quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 241 - Por Luiz Domingues

Sobre o disco em si, em termos de suas músicas, eis algumas considerações a seguir:

Bem, como já foi amplamente comentado, esse disco teve uma produção sofrida. A limitação financeira de uma banda independente, e sem nenhum apoio externo, a não ser patrocínios de pequena monta, foi uma razão óbvia que nos atravancava, mas houve outro componente, também. O fato, é que no ano de 2002, nós tivemos um ano de agenda cheia, e foram poucos os espaços que tivemos para nos atermos à produção do álbum.  
Ao mesmo tempo em que a agenda cheia significara que estávamos a faturar, por outro, a despesa adquirida pela aquisição do ônibus, e a sua manutenção que era muito cara, fez com que verbas que seriam gastas na produção do disco, fossem parar nas mãos de oficinas mecânicas, lojas de autopeças, borracheiros, aluguel de garagem, e nos postos de combustíveis.  

Portanto, nós gravamos as bases inicialmente em junho de 2001, fechamos os vocais e complementos de overdubs entre julho e agosto do mesmo ano, mas só conseguimos mixar o disco, um ano depois. E apenas no início de 2003, nós reunimos recursos e apoio no tocante a trabalhar no lay-out de capa e encarte, mais as despesas de gráfica, fábrica de prensagem dos CD's e sessão de fotos. 

Sobre as músicas do disco, muitas delas já tocávamos regularmente nos shows. "São Paulo City", por exemplo, nós já tocávamos desde 2000, quando a inserimos imediatamente ao repertório de shows, assim que Rodrigo e Marcello a compuseram, e nós estabelecemos um arranjo definitivo. "Terra de Minerais" e "Homem Carbono", já estavam a serem executadas ao vivo no início de 2001, antes mesmo de serem gravadas.

Sobre o estúdio onde a gravamos, creio que eu já tenha contado tudo sobre a sua precariedade. Se saímos dali com sete músicas gravadas, devemos isso ao esforço sobre-humano do técnico, Kôlla Galdez, que por nossa sorte era funcionário ali, e ele era um Rocker e fã contumaz da Patrulha do Espaço. Nesse caso, ele se esforçou para fazer aquele estúdio pessimamente cuidado (com falhas de manutenção terríveis, fora o aspecto de ser antiquado, no mau sentido da palavra, pois se em ordem, seria chic gravar em condições analógicas da velha guarda), a nos dar subsídios para gravar. 

No entanto, um fator seria o Lenny Kravitz gravar com equipamentos jurássicos e propositalmente assim, mas em Nova York, com tudo a tinir, com manutenção exemplar e uma outra situação muito diferente, foi trabalhar com um equipamento vintage, porém tudo a se mostrar quebrado.

Kôlla foi um herói nesse aspecto, e se o disco não soa bem, saiba o leitor que sem a presença dele e a sua resiliência inacreditável para lidar com aquela situação, nem o teríamos. Nas mãos de outro técnico qualquer que ali trabalhava e costumava gravar discos de aspirantes a artista popularesco e/ou disco de dentistas, não teríamos coragem de lançá-lo nem como bootleg com padrão de rough mix. 

Sobre o outro estúdio onde finalizamos a mixagem e a masterização, este era bem mais moderno e aprumado, mas além do tempo escasso que tivemos, e pelo fato do técnico, Alan, não entender direito a nossa proposta (por ser um técnico acostumado a gravar bandas Gospel com sonoridade Pop, baseadas em R'n'B norte-americano e "modernoso"), nem que ele fosse um Rocker, conseguiria fazer um milagre, com a captura ter sido permeada tão cheia de problemas. 

Cogitamos levar o Kôlla para operar mixagem e masterização, mas além de ser um gasto a mais que não poderíamos arcar, o próprio, Kôlla, nos alertara que ainda não estava ambientado com as mudanças tecnológicas, e o mundo das gravações com áudio digital, ele não dominava ainda.

      Kôlla Galdez, técnico de qualidade, e pessoa muito gentil!

Uma pena, pois sem demérito ao Alan Garcia, que nos atendeu com profissionalismo, acho que o Kôlla teria nos atendido melhor, pela sincronia óbvia de ideias que tínhamos, e pela carga emocional, pois ele amava muito o trabalho e se orgulhava de ter feito a captura, e com toda a razão mantinha esse apreço ao trabalho. 

