terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 278 - Por Luiz Domingues



De uma forma geral, quando chega a hora de se gravar voz, aí já não dá para se forçar barras e enfrentar o cansaço a esmo. Por se tratar do organismo humano em questão, gravar várias canções seguidamente, a estabelecer várias tomadas, e muitas vezes a gravar dobras, se desgasta em demasia e se não houver uma certa prudência pode até gerar uma lesão no cantor, muitas vezes com gravidade. 

Portanto, ao mesmo tempo que comemorávamos o fato de que essa gravação estava a ser feita com muita calma, ao mesmo tempo não queríamos forçar nada, e se não desse para concluir a parte vocal antes do natal, marcar-se-iam sessões para janeiro, e aí a se dispensar a necessidade da banda estar inteira ali e com seu ônibus e equipamento.


Outro fator que nos preocupou nessa reta final da gravação foi o fato de uma música em específico não ter a sua letra ainda concluída e assim, a deixamos por último para gravar, ao dar-lhe tempo para ser fechada. Tratou-se de "Universo Conspirante", que teve decisiva participação do Rolando Castello Junior em sua conclusão poética, nos estertores de nossa estada na chácara.
Aliás, nesse disco em específico, o Junior colaborou bastante com ideias nas letras, é bom registrar, ao contrário dos álbuns anteriores onde os demais, incluso eu, Luiz Domingues, contribuímos mais.

Todas as vozes foram gravadas sem problemas e os backing vocals, também. Eu participei bastante dos backing, mas não contribuí muito na elaboração dos arranjos vocais, como houvera sido no disco anterior, quando fui responsável pela maioria das ideias nesse quesito.

Curiosamente, a mixagem me beneficiou nesse álbum e a minha voz aparece claramente, mesmo misturada às vozes de Rodrigo e Marcello, que sempre tiveram emissão muito mais forte que a minha.

Conforme eu já relatei anteriormente, gravamos sim a música "Sr. Empresário", canção do Arnaldo Baptista, que deveria ter feito parte do primeiro álbum da Patrulha do Espaço (LP "Elo Perdido"), mas que foi descartada em 1977.

Ela ficou muito bem gravada, contém uma força e um suingue incrível e no backing vocals, a minha voz está em evidência, ao ter se somado à do Marcello que conduziu o vocal solo. 

Entretanto, ao temer problemas com a Warner Chappell e Lucinha, esposa do Arnaldo e que gerenciava a sua carreira, o Junior optou por não inclui-la no álbum. Acho que ao pensar na questão burocrática, ele acertou em sua decisão, mas foi uma pena, pois a gravação ficou excelente e os fãs da Patrulha do Espaço iriam delirar com tal raridade. Mesmo por que, a letra é bem no estilo do Arnaldo da fase do seu LP solo, "Loki" de 1975, com muitas imagens loucas e a conter aquela dose de cinismo/deboche que tanto encanta seus seguidores fanáticos ao longo dos tempos. 

Quem sabe um dia essa gravação seja lançada? Eu gostaria muito que isso acontecesse.

O "seu" Walter, nosso intrépido motorista, veio nos buscar. O ônibus ficara na chácara o tempo todo, mas ele voltara para São Paulo, pois não havia sentido que ele ficasse ali nesses dias todos da gravação, e de fato, ele tinha os seus afazeres na capital, naturalmente.

Foi a quarta feira, dia da nossa partida e antevéspera do Natal quando faltava gravar apenas um detalhe, a voz principal da música "Universo Conspirante", pois ainda faltavam alguns versos a serem escritos. Até os backing vocals já estavam finalizados, mas faltava a voz principal, exatamente pela não conclusão da letra.
Todos se prontificaram a tentar ajudar e nos estertores, finalmente o Junior e o Marcello acharam algumas frases que se encaixaram com o teor do tema proposto e aí, a gravação foi feita a toque de caixa, com toda a bagagem e o equipamento da banda já dentro do ônibus, preparado para a nossa volta para São Paulo. Incrível, não me lembro de ter passado por uma situação semelhante em nenhum disco que gravara anteriormente, incluso todas as outras bandas por onde passei.

Todavia, tudo bem, encerramos a gravação e dispensamos assim a necessidade de marcarmos sessões extras para depois das festas.

Claro, com exceção da mixagem, que forçosamente teria que ser marcada para janeiro, mas que por dificuldades de agenda do próprio estúdio que tinha fechado datas com outros clientes, ficou mesmo para o final de fevereiro de 2004.

Como último ato de nossa gravação e retiro bucólico, uma foto foi proposta a retratar a banda, sua equipe de produção, os técnicos do estúdio, o amigo Junior Muelas, e vários outros amigos que visitaram as gravações ao longo desses dias.

Tal foto foi feita na sala de gravação, com clima de total descontração e infelizmente alguém deu a ideia infeliz para que "todos" posassem a fazer um gesto obsceno, a usar o famoso dedo médio em riste. 

Sinceramente, eu não consigo entender essa mania idiota que quase todo mundo tem para estragar fotos e filmagens a usar desse expediente imbecil. Qual a motivação desse ato?  Querer mostrar rebeldia? Querer xingar a esmo? Querer ofender a sociedade?

Enfim, é claro que não concordo e jamais participo de palhaçadas ginasianas desse porte, aliás, se não fazia isso quando tinha doze anos de idade, e já achava isso uma idiotice, como poderia fazê-lo ali, no alto dos quarenta e três anos e meio de idade que eu ostentei na ocasião?

Enfim, cada um com a sua motivação e consciência, mas está registrado na foto, e que lastimavelmente ilustra o encarte do álbum. 

Sou o único que não estou a fazer o gesto inconveniente e justiça seja feita, acho que o meu amigo, Junior Muelas, também não, mas não posso afirmar isso categoricamente, por que ele está com os seus braços encobertos na foto. Alguns meses depois, ao ler uma resenha do álbum, um crítico ironizou a foto do encarte, e eu tive que concordar com sua colocação, ainda que com vergonha por isso. 

De qualquer forma, estou na extrema esquerda da foto e de braços cruzados, para acentuar a minha predisposição em contrário dessa resolução infantiloide, que lastimo ter sido adotada em uma foto usada em encarte.

Continua...

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