quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 242 - Por Luiz Domingues

Como eu já disse anteriormente, no início de 2003, tivemos um hiato de shows. 

Isso por que para materializar a logística de uma turnê, tal planejamento custava ao Rolando Castello Junior, tempo para articular e negociar com contratantes e quando a banda ia para a estrada, efetivamente o seu lado "empresário" parava de funcionar dentro dessa predisposição e aí, para se garantir uma sequência, isso só seria possível se ele se dedicasse novamente ao trabalho árduo no escritório. Em suma, definitivamente, nós precisávamos de um empresário para cuidar do negócio, mas nunca tivemos essa ajuda profissional externa.  

Entretanto, se tivemos essa dificuldade gerencial que nos causava incômodo, por outro lado, a parada específica nesse período teve o seu lado bom. Isso por que foi providencial para podermos nos dedicar à finalização da parte gráfica do novo disco, e em atividades paralelas, tais como a preparação do material de divulgação para a imprensa. 

Foram muitas visitas feitas à residência do Luiz "Barata" Cichetto, que na época morava no bairro do Tatuapé, na zona leste de São Paulo. Toda a parte de texto do encarte foi concebida ali no seu computador, e nesse tempo, ele já havia se assumido como web designer da banda, ao substituir o então garoto, Marcelo Dorota, este que em fase difícil de se preparar para o vestibular, já não poderia dedicar-se à nossa banda, como gostaria, através do seu entusiasmo sincero, e do qual o agradecemos eternamente.

Nota publicada na revista Rock Brigade, a dar conta que o guitarrista, Xando Zupo, preparava o seu álbum solo, e que teria muitos convidados, incluso a Patrulha do Espaço com a sua formação chronophágica completa

E um outro fator também nos ocupou e foi muito bom artisticamente a falar, fora o prazer que gerou. O guitarrista, Xando Zupo, ex-Harppia, e também com passagem rápida pela Patrulha do Espaço, estava a produzir um disco solo e convidou a Patrulha do Espaço para gravar duas faixas de seu disco. O convite houvera sido feito ainda nos últimos dias de 2012, mas tudo se concretizou mesmo no início de 2013. 

A sua proposta foi para nós gravarmos uma música inédita e autoral e uma outra faixa seria uma releitura de uma música da "James Gang", uma banda norte-americana sessenta-setentista que todos gostávamos. Sendo assim, fizemos alguns ensaios em janeiro de 2003, e efetuamos gravações entre fevereiro e março, para finalizar tal material. 

Gravamos então a canção: "Must Be Love" da James Gang (originariamente, essa música está contida no LP "Bang", de 1974, dessa grande banda norte-americana), e a autoral se chamava: "Livre como Você". 

Essa história ficou tão rica em detalhes que eu considerei que mereceu ganhar um capítulo especial e destacado, portanto, apesar de envolver a Patrulha do Espaço em sua formação chronophágica completa, ela foi narrada no Capitulo dos "Trabalhos Avulsos".

Aqui, eu contei de forma reduzida, mas para saber de mais detalhes dessa gravação e lançamento, procure:

"Trabalhos Avulsos, Capítulo 76 (Patrulha do Espaço + Xando Zupo = àlbum Z-=Sides, guardado no arquivo em agosto de 2013, neste mesmo Blog 2.

 http://blogdoluizdomingues2.blogspot.com.br/search?q=Trabalhos+Avulsos+Z-Sides

Ou no Blog 3, o capítulo "Trabalhos Avulsos", Capítulo 28 (Patrulha do Espaço + Xando Zupo = Z-Sides, quase um prenúncio) :

http://luizdomingues3.blogspot.com.br/2015/03/trabalhos-avulsos-capitulo-28-patrulha.html 

Eis abaixo o álbum Z-Sides na íntegra. "Livre como Você" é a primeira faixa e "Must Be Love" é a 9ª faixa

Eis o Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=hUCVU5xtf9o

  
Já a adentrarmos o mês de março, tivemos algumas atividades de divulgação do novo disco e do seu show de lançamento, que nos ocuparam, além de um show no interior, isolado, em uma casa noturna, mas sobre o qual eu comento mais adiante.  

Sobre tais atividades no campo da divulgação, foram as seguintes:

Em 16 de março de 2003, nós tínhamos agendado uma entrevista/show ao vivo no estúdio da emissora Kiss FM. O programa: "Made in Brazil" era um verdadeiro oásis em meio a uma programação que não dava brecha alguma aos artistas nacionais, pois tal emissora privilegiava o Rock internacional, de uma forma retumbante, ao não ofertar chances aos artistas pátrios. 

Se por um lado, a programação da emissora era boa, por focar no Rock das décadas passadas, ao assumir-se como uma emissora voltada ao dito, "Classic Rock", por outro, causava-nos espécie (e ainda causa-nos), que a referida estação não prestigiasse artistas nacionais autorais, mas pelo contrário, abrisse as suas portas para divulgar e incentivar bandas cover! 