No encarte, o Rollando Castello Junior citou os dois técnicos, logicamente, mas omitiu os nomes dos dois estúdios, ao preferir acrescentar a brincadeira de o termos gravado e mixado em algum lugar da Guatemala. E o mais engraçado foi que teve gente que levou a sério, e veio nos perguntar por que houvéramoss gravado em um país da América Central, se morávamos em São Paulo, com inúmeros estúdios profissionais!  

Sobre as canções, acrescento:

1) São Paulo City (Marcello Schevano - Rodrigo Hid)

Essa música tinha muito a feição de bandas de Blues Rock peso-pesado como o "West, Bruce & Laing", "Blue Cheer", "Mountain", "Grand Funk Railroad" etc.

"São Paulo City", em um vídeoclip produzido pelo produtor musical/agitador cultural, radicado em Londres, Antonio Celso Barbieri, em novembro de 2014, a mostrar algumas imagens aéreas da "selva de pedra" paulistana, ao som da nossa música. 

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=MqmVDi3sQM0


Esta canção costumava causar frisson nos shows da banda, por seus muitos atrativos, entre os quais, o seu poderoso riff inicial, o refrão cantado com três vozes e sob uma melodia dramática, os solos dobrados muito "ganchudos" e as viradas da bateria, bastante ousadas e pesadas.

Eu gravei com o baixo Fender Precision, e apesar de todas as dificuldades dessa gravação, o timbre é bastante interessante, e ouso dizer, melhor que o som que tirei, ou melhor, "tiraram" à minha revelia, ao me obrigarem a gravar "Flat" no álbum "Chronophagia". 

Gosto muito das intervenções dos contra-solos de ambos, Rodrigo e Marcello, muito inspirados, principalmente em bicordes a estabelecerem, bendings com graves "robustos" e muito no estilo do grande, Leslie West.

A letra escrita pelo Marcello é clara ao meu ver, mas muita gente a considera uma demonstração de amor & ódio à nossa cidade de São Paulo, porém em minha ótica, é uma crítica explícita a quem fala mal dela, e a se levar em conta que o stress urbano gerado não é culpa da cidade, mas do interior neurastênico das próprias pessoas. E nesse raciocínio, mesmo quando saem de férias, levam o stress para fora, junto com elas... 

"Pra que sair daqui, 

Se quem sai agora, 

Leva pra longe, 

O stress das seis horas"...

2) Louco um Pouco Zen (Marcello Schevano - Luiz Domingues - Rolando Castello Junior)

O Riff inicial criado por eu mesmo, é puro acid-rock sessentista, com o sabor "Hendrixiano", muito no espírito do LP "Cry of Love". A parte "B", a apresentar um elemento soul, esta uma contribuição excelente do Marcello à composição, proporcionou-me a possibilidade de criar uma linha bem belançada à canção, da qual eu gosto muito. 

As viradas feitas pelo nosso baterista, Rolando Castello Junior são impressionantes. Não foi à toa que nos shows, tal performance dele  arrancava urros de euforia de Rockers, ao verem uma técnica refinada de um baterista à moda antiga (quando saber tocar era requisito básico para se formar uma banda de Rock, ora bolas..."faça você mesmo", mas só se puder fazer bem feito, malditos energúmenos), e com nível técnico de grandes ícones do Rock sessenta-setentista internacional. 

Após o solo, um interlúdio totalmente funkeado é sensacional, e remete claramente ao Trapeze, e ao Deep Purple/Mark IV. É rápido e rasteiro, mas brilha intensamente ao meu ver. Usei também o baixo Fender Precision, e acho que consegui imprimir uma aura do acid-Rock, ao me inspirar-me em Noel Redding e Billy Cox, os baixistas que tocaram nos discos do Jimi Hendrix,  e que tiravam esse som de Fender Precision, in natura.  

A letra é do Marcello, mas o Junior deu contribuições importantes. Ela fala a rigor, sobre uma visão libertadora, anti-stablishment.

3) Sendas Astrais (Marcello Schevano - Rodrigo Hid - Luiz Domingues)

Eis aqui uma canção com forte apelo psicodélico sessentista, mas também a trazer elementos Hard-Rock e Prog Rock setentistas. Essa ideia inicial nasceu com um riff bem sessentista, e a parte "A" da canção tem essa deliciosa aura "Flower Power".  

