quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 243 - Por Luiz Domingues

Muito bem recebidos pelo radialista, Morcegão, demos o nosso recado mediante a nossa contundência padrão e com amplo espaço para a divulgação do disco novo que saia do forno, e o show de lançamento que dar-se-ia dali em duas semanas. 

E a parte musical ao vivo, foi muito boa, com uma estrutura razoável de sonoridade dentro do estúdio envidraçado para que as bandas tocassem ao vivo, e com ampla e linda visão da esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta. Foi em um domingo nublado, havia chovido levemente no início da manhã, e as ruas estavam úmidas, com poucas pessoas a caminhar. O retorno do áudio dentro do estúdio não foi dos melhores, mas isso não nos impediu de tocarmos com naturalidade e energia.

O locutor, "Morcegão", em foto de seu acervo, extraída de seu site pessoal

Não deveria ter sido assim, mas o Morcegão culminou em dobrar a resistência dos mandatários da emissora e assim liberou a entrada de algumas pessoas. Portanto, um grupo de fãs da Patrulha do Espaço apareceu, por terem garantido ingresso mediante a procura por telefone. Não foi cobrado nenhum valor, mas a emissora limitara o número de pessoas permitidas, certamente ao desejar evitar um tumulto nas dependências da rádio.
Então, cerca de dez pessoas entraram e na verdade, valeram por cem, pois estavam tão entusiasmadas que nos contagiaram positivamente, visto que até entrarem com a sua adrenalina a mil por hora, nós estávamos modorrentos, em virtude do horário insalubre, sempre desagradável para Rockers notívagos como nós...

Existe uma filmagem em formato mini-VHS desse compromisso, a conter um pouco dos bastidores e também trechos da banda a trabalhar no seu soundcheck e a atuar ao vivo, a seguir. Tal material já foi digitalizado e a qualquer momento vai ser postado no YouTube e claro, acrescentará demais. 

Um acontecimento fortuito ocorreu ali nessa entrevista/show ao vivo. Entre as dez pessoas que assistiram a nossa performance, uma garota nos abordou a alegar ser estudante do curso de Rádio e TV da Universidade São Judas Tadeu, uma instituição de ensino muito famosa, localizada no bairro da Mooca, zona leste de São Paulo. 

Ao falar sobre um programa no qual ela estava a participar da equipe de produção, junto com outros colegas do curso, eis que nos convidou a participar, ao nos afirmar que seria uma honra ter a nossa presença e que mesmo sendo uma produção simples e veiculada através de um canal obscuro e com pouca visibilidade (no caso o Canal Universitário, um desses canais obrigatórios que a TV a cabo colocava na sua grade por questão de contrato com a concessão do governo, mas que sabíamos que continha audiência quase zero).

Tudo bem, sem preconceito, sabedores que na mídia mainstream nós não não tínhamos nenhuma chance, a não ser através de reportagens sazonais no campo do jornalismo ou em alguma produção na TV Cultura, não tínhamos por que rejeitar a aparição, não só por não desperdiçarmos oportunidades, mas também por sermos solidários com quem a grosso modo, também era outsider como nós. 

O único problema nessa história, foi que marcaram a nossa presença no estúdio/escola da Universidade, para as 6:00 horas da manhã de um dia útil e aí, claro que foi um exercício hercúleo. Um sacrifício e tanto para cumprir uma logística insana que nos obrigou a madrugar.

Para amenizar, essa moça nos disse que tocaríamos ao vivo, mas não daria para ser com a nossa volúpia sonora habitual, e assim, perguntou-nos se nós não nos importaríamos em fazer algo mais leve, semi-acústico ao menos. Bem, não foi a primeira vez que nos aparecera uma tarefa desse teor, com tal particularidade de ser algo fora de nosso padrão. Nesse caso, até gostamos, por que seria um transtorno ter que transportar o backline, e fazer um soundcheck em um horário absurdo desses.