A justificativa de seus mandatários, foi que tais bandas cover praticantes do "Classic Rock" no circuito de casas noturnas da cidade de São Paulo, tocavam o repertório base que a emissora se propunha a executar, portanto, haveria uma "parceria" de ideias e ideais, no sentido de se manter viva a chama do Rock 1960/1970/1980, a sua base mais usual de atuação.  

Ora, tal justificativa foi tão "sólida" quanto um castelo de areia na praia, e era (é) inacreditável que mantivesse essa mentalidade engessada e pior ainda, ao abrir as suas portas e a estender tapetes vermelhos para músicos que nada criavam, mas que se propunham a viver a canibalizar a criação alheia.  

Respeito quem vive disso, pois entendo que não é fácil, para não dizer impossível, viver de música no Brasil. Para colocar comida na mesa, pagar a conta da luz e ter um teto decente, é imprescindível que se ganhe dinheiro e com o show business dominado por uma máfia ultra fechada, a quantidade de bons músicos que ficam relegados ao limbo é enorme e claro que sob uma situação extrema de luta pela sobrevivência, submetem-se ao sacrifício de exercerem a música profissionalmente, mas apenas como reprodutores da criação de artistas consagrados.

Isso eu entendo e respeito como forma de sobrevivência digna. 

Mas muito diferente foi uma emissora de rádio dar espaço para bandas com tal proposta, pois se detinham concessão do governo para agirem como difusores culturais, a função de executarem o trabalho artístico já se cumpria, portanto, ao incentivar jukebox humana, fora o fim da picada. 

E o outro lado dessa medalha, algo tão nocivo quanto, ao não darem espaço para artistas autorais vivos, um atentado à cultura, portanto, a se provar um contrassenso para quem tinha/tem licença oficial para difundir cultura.

Um outro argumento que usavam (usam), era que tais bandas com esse tipo de proposta seriam "parceiras", pois tratavam por manter a chama do "Classic Rock" acesa em suas apresentações e isso instigaria o seu público a procurarem a emissora no cotidiano, e dar-lhes audiência. Ou seja, fomentavam um modus operandi a manter um moto perpétuo fechado nesse ciclo, daí o interesse. 

Ao sonegar espaço para artistas autorais, matavam a possibilidade de haver uma cena viva, como se desejassem que o tempo parasse e ficássemos eternamente a vivermos em 1972.

Ora, ao leitor que possa me enxergar contraditório nessa afirmação, esclareço que adoro essa época e estética, mas eu não desejava viver congelado nela. Tanto que a proposta do Sidharta e que a Patrulha cooptou, foi a do conceito "Chronofágico" de viver o presente, a usufruir do frescor imediato da época contemporânea, mas sem apagar o passado, ao prover a mescla ao passado como influência, mas não a "voltar" para ele como em uma máquina do tempo.

Sendo assim, achava (acho), absurda a proposta da Kiss FM, que em detrimento de tocar 70 ou 80 % de material que eu gosto e me influencia fartamente, não me despertava a mínima vontade de sintonizá-la, pois irritava-me verificar que bandas excelentes que estavam ativas e atuantes na cena do underground então em voga, jamais tocaram (ou tocarão) nessa emissora, mas bandas cover que nada criavam, eram ovacionadas por seus locutores. 

Nesse contexto, entre 2002 e 2003, um locutor que ali trabalhava começou a desejar equilibrar essa questão. Tal radialista chamava-se: Marcelo, e era conhecido no meio radiofônico, por um apelido: "Morcegão".

O radialista, "Morcegão", é o primeiro, da esquerda para a direita, a posar ao lado de colegas da Kiss FM, em produções de campo que costumavam fazer, também. Foto de seu acervo, que achei em seu site pessoal

Comunicativo ao extremo, como todo bom locutor de FM, Morcegão mantinha os seus fãs e seguidores, e com a força popular adquirida por conta da rádio, emplacou um programa para quebrar esse paradigma da emissora, e criou então esse pequeno oásis ali dentro, chamado: "Made in Brazil". A sua proposta foi manter, sim, o padrão do Classic Rock que norteava a emissora, mas a apresentar artistas brasileiros, e se possível, que estivessem vivos, a criar, atuar e sobreviver com a sua criação autoral. 

Foi o nosso caso, e com a agravante de que vivíamos o sonho do resgate total das raízes da nossa própria banda, conforme eu já salientei amplamente desde o capítulo 1, da história da minha fase com a Patrulha do Espaço. Portanto, com um disco novo a ser lançado em breve e show de lançamento do mesmo à vista, o Morcegão nos agendou para tocarmos ao vivo e mantermos uma boa conversa, na manhã de um domingo, 16 de março de 2003.

Continua...

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