitos trabalhos e alguns deles com boa repercussão, foi natural que na Internet e nas suas inerentes redes sociais, falassem de minha pessoa e de tais trabalhos, sem que eu tivesse noção do que acontecia. 

Nesses termos, uma figura que eu conhecera nos anos oitenta e que tivera uma relação de trabalho e amizade, aproximou-se do Pedra pela Internet e sob uma primeira instância ele pareceu estar interessado em realizar entrevistas comigo e Xando, para que nós falássemos sobre bandas oitentistas por onde passamos respectivamente, A Chave do Sol e o Harppia, no caso do Xando.

Tratara-se de: Antonio Celso Barbieri, um agitador e produtor cultural que eu conhecera em 1984, quando este esteve envolvido com a produção do evento "Praça do Rock", pelo qual, A Chave do Sol apresentou-se diversas vezes. 

Depois disso, entre 1985 e 1986, a nossa relação profissional progrediu, com o Barbieri a produzir muitos shows d'A Chave do Sol, até que em 1987, ele tenha tomado a resolução de deixar o país, ao ir morar em Londres, onde radicou-se e mora até os dias atuais.

Nos anos noventa, quando eu estava a atuar com o Pitbulls on Crack, houve a possibilidade dele tentar ajudar essa banda de alguma forma, e um material foi enviado em mãos para ele, através de um amigo que viajou de férias para Londres em 1997, mas ele, Barbieri, não pode nos ajudar muito na ocasião. 

Nos anos 2000, 2001 para ser específico, Barbieri veio ao Brasil passar férias, e deu certo a oportunidade para assistir um show da Patrulha do Espaço, onde eu estava a atuar na ocasião, através de uma casa noturna de São Paulo, mas nenhum negócio foi combinado, ao ter sido apenas uma reunião de confraternização. 

Então, nesse momento, foi a primeira vez em anos que ele se mostrou interessado em produzir algum trabalho com uma banda minha, pois eu fui informado que ele estava muito impressionado com o som do Pedra. 

Já faziam muitos anos, ele mantinha um site bem organizado e muito acessado, chamado: "Memórias do Rock Brasileiro", onde depositava textos a expressar as suas memórias que remontavam aos anos sessenta e setenta e a sua militância mais incisiva como produtor a partir dos anos oitenta, além de muito material acumulado sobre bandas brasileiras em geral, principalmente as que ele teve contato, ao trabalhar. 

Portanto, por apreciar o nosso som e nessa altura, o disco Pedra II já estava a ser lançado e o Xando o havia disponibilizado para audição, ele rapidamente publicou uma matéria em seu site, a tecer elogios rasgados, e como eu o conhecia de longa data, sabia de um fato: Barbieri não era (é) de elogiar a toa. Se estava a enaltecer, foi por que impressionara-se de fato.

Não demorou e ele fez uma proposta irrecusável à banda: queria produzir um vídeoclip de um trabalho nosso! Claro que aceitamos, mesmo por que, tínhamos dois bons clips produzidos em película de cinema e vários promos de internet referentes à diversas músicas do primeiro disco, mas agora estávamos sem perspectivas para produzirmos um clip no mesmo nível e um disco novo estava a sair do forno. 

Barbieri empolgou-se e passou a interagir fortemente com a banda, portanto, e os seus e-mails e depoimentos através da saudosa Rede Social "Orkut" se tornaram diários, praticamente, a deixar-nos a par de seus planos. 

Foi quando em um determinado dia desses, ele falou-nos que estava encantado com um vídeo experimental que vira na internet, feito por um artista canadense chamado: Paul Wittington. 

Mais que isso, tal vídeo seria em sua percepção, assombrosamente próximo da metragem da música: "Longe do Chão", do nosso novo disco e que, pasmem, encaixara-se visualmente de uma forma tão perfeita à música e as suas nuances, que parecia ter sido concebido para ela e vice-versa.

Ao carecer de poucos ajustes que ele mesmo providenciaria em sua ilha de edição, lá em Londres, Barbieri estava animadíssimo para fazê-lo. Lógico que aceitamos e dinâmico ao extremo (e eu o conhecia há muitos anos e sabia que ele era assim mesmo, portanto), não surpreendi-me quando soube que ele já havia feito contato com  o artista canadense e havia pago uma quantia exigida pelo mesmo para outorgar-lhe direitos exclusivos sobre a imagem. 

Sendo assim, ao oferecer como um presente para a banda, além de pagar uma boa quantia para o rapaz e perder horas em uma ilha de edição, isso por si só já fora sensacional para nós, mas o que não poderíamos imaginar, seria que o tal clip com essa animação a casar-se de uma forma incrível com a nossa música, ofertar-nos-ia uma surpresa incrível, assim que fosse ao ar.

Ainda fechado para o público, nós vimos a prova final do clip e ficamos muito impressionados com a qualidade da animação e a sincronia incrível que mantinha com a música e de fato, a edição do Barbieri fora mínima, em alguns detalhes apenas, como por exemplo ao suprimir algumas tarjas escritas em inglês e com nenhuma conexão com nossa música, para substituí-las por palavras básicas em português e dentro do contexto da canção. 

Ficamos super animados, pois tínhamos enfim um clip à altura dos anteriores e que veio muito a calhar com o lançamento do novo álbum. Então, o Barbieri abriu ao público em geral no YouTube, e algo ainda mais incrível ocorreu...

Continua... 

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