quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Autobiografia na Música - Patrulha do Espaço - Capítulo 240 - Por Luiz Domingues

Como eu já disse anteriormente, nós nutrimos muitas expectativas para 2003, mas sobretudo, a mais premente foi a perspectiva concreta de lançarmos enfim um novo disco. 

Tal lançamento seria um importante passo para marcar a "Era Chonophágica" da banda, ao fincar de vez a bandeira desfraldada com o CD Chronophagia, com todo o seu bojo de ideias, ideais & princípios. 

E nesse ponto, no início de 2003, tivemos os meios financeiros para empreender tal ação e foi o que fizemos com contundência, visto que não tínhamos shows programados para os meses de janeiro e fevereiro, a não ser que surgissem convites inesperados.

Como o poeta/web designer, Luiz "Barata" Cichetto estava a viajar conosco como road manager da nossa comitiva, foi automático que ele se adiantasse e tratasse da parte gráfica do disco, release e daí começasse a reformular o site da banda, outrora criado pelo jovem, Marcelo Dorota.  

Sobre a ilustração da capa, seria muito natural que procurássemos novamente o excepcional ilustrador/artista plástico, Johnny Adriani, que compusera a capa do CD Chronophagia. E certamente que ele gostaria de atuar mais uma vez, mas como sempre, a verba foi curta e não poderíamos fazer mais essa despesa, infelizmente. A solução para esse caso, foi recorrer a um arranjo quase gratuito, que caíra em nossas mãos, de forma fortuita. 

Explico: um vizinho do Rodrigo, que era músico e desenhista, o conhecia o Rodrigo há anos e sabia desde sempre que ele era músico. E por conta desse desenhista também o ser (era um percussionista), eis que ele ofereceu-se para fazer um logotipo para a nossa banda, sem compromisso. O seu nome era: Marcos Mündell. 

Como é sabido de todos, a Patrulha do Espaço usava um logotipo lindo ao final dos anos setenta e início dos oitenta, que fazia alusão ao seu próprio nome, que evocava uma nave espacial.

Porém, nos anos noventa, o Junior começou a usar um outro, estilizado com dragões e que detinha um ranço de Heavy-Metal, que eu particularmente detestava, apesar de achar a ilustração bonita e curiosamente, tratava-se de um trabalho do Johnny Adriani, portanto, tecnicamente a falar, claro que era bem feito. 

Todavia, a insinuação sobre o "Heavy-Metal" me incomodava, e lógico que a considerava antagônica aos valores que a Era Chronophágica da banda propunha. Portanto, o logotipo feito pelo Marcos Mündell, pareceu ser uma solução boa para equacionar esse problema da ilustração principal.

Tratou-se de um escudo, um brasão para melhor exprimir, com matiz prateada e a se revelar muito bonito, ao evocar em sua aura aristocrática ao título da banda. Em seu núcleo, há uma insinuação livre sobre o átomo, e na parte de cima, uma águia de asas abertas e pousada sobre o brasão. 

Embaixo, vê-se a ponta das garras da mesma ave. A águia em questão, era muito mais simpática que o dragãozinho metaleiro, disso eu não tive dúvida e na minha percepção, remetia muito mais ao shamanismo indígena, ao fazer-me lembrar de bandas como o Grand Funk Railroad, e obviamente o Eagles, pelo tema.

Sobre as fotos, a nossa amiga, a boa fotógrafa, Ana Fuccia, propôs uma sessão de estúdio com o uso de preto e branco e a banda a denotar uma atitude sóbria, com nós os membros a vestirmos roupas pretas. Todos apreciaram a concepção e ao pensar no conceito da capa, fazia sentido, é claro, mas particularmente, mais uma vez isso me chateara, pois se opunha aos ideais, mais a se coadunar com conceitos mais coadunados com bandas de Heavy-Metal oitentistas, naturalmente. 

Voto vencido, claro que eu não criei empecilhos e participei do processo todo, com profissionalismo, mas sem apreciar muito a opção, é claro.

A foto da contracapa ficou muito boa, pela qualidade da Ana Fuccia como fotógrafa, e dessa forma, o efeito de luz & sombra, mais os contrastes inerentes que a opção pelo preto & branco sempre proporcionaria. Porém, o grande trunfo visual desse álbum, foi a ideia de lançá-lo sob um formato "retrô", aí sim a fazer aos jus aos ideais "Chronophágicos", eu diria.