Gosto muito do desenho da guitarra do Marcello, a evocar, Roger McGuinn e George Harrison em doses cavalares, enquanto o Rodrigo faz a harmonia etérea no órgão Hammond. 

A minha linha de baixo privilegia a psicodelia nessa parte, por inspirar-me em mestres como: Lee Dorman (Iron Butterfly), Phil Lesh (Grateful Dead) e Jack Casady (Jefferson Airplane), mas com um diferencial em relação à esses baixistas norte-americanos sessentistas, pois optei pelo uso do Rickenbacker, e o timbre agudo e encorpado denuncia a influência de Roger Waters dos primórdios do Pink Floyd, fase Syd Barrett e claro, Chris Squire...

Tanto que a minha linha na parte "B", por falar em Chris Squire, tem um trecho inicial a executar frases em tercinas, que é bastante inspirado em "Close to the Edge", do Yes. E na continuidade, o elemento Hard-Rock se faz presente, a ali surgiu a influência de Jimmy Bain ("Rainbow"). 

O Marcelo imprime um desenho de contra-solo que é muito no estilo de Steve Howe, e que eu gosto muito. Também adoro os backing vocals cantados em efeito de "derretimento" ("A Meta Finaaaal"). 

Quando chega o momento do solo de Mini Moog, a se usar na parte "A", um vocal que eu criei, elege o efeito do contraponto, e tem muita inspiração no Tutti-Frutti dos seus anos de ouro com Rita Lee em suas fileiras. 

A parte "C", deslancha para o Hard-Rock setentista com pitadas Prog-Rock e é o puro som do Uriah Heep. Os vocais em trio, a fazer uma melodia toda desenhada, solos de moog, desdobrada para o slide do Marcelo brilhar intensamente (dá-lhe, Ken Hensley!), e o som do Hammond a cortar com a Leslie a todo vapor... enfim se cantado em inglês, algum desavisado poderia achar que se trata de uma música outtake do LP "Demons and Wizards"...

Sobre a letra, uma criação do Rodrigo, ela é toda etérea, a falar sobre o "Cosmos, Prana, Flor de Lotus, Persona"... ou seja, é bem no astral da espiritualidade e eu aprecio muito. 

Está bem, muitos podem se incomodar com tal abordagem, ao acusá-la de não ser uma letra "comercial", mas não é mesmo... é arte e que se dane o comércio! Acenda um incenso e relaxe.

4) Homem Carbono (Rodrigo Hid - Marcello Schevano - Luiz Domingues - Rolando Castello Junior)

Essa canção surgiu como fruto de uma jam-session, onde todos contribuíram com ideias, mas o maior crédito tem que ser dado ao Rodrigo, que burilou a melodia, escreveu a letra e concebeu a sua parte "A".

Vídeoclip da música: "Homem Carbono" produzido em 2003, por uma turma de estudantes de cinema. Os detalhes sobre essa produção, eu conto na sequência da cronologia dos fatos, em breve.

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=lkUhtnHq1gg


Rock vigoroso, tem uma condução muito forte na parte "A", e mesmo ao contar com a base do piano como carro-chefe, é um riff e tanto, ao parecer criação de guitarra. Gosto muito da introdução em fórmula de compasso, 6/8, também. A parte "B" que foi minha contribuição em seu primeiro trecho, lembra-me o The Who, na fase do LP "Who's Next". 

O Junior brilha como sempre em suas viradas impossíveis, e mediante uma condução muito vigorosa, é claro, com uma pegada incrível. O piano ao estilo "honky-tonk" é muito energético ao ser conduzido pelo Rodrigo e a sua interpretação vocal é fortíssima, tanto que essa música sempre foi muito saudada nos shows. 

Eu gravei com o baixo, Fender Precision e apreciei muito o timbre que remeteu-me ao baixo de Mel Schacher, mas sem tanta distorção como nos primeiros discos do Grand Funk, e mais próximo da fase mais soul dessa banda maravilhosa. 

A letra escrita pelo Rodrigo, é uma das melhores desse disco, em minha opinião, senão a melhor. É também anti-stablishment, mas com a angústia do homem massacrado pela falta de identidade própria, a buscar então a sua individualidade roubada pelo sistema.