Chegamos no estacionamento da Universidade um pouco antes das seis horas da manhã, com pouco equipamento e isso foi um alento e tanto. Arrumamos tudo com relativa rapidez e fizemos um soundcheck bem simples. No estúdio, o PA disponibilizado pela produção do programa, foi de pequeno porte, adequado para sonorizar uma apresentação comedida, talvez para um ambiente pequeno, como um bar com tímida proporção física. 

Acertado o som, sabíamos que não teríamos um áudio maravilhoso ali, mas daria para tocar com um mínimo de qualidade.

O jornalista esportivo e professor de jornalismo na Universidade São Judas, Flávio Prado

Fomos convidados a deixar o estúdio, e aguardarmos no corredor, para não tumultuar o trabalho etc. Nesse momento, eu vi a caminhar pelo corredor, o jornalista, Flávio Prado, que era (é) um comentarista esportivo bastante famoso em São Paulo e que era também professor de jornalismo, rádio e TV naquela universidade. Não resisti e o abordei, para falar sobre o futebol, assunto que tenho vívido interesse desde a infância, e ele foi bastante simpático naquela conversa rápida travada no corredor daquela instituição de ensino. 

Claro, ao perceber o meu visual, com cabelo pela cintura, e trajado com figurino para entrar em cena, ele logo deduziu que eu apresentar-me-ia no programa de seus pupilos e assim, ao lhe fornecer também rápidas informações sobre a nossa banda, ele se despediu ao alegar estar a se dirigir para a sua primeira aula matinal.

                 A banda maranhense de reggae: "Tribo de Jah" 

Outra ocorrência curiosa se deu quando vimos que uma outra banda gravaria participação no mesmo programa, antes de nós e nas mesmas circunstâncias, ao se apresentar com um formato semi-acústico. Foi a "Tribo de Jah", uma banda que detinha um bom reconhecimento artístico no meio, principalmente no mundo do reggae, nicho onde desenvolvera a sua carreira. Se tratava de uma boa banda dentro desse segmento e continha uma particularidade: era formada por músicos cegos e somente o vocalista tinha visão normal. 

E foi justamente com ele, o vocalista, Fauzi Beydoun, um sujeito simpático e cordial, que conversamos e nos confraternizamos antes do início das gravações. Ele sabia quem éramos e nos disse ser apreciador de Rock, também, e que gostava de bandas setentistas tais como o Free, Bad Company, Led Zeppelin e que o seu cantor predileto era o David Coverdale.

                     Fauzi Beydoun, vocalista da Tribo de Jah

Quando nos chamaram para gravar, já eram quase dez da manhã e nós fizemos a nossa aparição de forma tranquila, a tocarmos algumas músicas que já estávamos acostumados a executar em arranjo alternativo semi-acústico. 

A pauta dos estudantes foi fraca, com perguntas muito básicas e a denotar que foram preguiçosos para investigar a nossa carreira, mas apesar do nosso humor não estar o melhor diante daquele horário insalubre, isso não nos desestabilizou e a condução do programa transcorreu de forma tranquila. 

Infelizmente e essas coisas são inexplicáveis no meio das comunicações, no dia em que nos disseram que o programa iria ao ar, lá estava eu com o controle remoto do meu VCR a postos para apertar os botões "Play e Rec", mas o programa passou com outra atração que não fomos nós, logicamente e na semana seguinte o mesmo ocorreu. Ligamos para a garota da produção e constrangida, ela não soube como justificar a nossa ausência e ficou de nos dar o retorno com a data certa ou uma explicação sobre a não exibição, mas estamos a aguardar isso até os dias atuais, 2015, quando eu escrevi este trecho. É muito pouco provável que alguém tenha preservado uma cópia, mas quem sabe um dia alguém posta isso no YouTube, e nos surpreende? 

A vida seguiu e outros agitos de mídia tivemos antes do show de lançamento do novo álbum.

Continua...

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