Batizado como: ".ComPacto", o disco abriu caminho para que ao invés de lançá-lo em uma capa de CD tradicional, a opção dele ser embalado através de uma capa de antigo compacto de vinil, ganhasse força e quando nós cotamos os preços para tal empreitada, e verificamos que não era diferente do custo de um CD convencional. 

Sobre o nome do álbum, eu também acho uma ideia muito criativa, e também dentro da proposta do álbum anterior, quando alardeamos o conceito do ato de se alimentar do tempo, ao estabelecermos a clara alusão que éramos uma banda dos anos 2000, mas fortemente influenciada pela estética das décadas de sessenta e setenta do século anterior. 

Portanto, ao falar de "ponto Com" (.Com), aludíamos ao presente tecnológico, a força da internet cada dia mais presente na vida das pessoas, e por outro lado, a junção com "pacto" a formar a palavra "Compacto", fez a conexão com o passado que admirávamos e onde buscávamos a nossa inspiração artística para construir o presente.

E houve uma terceira sutileza nesse título: "Com Pacto", que entendido separadamente, denotava a questão do princípio assumido pela banda, como "pacto", literalmente a se falar.

Em suma, se faltou colorido na capa e sobretudo em nossa foto com a banda a posar na contracapa (o P&B quase nos colocou sob uma posição lúgubre), todo o conceito esteve salvaguardado no formato do invólucro do disco, mas sobretudo no seu título, a conter três mensagens subliminares implícitas. 

Para se confeccionar a capa na gráfica, deu bastante trabalho. Foi preciso elaborar uma "faca" (que é o jargão dos gráficos para designar um molde especial para fazer o recorte do papelão), e com a derrocada do vinil desde os anos 1980, já quase não se achava uma gráfica disposta a fazer isso. Com pesquisa e uma perda de tempo inevitável, acabamos por descobrir que uma gráfica que ainda funcionava nas dependências da antiga sede da gravadora Continental, estava em atividade, mas nessa época, 99% focada em editar livros e revistas, naturalmente, além de folhinhas de calendário, cartões de visita etc.

Foram muitas visitas ao estabelecimento e que foi um tanto quanto melancólico, devo acrescentar, por que ali era um prédio enorme e que décadas atrás mantinha uma atividade alucinante, e nesse ponto parecia um edifício abandonado, com poucos setores ainda conservados, entre elas a gráfica a funcionar um galpão muito velho e decadente. 

Enfim, o importante foi que conseguimos o nosso intento e eu acho que foi uma boa conquista. pelo efeito que causou entre fãs e jornalistas, embora tenhamos tido problemas com muitos lojistas que reclamaram do formato da capa, pois estes não tinham mais prateleiras adequadas para expor discos de vinil, ainda mais compactos.

Sobre o encarte, o Luiz "Barata" Cichetto cuidou de toda a parte de do lay-out e o texto foi escrito pelo Rolando Castello Junior. Esse foi um dos raros discos da minha vida em que eu contribui muito pouco ou mesmo nada com a parte de texto do encarte. 

O disco foi prensado normalmente em fábrica de CD, mas nos foi entregue em pino, já que contratamos o serviço sem parte gráfica. A ideia da capa, não usual, fez com que por incrível que pareça, nós economizássemos, visto que a despesa pela capa estilizada ficou mais barata do que a capa tradicional vendida em pacote por indústrias que prensam CD's e oferecem o negócio casado aos seus clientes.

Sobre o encarte, tivemos a frustração de não terem sido disponibilizadas as letras das canções no disco anterior e nesse caso,  nós quisemos corrigir isso. Entretanto, com verba ainda menor, o encarte ficara bem mais simples, em preto e branco, apenas com texto e uma ilustração (bonita por sinal), de um antigo disco de vinil, a carregar consigo, uma bonita alusão ao passado.
Então, a solução foi produzir um encarte muito simples, como cópia de xerox mesmo e bancado por um patrocinador pontual que angariamos a posteriori, já com a capa e o disco em mãos.

Esse processo todo foi longo, consumiu-nos cerca de cinquenta dias, portanto, os meses de janeiro e fevereiro de 2003, foram gastos com essa produção e também com a produção do show de lançamento, mas essa é uma história que eu vou pormenorizar a seguir.
Continua...

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