"Não abaixe a cabeça, 

Um dia você vai ver, 

Um mendigo, um autista, 

Ou quem sabe um artista exorcista"... 


Ainda nesse ano de 2003, uma oportunidade surgiria para filmarmos um vídeoclip com essa música, mas isso eu conto mais para frente na cronologia, como já mencionei acima.

5) Nem Tudo é Razão (Rodrigo Hid)

Essa é a música mais amena do álbum, uma típica canção "Beatle", balada com delicioso sabor sessentista.  

"Nem Tudo é Razão", postado no YouTube por um fã da banda

O Link para ouvir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=q0RfoYVv5HA


Canção levada em sentido rítmico de "staccato" ao piano, e a sugerir elementos trintistas, lembra também o Queen em muitos aspectos, pelo fato dessa banda setentista também recorrer ao cancioneiro europeu trintista como inspiração, assim como os Beatles também o fizeram bastante (The Kinks, Small Faces, Family e tantas outras bandas britânicas sessentistas, também usaram dessa influência). 

Rodrigo a compôs sozinho, no piano em sua casa, e nos trouxe pronta, portanto. A nossa contribuição foi nos arranjos, mas o grande mérito de sua beleza incrível dessa peça, é dele, sem dúvida. Gosto muito da harmonia, da melodia lindíssima, da junção de partes e de um refrão sensacional que ele concebeu. 

 Os solos do Marcello à guitarra, são belíssimos, tanto no meio quanto na intervenção final que fecha a canção, e ambos, são muito parecidos com o estilo de Brian May. 

A minha contribuição para o arranjo, além da minha linha de baixo, foi a criação dos backing vocals, e são exagerados mesmo, cheios de "la la las" e "uh uh uhs", a desenhar longos espaços abaixo da voz principal do Rodrigo, e muito se assemelham aos vocais do Queen em seus primeiros discos. Apesar de estarem prejudicados pela produção precária do áudio desse disco, se o ouvinte escutar com fone de ouvido e a prestar atenção só neles, eles são notados, afinal.

Adoro a intervenção do órgão Hammond junto ao piano.e viva Billy Preston! 

Usei o baixo Fender Jazz Bass, para buscar o máximo do som grave e aveludado desse instrumento e assim ornar corretamente com o espírito da canção. 

A letra que o Rodrigo criou é muito poética. É influenciada pelas composições do Paul McCartney, ao extremo, mas igualmente contém o seu "quê" do "Clube da Esquina" de Milton Nascimento & Cia.

"Três e vinte da manhã 

Eu pensando em oferecer 

Minha alma ao luar

Me desejo ao seu olhar"

6) Terra de Minerais (Marcello Schevano)

Quando o Marcello nos mostrou o esboço dessa música que havia composto ao piano, logo notamos que seria a nova peça progressiva da nossa banda e que seguiria o destino de: "Sendo o Tudo e o Nada", apresentada no disco anterior, "Chronophagia".

"Terra de Minerais postada no YouTube por um fã da banda

Eis o Link para assistir no YouTube:
https://www.youtube.com/watch?v=t0MUjpKg6Zw


Uma típica suíte Prog-Rock, a demarcar várias partes com climas diversos, teve que ter um arranjo à altura para explorar bem as suas múltiplas possibilidades sonoras. 

A parte "A"dessa canção lembra-me bastante o trabalho do "Focus" da sua fase dos LP's "Moving Waves" e "Hamburguer Concerto". 

Um piano balançado e com a sua harmonia inicial a sugerir o efeito "sus", eis que abriu brecha para um baixo vigoroso em frase construída em "looping", com um certo sabor da Soul Music. Nesse trecho, me inspirei bastante no som do Bert Ruiter, do Focus.

A guitarra do Rodrigo trabalha uma frase melódica que costura toda essa base feita por Marcello, eu mesmo e Junior. É melódica de certa forma, mas recorre em alguns momentos à dissonância de Robert Fripp nos seus bons tempos com o King Crimson, e eu gosto muito desse efeito que ele criou. 

Há um vocal feito por nós três da linha de frente, mas só entoado, sem letra. Lembra muito o estilo do Focus, mas também denota a influência d'O Terço.

Na parte "B", uma desdobrada no ritmo dá margem à um interlúdio muito a ver com o "Pink Floyd". Rodrigo passeia no slide, e é como se estivéssemos nas ruínas de Pompeia, a tocamos a música: "Echoes", dessa banda icônica. 

Pouca gente nota, mas logo no início da desdobrada, existe uma intervenção delicada e sensacional do Marcello à flauta. Ele faz uma melodia muito linda, que é puro "Genesis" em sua concepção. Ela é  muito rápida o suficiente para Peter Gabriel sair de cena e trocar de fantasia, se fosse o caso. Finalmente a parte cantada chega, e Rodrigo e Marcello cantam um trecho cada um.

Surge uma parte "C", que lembra a glória do The Who, e que proporciona que o Marcelo inicie um fraseado em looping de difícil execução, e Rodrigo brilha muito com um solo espetacular na guitarra.

Volta-se à parte "A" para o encerramento, com os vocais entoados e uma convenção de precisão a lhe conferir um final apoteótico, e que ao vivo, costumava arrancar gritos da plateia em nossos shows realizados entre 2003 e 2004. 

Essa canção se chamava: "Aclimação", logo que o Marcello a compôs, e isso por que fazia alusão à uma série de ruas desse bairro da zona sul de São Paulo, que apresentam nomes de pedras preciosas ("Safira", "Topázio", "Rubi"; "Esmeralda"). Também contém menção de ruas com nomes de planetas que existem no bairro ("Saturno" e "Urano"). Foi uma espécie de homenagem ao bairro, pelo fato de que eu (Luiz), Rolando Castello Junior e Rodrigo Hid morarmos ali nessa época, e o próprio, Marcello, em um bairro vizinho, a Chácara Klabin. Mas logo a seguir, nós resolvemos não personalizá-la tanto assim, e dessa forma o rebatizamos como: "Terra de Minerais".

Luiz Domingues em 2001, a gravar esse álbum, ".ComPacto", com o Fender Precision na mão. Click, acervo e cortesia de Samuel Wagner

Usei o baixo Fender Precision, e além do Bert Ruiter já citado, a minha inspiração foi no som clássico do Roger Waters no Pink Floyd, quando este adotou o Fender Precision como padrão nos discos, e ao vivo com essa banda. Logicamente que eu fui buscar essa sonoridade "Meddle/"The Dark Side of the Moon"/"Wish Were You Here", criada por esse artista.

7) Tooginger (Rolando Castello Junior)

Como fizera no álbum anterior, ao aproveitar a estada no estúdio, o Rolando Castello Junior pediu ao técnico para apertar os botões: "Play e Rec" na máquina, e gravou um solo de improviso. Depois, houve tratamento com algum efeito de paramétrico na mixagem, logicamente. Neste caso, a sua criação começa com o efeito do "fade in", e encerra-se no "fade out". 

O nome da peça em questão é uma brincadeira, mas em tom de homenagem ao mestre, Ginger Baker, baterista icônico dos anos 1960-1970 (Graham Bond Organization, Cream, Blind Faith, Ginger Baker Airforce, Baker Gurvitz Army). 

Ouço esse disco hoje em dia com esse apanhado de ótimas canções, muito bons arranjos e a performance de uma banda tão azeitada, que eu só lamento que não tenhamos tido condições de gravá-lo em melhores condições sonoras. Em um estúdio de alto nível, no Brasil mesmo, já teríamos tido um resultado matador, mas na realidade, ele merecia ter sido gravado em um estúdio de primeiro mundo da Europa ou Estados Unidos.  

Paciência, não foi assim que aconteceu, e só nos cabe relevar as dificuldades com as quais o concebemos tecnicamente, e exaltar o seu alto padrão artístico.
Neste caso, eu recuo à minha infância, e lembro-me de meu avô materno a ouvir velhos discos de 78 rotações em sua jurássica rádio-vitrola móvel, a conter óperas, sinfonias & concertos eruditos, e infelizmente em meio aquela tecnologia tosca, com os chiados inevitáveis proporcionados por discos de vinil muito antigos e a obscurecer a música. Quando eu lhe perguntava se tal incidência de ruídos indesejáveis não o incomodava, ele me respondia: -"Só ouço a música, nem percebo o chiado"...

Essa sábia lição adquirida de meu querido "vô" Edson, serviu-me agora para pensar no CD ".ComPacto" da mesma forma: só ouço a música...
Continua...

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